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A noite é mais escura logo antes do amanhecer

Oportunidades já terão passado quando tudo estiver resolvido

Amanhecer em Santos, no litoral paulista | Foto: iStock (iStock/Thinkstock)

Amanhecer em Santos, no litoral paulista | Foto: iStock (iStock/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 4 de dezembro de 2021 às 09h59.

Por Ricardo Schweitzer*

Os últimos tempos têm se mostrado extremamente turbulentos para o investidor brasileiro. Escolha o mercado que quiser: renda fixa, bolsa, fundos imobiliários… salvo, talvez, caso você tenha comprado um Marea Turbo, 2021 caminha para o final marcado como um período complicado.

Uma análise retrospectiva recente não anima: primeiro mergulhamos, juntamente com o restante do mundo, em adversidades trazidas pela pandemia de Covid-19. Para além da tragédia humana, a pandemia impôs forte desaceleração da atividade econômica e, por causa de gargalos nas cadeias de suprimentos, provocou inflação em quase toda parte.

Num segundo momento, quando as coisas começaram a melhorar no mundo desenvolvido, vimo-nos absortos por nossos próprios problemas: enquanto o Banco Central se ocupava de conter a inflação -- e dá-lhe juros curtos --, da interação desarmônica de política e economia emergiram as preocupações com o panorama fiscal -- e dá-lhe juros longos. Atividade fraca, expectativas minguando…

E eis que a Ômicron entra em cena para, novamente, colocar o mundo em alerta. Ao que parece, estamos fadados a apanhar com o restante do mundo e seguir apanhando enquanto o resto do planeta tem trégua.

Não é fácil ser brasileiro. A rigor, nunca foi: uma análise desapaixonada de nossa história econômica mais que comprova que ventos favoráveis sempre foram, por aqui, exceção da exceção. Praticamente tudo o que já foi feito de bom nesse país se deu em meio a trancos e barrancos.

E é justamente aqui que jaz o ponto que quero destacar nestas linhas: enquanto investidores arrancam os cabelos com as idas e vindas do homebroker, as empresas seguem trabalhando. Produzindo, entregando, recebendo, reinvestindo, mapeando novas oportunidades. Preparando o amanhã.

Isso porque, basicamente, no Brasil se você esperar tudo estar bem para fazer alguma coisa... você acaba não fazendo absolutamente nada. Sempre tem um problema. E provavelmente sempre terá, porque é do jeito brasileiro de ser.

Não poderia ser mais verdadeiro, também, para nós, que estamos do outro lado investindo: tenho visto muitas pessoas adotando uma postura de cautela do gênero "vou esperar o cenário estar mais claro para voltar a investir".

Querido; querida: primeiro, o cenário nunca é completamente claro por definição. Segundo, a brasilidade cria complexidades adicionais das quais você só conseguiria fugir investindo na Suíça. Terceiro, no ano que vem tem eleição.

Vai por mim: você pode não precisar alocar todo o seu capital de uma só vez (nem recomendo que o faça), mas se deixar para agir somente quando tudo parecer resolvido, todas as oportunidades já terão desaparecido.

A noite é sempre mais escura logo antes do amanhecer -- e os preços não esperam o raiar do sol para reagirem. A eles basta, apenas, um tom ligeiramente menos escuro que o de antes…

Esta é, sim, uma ótima hora para ir às compras. Aos apreciadores de ações de dividendos, há yields gordos aos montes. À turma dos fundos imobiliários, gordos descontos sobre o patrimônio (que, não raro, precificam imóveis de primeira a preço de banana).

Mas faço especial destaque: ações de ótimas empresas negociando a preço de boas empresas. Roubando a analogia de um amigo: dá para comprar iPhone a preço de Samsung (esclareço que não gosto da Apple, mas reconheço a validade do paralelo).

E já que a analogia é boa… compartilho uma reflexão adicional: se tem iPhone a preço de Samsung, faz sentido insistir em Motorola com desconto?

Muitos de vocês -- e eu me incluo aqui -- têm parte da carteira destinada a empresas com desempenho inferior à média do setor, apostando que melhorias operacionais eventualmente levariam a um fechamento de desconto no valuation.

Independentemente da validade das teses -- tenho, por aqui, me esforçado em revalidar as que acompanho --, o questionamento é necessário: se as melhores empresas dos setores tiverem ficado baratas, faz sentido seguir apostando nos azarões?

Talvez, em alguns casos, valha cogitar trocas. Ou, no mínimo, redistribuir apostas.

Bom final de semana.

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. Escreve na EXAME Invest quinzenalmente.

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