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Em tempos de crise, Atalaya cria fundo para gerar alfa descolado do macro

Fundada por ex-gestores da JGP, Santander e Citigroup, a gestora monoproduto acaba de abrir sua primeira janela de captação para o público

 (Getty/Getty Images)

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Paula Barra

Publicado em 4 de outubro de 2021 às 06h20.

Última atualização em 9 de janeiro de 2023 às 12h35.

A Atalaya Capital, fundada por ex-executivos da JGP, Santander e Citigroup, acaba de abrir sua primeira janela de captação para o público, com um objetivo ousado. Entregar um retorno acima de 15% ao ano aos cotistas, com uma volatilidade controlada, em um momento em que o principal índice de ações da Bolsa, o Ibovespa, marca queda de quase 7% nos primeiros nove meses de 2021.  

Até então, o único fundo da casa – o Atalaya Absoluto – possuía apenas os recursos investidos pelos sócios, em torno de 30 milhões de reais. "Optamos pelo caminho contrário. Primeiro ter uma excelência total dos processos e equipe para, depois, abrir para o mercado", disse Pedro Medeiros, que liderou junto com Luciano Brandão a criação da gestora, em entrevista à EXAME Invest

Medeiros tem 18 anos de experiência em análise de empresas, com passagens por UBS, Pactual e Citigroup. Já Brandão fez parte da elite da tesouraria do Santander, à época, comandada por Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central. O executivo trabalhou também com André Jakurski na JGP Asset Management e foi chefe de investimentos da Nomura Asset Management em Londres. 

Até o fim de setembro, o fundo da Atalaya registrava retorno de 4,1% no ano, superior à queda de 6,6% do Ibovespa e 163% acima do CDI.   

Flexibilidade para operar em diferentes mercados

Para mitigar grandes oscilações nos preços, o fundo tem flexibilidade para acessar diferentes mercados, como os de juros, câmbio, internacional e derivativos. "Vamos buscar a maior parte da performance em renda variável, mas com a capacidade de usar mecanismos de proteção em outras classes de ativos", destacou Medeiros.

Tal abordagem permitiu que o Atalaya segurasse parte da derrapada do índice nos últimos meses. Em agosto, subiu 2,1%, versus uma queda de 2,5% do Ibovespa. Em setembro, recuou 4,6%, contra baixa de 6,6% do índice.  

O portfólio é composto por 15 ações, além da parte dedicada a proteções.

Para identificar as oportunidades, a gestora une análise micro com abordagem quantitativa.

O objetivo é buscar ativos com possibilidade de retorno acima da média do mercado e que andem de forma independente do cenário macroeconômico e político.

"Somos muito focados em geração de alfa, ou seja, em buscar o maior retorno ajustado pelo risco", diz Medeiros. Isso passa por construir uma carteira diversificada em temas não correlacionados, que tenham alto potencial de valorização e que estejam associados a seguros para momentos adversos, explica.

A seleção das ações

Para encontrar as oportunidades, a gestora olha para seis grandes temas. São eles:

  • 1) Ligação à capacidade do país em exportar serviços com qualidade mundial:

Medeiros usa como exemplo a empresa argentina Globant. "Uma oportunidade de que participamos lá atrás e que multiplicou por mais de 15 vezes o valor. Ela basicamente fornecia desenvolvedores de softwares para grandes multinacionais e se tornou uma empresa de mais de 16.000 funcionários ao redor da América Latina."

  • 2) Inovação, aliada a forte entrega de valor ao cliente final:

"É um tema muito ligado ao que vem acontecendo com e-commerce e serviços financeiros, segmentos que cada vez mais se entrelaçam. Essas empresas têm uma veia muito forte de entrega de valor, com oportunidade de criar disrupção em um mercado ainda muito concentrado."

  • 3) Consolidação e efeito de rede:

"O setor de saúde é um exemplo, há oportunidades enormes desse lado. Nos Estados Unidos, esse é o segmento com o segundo maior peso no índice S&P 500, enquanto no Brasil, embora esteja crescendo, ainda há poucas opções."

  • 4) Empresas com poder de repassar preços ao mercado:

"São companhias que tenham a capacidade de transmitir e elevar seus preços ao longo do tempo."

  • 5) ESG, que tem ganhado escala e prioridade na agenda nacional:

"Gostamos muito de olhar ESG na esfera ambiental e de governança. Empresas que possam passar por uma transformação, com potencial de alavancar a rentabilidade."

  • 6) Cíclicos, com maior presença no segmento de commodities.

"Olhamos muito para o que acreditamos que dará certo nos próximos cinco a dez anos. O modelo de negócio das empresas tem mudado de forma muito rápida. Para isso, temos uma interação muito próxima com vários fundos de venture capital [que investem em empresas com alto potencial de retorno mas também elevado risco]".

Segundo o sócio da Atalaya, como consequência da aceleração do ciclo de negócios das companhias, o mercado passará por momentos de volatilidade mais alta, mas que deverá trazer também oportunidades. "Daí a importância de podermos acessar diversos instrumentos de proteção, mas que também consigam capturar movimentos positivos de mercado."

Entre as apostas, Braskem, Petz e Blau

Entre os grandes acertos do fundo, Medeiros destacou as posições em Braskem (BRKM5)Petz (PETZ3) e Blau Farmacêutica (BLAU3).

No caso da Braskem, a ação combina o tema "cíclicos" com a tese de transformação. "Exemplifica bem que nosso foco é em ativos com alto potencial de rentabilidade e crescimento, mas que não necessariamente está em tecnologia."

"A Braskem é uma empresa cíclica, que conhecemos muito bem e que passou por muitos problemas no passado. Mas conseguimos identificar muito bem o momento de virada do ciclo e da empresa. Foi um dos melhores investimentos que fizemos neste ano", conta o gestor.

Em 2021, até o momento, a ação da petroquímica avança 158%, aparecendo como a segunda maior valorização do Ibovespa.

Segundo ele, outra aposta que tem se mostrado "muito bem sucedida" é na Petz, maior empresa do país em produtos e serviços para animais de estimação. "É um case controverso em termos de assimetria de valor. Muita gente torce o nariz quando olha o valuation da empresa, mas ela gera resultados. Além disso, está se expandindo em várias esferas com a compra da Zee.dog", afirma.

"O papel reúne tanto o tema de consolidação quanto o vetor de crescimento por efeito de rede", comentou. No ano, as ações avançam 25%.

Já a tese da Blau é um pouco diferente da média dos players do setor de saúde, que são muito voltados a planos e hospitais, explicou Medeiros.

"A Blau atua no nicho de medicamentos biológicos e oncológicos, com um canal muito forte de B2B. Não oferta diretamente para o varejo. A maior parte das vendas é feita diretamente a hospitais e clínicas", explica.

"A atuação da companhia está exposta ao crescimento do ambiente hospitalar, com produtos de altíssimos valor agregado em um segmento com grandes barreiras de entrada. Ou seja, tem uma rentabilidade muito alta combinada com alto crescimento."

Desde o seu IPO, em abril deste ano, até agora, os papéis da companhia acumulam valorização de 12%.

Curto prazo pede cautela

Para Medeiros, a correção do mercado nos últimos três meses pode ter aberto algumas oportunidades pontuais, mas o cenário ainda aponta para mais volatilidade.

"Na parte da nossa carteira destinada às 15 melhores ideias, estamos vendo várias assimetrias que estão se tornando muito interessantes. Estamos atuando, montando posições", disse o gestor.

Mas na parte destinada ao hedge (proteção), a casa aumentou o grau de cautela.

"Achamos que o beta (que corresponde ao movimento do mercado) vai continuar com uma oscilação alta. Como consequência, temos uma exposição um pouco maior ao mercado internacional neste momento, tanto do ponto de vista de ideias quanto de beta", afirmou.

Disponível agora nas principais plataformas de investimento, o fundo da Atalaya tem valor mínimo de entrada de 500 reais.

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