Crise sanitária segue por tempo indeterminado, mas expectativa é de recuperação em 2021 com retomada das atividades econômicas e possível vacinação em massa (d3sign/Getty Images)
A pandemia causada pela covid-19 ditou as regras de 2020. Ainda é indeterminado o tempo que levaremos para controlar de fato a crise sanitária no país, mas as previsões do mercado para 2021 são mais otimistas. É o que mostra o Boletim Focus lançado na segunda-feira, 4.
A expectativa é de um crescimento do produto interno bruto (PIB) de 3,40% neste ano. Saberemos em março o resultado de 2020, mas a estimativa é de um recuo da economia brasileira de 4,36%.
A recuperação para 2021 leva em consideração diversos fatores, como a retomada das atividades econômicas no terceiro trimestre de 2020 e a expectativa de vacinação em massa. Veja, a seguir, outros pontos que devem influenciar a economia brasileira e o mercado financeiro.
O relatório 10 investimentos para fazer agora, do BTG Pactual digital, aponta que a posse do democrata Joe Biden nos Estados Unidos deve trazer um governo menos imprevisível e instável do que o de Donald Trump. Isso tende a beneficiar mercados emergentes como o Brasil.
Mesmo que Biden seja avesso a Jair Bolsonaro, a relação dos americanos com os chineses, por exemplo, tende a melhorar. Isso estimula a economia global e nos beneficia indiretamente, já que o Brasil é um dos maiores exportadores de matérias-primas do mundo.
Por falar em exportação, Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual digital, aponta que duas commodities importantes podem favorecer o Brasil em 2021: petróleo e minério de ferro. “Os bons ventos da economia global podem ajudar o Brasil a exportar mais, atrair mais fluxo estrangeiro para investimentos de curto e longo prazo”, afirma.
Por outro lado, o relatório do BTG destaca que o descumprimento do teto de gastos acende o sinal de alerta no mercado. Em 2021, o governo tem a árdua missão de dar conta do déficit do setor público, inflado pelos estímulos fiscais de 2020. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 1º de janeiro prevê uma meta fiscal com déficit primário de 247,12 bilhões de reais.
“A arrecadação tende a melhorar por conta da retomada global, do mercado doméstico mais ativo e sem os mesmos gastos extraordinários de 2020. Mas não está claro para o mercado financeiro se o governo e o Congresso vão conseguir convergir para uma agenda de reformas e de privatizações”, afirma Frasson.
A insegurança acerca das contas públicas pode barrar a recuperação da atividade no país. Segundo o relatório do BTG, é a disciplina ao teto de gastos e o avanço na agenda de reformas, principalmente tributária e administrativa, que podem gerar um retorno do crescimento do PIB e melhores condições para o financiamento da dívida pública.
No boletim Focus, a mediana das projeções para o dólar até o fim do ano aponta para 5 reais. Mas a questão fiscal é vista pelo mercado como o maior desafio para o real ganhar força em 2021. “Se atrairmos investimentos por meio do fluxo estrangeiro, teremos uma oferta maior de dólares na economia. Portanto, uma apreciação maior do real. Mas isso só será possível com a manutenção do teto de gastos e da credibilidade fiscal, algo que ainda está incerto”, afirma Frasson.
A expectativa do mercado é de uma inflação menos acelerada neste ano. A previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) é de 3,32%. No ano passado, a desvalorização do real e o auxílio emergencial aumentaram a pressão inflacionária, sentida principalmente na alta dos alimentos. Para 2021, essa pressão deve ceder.
Apesar da previsão de uma pressão inflacionária mais controlada neste ano, a Selic deve sofrer um aumento. Hoje, a taxa básica de juro da economia está na mínima histórica de 2% ao ano. Mas a expectativa do mercado é que ela chegue em 3% até o final de 2021.
Por mais que a Selic possa subir, ainda estaremos longe dos patamares vistos antes e que favoreciam a renda fixa no país. Quem quiser aumentar a rentabilidade de seus investimentos precisará sofisticar suas aplicações. A dica do relatório do BTG é pensar no longo prazo e estruturar uma carteira mais diversificada e balanceada, com parte dos recursos em renda variável.
Neste primeiro semestre, o economista do BTG indica que os desafios econômicos podem causar oscilações no mercado que não são interessantes para o investidor mais moderado. “Se você tiver uma boa carteira de renda fixa e quiser investir em renda variável, aposte em ativos com baixa volatilidade, como fundos que replicam o Índice Bovespa”, explica.
“Se chegarmos ao segundo semestre com credibilidade fiscal, é hora de montar uma carteira um pouco mais arriscada”, afirma. “Portanto, vale ficar atento ao noticiário político e fiscal no primeiro semestre porque esses pontos vão definir toda a precificação de ativos no Brasil”, diz Frasson.