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Fulano comprou; Beltrano vendeu. E o Quico?

Na tentativa de copiar os outros, mais fácil você acabar sendo operado

O bilionário Warren Buffett, um dos investidores mais admirados e seguidos por pessoas físicas no mercado | Foto: Chip Somodevilla/GettyImages (Chip Somodevilla/Staff/Getty Images)

O bilionário Warren Buffett, um dos investidores mais admirados e seguidos por pessoas físicas no mercado | Foto: Chip Somodevilla/GettyImages (Chip Somodevilla/Staff/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2022 às 18h17.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2022 às 19h38.

Por Ricardo Schweitzer*

De tempos em tempos, o movimento de algum investidor vira manchete. Seja por conta das comunicações regulamentares de aquisição de participação relevante — que acabam “denunciando” posições que, provavelmente, vinham sendo pacientemente montadas há bastante tempo —, seja pela manifestação pública espontânea de opiniões sobre isso ou aquilo.

Ouvir os outros é sempre bom. A questão, meu caro/minha cara, é o que você faz com a informação que chega a você.

Alguns vão atrás dos argumentos, dos racionais, dos motivadores; usarão os fatos como “sinais” de que algo merece ser estudado com atenção — e isso, francamente, é muito bom.

Mas outros preferirão o que parece o caminho mais fácil: se Fulano comprou, então eu também vou comprar; se Beltrano vendeu, então eu também vou vender. A discussão de ideias dá lugar a uma discussão de pessoas que, francamente, não faz sentido nenhum. É uma monumental perda de tempo, energia e — ao tempo certo — dinheiro.

Essa tal estratégia da rêmora é a versão adulta das crianças que copiavam as respostas do coleguinha de escola: se eu tenho de quem copiar, eu não preciso me esforçar em nada. É um atalho bobo que, em troca do potencial de ganhar alguns trocados, sacrifica o mais importante de tudo: a oportunidade de aprender a pensar com a própria cabeça e se tornar, efetivamente, autônomo nas próprias decisões.

Nunca falta quem se disponha a comentar o que o Buffett fez ou deixou de fazer. A ação que o Barsi está comprando. A tese na qual a Squadra está short. Já o investimento de tempo, energia e disposição para dissecar os porquês, deixemos para outra hora.

Fala-se amplamente sobre o que Fulano faz ou deixa de fazer pura e simplesmente porque há audiência: eu mesmo poderia aproveitar a semelhança com o Leão Lobo e começar um programa de fofocas de mercado, que certamente teria formidável audiência.

A questão é: o que estamos aprendendo com isso? A quem interessa esse “BBB” de investidores?

Já o disse em outras ocasiões, mas repito: investir é uma atividade individual. Não é um esporte coletivo e, muito menos, uma atividade cooperativa. Investidores sérios, em sua maioria, trabalham em silêncio e só divulgam o que estão fazendo ou fizeram quando lhes convêm.

Um gestor tece loas às ações que têm em carteira na expectativa de sua opinião influenciar a de outros participantes do mercado. Outro, que se vê short em uma tese na qual enxerga dificuldades, publica seus achados para submetê-los ao escrutínio público, que, caso valide seus argumentos, deve resultar em ganho para sua estratégia.

Um analista compartilha seus achados visando atrair novos clientes para seus serviços. Um assessor comenta o mercado no afã de, ao ser percebido como um sujeito bem conectado, ampliar sua carteira de clientes. O influenciador produz conteúdo para construir autoridade e monetizar mediante publicidade, infoprodutos etc.

Ninguém, absolutamente ninguém, faz o que faz de graça. Eu não escrevo estes artigos de graça — eles visam ampliar meu alcance junto a um público que me interessa.

Quando não convém, entretanto, a postura de todos os participantes é outra: são raríssimos os investidores que falam a respeito das posições que lhes renderam perdas (e todos as têm, aos montes, e é normal que assim seja). Os gestores desistem de teses sem prestar maiores esclarecimentos (e nem precisariam, pois não são pagos para se explicar).

Analistas jogam para debaixo do tapete resultados ruins e enaltecem acertos (nisso, confesso, sempre fui péssimo: eu sigo falando sobre o que deu errado abertamente…). E por aí vai.

Fora que a informação é frequentemente incompleta, recortada da maneira que convém à transmissão da mensagem: fala-se maravilhas desta ou daquela empresa depois de já ter montado a posição completa. Anuncia-se alguma novidade quando convém ao atingimento de algum outro objetivo, por causa da visibilidade que o feito traz.

Em tempos de fórmula de lançamento, tudo é parte de uma estratégia para vender algo — seja um produto, seja um serviço, seja uma ideia cuja compra convém a quem a oferece.

Não há mal nenhum nisso. Mas há mal na interpretação por vezes rasa de quem recebe a informação. O risco é o de sempre: acabar sendo operado, comprando o que o outro está, na verdade, vendendo; ou se vendo no escuro com algo que fez sem saber ao certo o porquê nem o próximo passo.

Se o mercado é um grande debate de ideias, participe efetivamente do debate. Não seja mais uma maria vai com as outras que nem sabe ao certo o que está fazendo. São elas, tipicamente, que acabam pagando a conta.

Epílogo: um grande investidor anunciou que comprou mais ações de uma empresa altamente controversa. Um pouco de conta basta para concluir que, mesmo após tal aquisição, aquela empresa representa um percentual ínfimo do seu portfólio total. Já quem recebe a mensagem deduz que, se Fulano comprou, é melhor colocar 30%, 40%, 50% do patrimônio naquilo. O final da história é bem óbvio…

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. Escreve a cada duas semanas na EXAME Invest.

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