Inteligência Artificial

Vaticano publica doutrina sobre IA, instrumento que traz 'desafios éticos'

Igreja Católica não esconde sua preocupação com "as implicações éticas do desenvolvimento tecnológico"

Documento aprovado pelo papa Francisco destaca oportunidades e desafios éticos do uso da IA na sociedade (Laurie Chamberlain/Getty Images)

Documento aprovado pelo papa Francisco destaca oportunidades e desafios éticos do uso da IA na sociedade (Laurie Chamberlain/Getty Images)

AFP
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Agência de notícias

Publicado em 28 de janeiro de 2025 às 10h59.

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O Vaticano publicou, nesta terça-feira, 28, sua doutrina sobre inteligência artificial (IA), um instrumento que, segundo a Santa Sé, oferece oportunidades, mas também acarreta grandes "desafios éticos" para a humanidade.

"Como qualquer produto da engenhosidade humana, a IA também pode ser direcionada para fins positivos ou negativos", alerta o documento, aprovado pelo papa Francisco e dirigido em particular a pais, professores, pastores e bispos.

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A IA é uma oportunidade desde que seu uso esteja sujeito a uma "avaliação moral", porque "a sombra do mal também se estende aqui", afirma a nota publicada pelos Dicastérios para a Doutrina da Fé e para a Cultura e a Educação.

A inteligência artificial pode ser usada "para ajudar as nações a buscar a paz e garantir a segurança", tem o potencial de "aumentar as competências e a produtividade" e apresenta "um enorme potencial em várias aplicações no campo médico", lista o Vaticano.

No campo da educação, se usada "com prudência", pode se tornar um "recurso valioso", pois melhora o acesso à educação e pode oferecer suporte personalizado e "respostas imediatas", observa.

"Implicações éticas"

No entanto, o Vaticano não esconde sua preocupação com "as implicações éticas do desenvolvimento tecnológico".

Cita, por exemplo, o "uso bélico da inteligência artificial", sobretudo de "sistemas de armas autônomas e letais", que o papa exigiu que fossem proibidos na cúpula do G7 em junho de 2024, na Itália.

Em termos de emprego, as abordagens atuais à tecnologia podem "desqualificar os trabalhadores, submetê-los à vigilância automatizada e relegá-los a tarefas rígidas e repetitivas", alerta.

Se for usada para substituir trabalhadores humanos em vez de acompanhá-los, há "um risco substancial de lucro desproporcional para alguns em detrimento do empobrecimento de muitos", observa o documento.

No campo educacional, segundo a Santa Sé, muitos programas "se limitam a dar respostas em vez de incentivar os alunos a encontrá-las sozinhos", o que é visto como um obstáculo à promoção do "pensamento crítico".

Notícias falsas

O documento também alerta para o "grave risco" da IA gerar conteúdo manipulado e difícil de distinguir dos dados reais. "As consequências de tais aberrações e informações falsas podem ser muito graves", alerta o Vaticano.

A Santa Sé também afirma que o fato de "a maior parte do poder sobre os principais aplicativos de IA estar concentrada nas mãos de algumas empresas poderosas levanta questões éticas significativas".

Estas empresas, acrescenta, sem nomeá-las, "têm a capacidade de exercer formas de controle tão sutis quanto invasivas, criando mecanismos de manipulação de consciências e do processo democrático".

Por isso, os autores do documento afirmam, em uma reflexão final, que é "decisivo" avaliar criticamente as diferentes aplicações da IA, nas suas diferentes áreas, para determinar se promovem ou não "a dignidade, a vocação humana e o bem comum".

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