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Daniel Kahneman: a lição de um Nobel de Economia para investir melhor

Psicólogo ganhador do prêmio de 2002 participou de evento em São Paulo nesta terça-feira, 30

Daniel Kahneman (Foto/Getty Images)

Daniel Kahneman (Foto/Getty Images)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 30 de agosto de 2022 às 16h06.

Em um mundo que exige tomadas de decisões mais rápidas, ao mesmo tempo em que nos permite reunir mais informações, o que fazer para evitar erros e fazer escolhas mais acertadas?

Vencedor do Nobel da Economia de 2002, Daniel Kahneman apontou alguns caminhos em uma entrevista realizada nesta terça-feira, 30, no evento Data Driven Business, promovido pela Neoway, empresa de software adquirida no ano passado pela B3.

Considerado um dos pais das finanças comportamentais, ao lado de estudiosos como Richard Taler, outro ganhador do Nobel, Kahneman lançou no ano passado seu livro "Ruído: uma falha no julgamento humano". Para expor sua teoria que lhe rendeu o Nobel, escreveu também "Rápido e Devagar: duas formas de pensar".

A teoria de Kahneman conclui que não somos racionais, mas tampouco somos irracionais. "Não somos racionais do ponto de vista técnico. A mente humana tem essa limitação. Estamos sujeito a erros cumulativos de raciocínio".

Esses erros repetidos são os vieses, amplamente explorados em "Rápido e Devagar". É o caso, por exemplo, da aversão à perda, que faz com que a reação de indivíduos a perdas seja muito mais intensa do que a reação a ganhos. Outro viés explicado por Kahneman é o fato de que pessoas são mais avessas ao risco em escolhas que envolvam ganhos certos, enquanto são mais dispostas a correr riscos em escolhas que envolvem potenciais perdas. 

Além dos vieses, estamos sujeitos também a ruídos, diz o especialista.  "Onde existe julgamento, existe ruído". Ele ilustra o termo com um experimento feito com subscritores de uma seguradora: cada um deles foi chamado para avaliar um mesmo risco. A variação esperada de 10% nos resultados chegou, na verdade, a 50%. O ruído, portanto, é uma variabilidade indesejada, que tem um custo associado a ela.

"Neste exemplo, está claro que a seguradora tende a perder dinheiro por conta do ruído. O cliente também tende a perder, porque não quer ser submetido a essa loteria, e há sensação de injustiça no sistema".

Então, o que fazer para evitar tanto os vieses quanto os ruídos na tomada de decisão, inclusive na hora de investir? Simples: atrasar ao máximo a decisão intuitiva e rápida. E, antes de qualquer escolha, reunir o máximo de informações possíveis sobre o assunto, sistematizá-las e se certificar de compará-las e verificar se são independentes entre si. Esse processo faz parte do que Kahneman chama de "higiene da decisão".

"Se será possível investir melhor assim? É o melhor conselho que eu poderia dar!", concluiu, em coletiva.

A tecnologia pode ser uma solução para melhores decisões?

Se compararmos o uso de algoritmos com o julgamento humano, o algoritmo sempre será mais eficiente por conta da ausência de ruído, conclui Kahneman. Mas enquanto não há ruído no algoritmo, há o viés inserido nele pelo criador de dados.

Existem ainda outro problema. Para Kahneman, os algoritmos incentivam a polarização política. "Se você defende a pena de morte será exposto a mensagens acirradas e extremas porque o Google quer que você fique mais tempo em sua plataforma. É um efeito negativo para a sociedade. O algoritmo é uma solução parcial: me dá o que gosto, mas deveria incluir também um efeito aleatório, outras coisas para me deixar tentado a fazer e pensar diferente".

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Por isso, Kahneman defende uma maior transparência sobre como os algoritmos fazem suas recomendações. "Estamos cercados por eles e como consumidores sofremos sua influência". Contudo, no futuro, prevê que, no momento em que houver uma base de dados suficientemente ampla, a inteligência artificial tornará possível tomar decisões melhores.

 

 

 

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