Fundador da Trope
Publicado em 25 de junho de 2024 às 15h51.
A inteligência artificial é um assunto polêmico, que gera divergências de todos os lados, principalmente diante de sua utilização em vários segmentos, como por exemplo, o marketing. Será que é possível revolucionar esse setor a partir do uso consciente da ferramenta? Esse foi um dos tópicos que o painel ‘Redefining the Role of The Marketer in the Age of AI’ debateu no espaço do LinkedIn, durante o Cannes Lions, evento na Europa onde fiz uma cobertura presencial.
Quem vai vencer a corrida pela melhor IA?O painel foi moderado por Karin Kimbrough (economista chefe do LinkedIn), que estava acompanhada de três palestrantes: Yonca Dervisoglu (vice-presidente de marketing do Google), Dara Treseder (diretora de marketing da Autodesk) e Julia White (Diretora de marketing e soluções da SAP SE). A conversa começou com dados, pois de acordo com uma pesquisa realizada pelo LinkedIn, 75% dos profissionais usam inteligência artificial. Além disso, estão começando a adicionar a IA como habilidade em seus perfis.
Porém, fica a dúvida de como essas pessoas estão utilizando a inteligência artificial e se estão indo realmente por um caminho que traga resultados mais positivos do que negativos. A vice-presidente de marketing do Google compartilhou que sua equipe usa a ferramenta para gerar ativos criativos para campanhas publicitárias e o que antes era produzido em semanas, hoje fazem em segundos. Porém, ela defende que nós somos criativos e não a IA, que funciona como meio para aumentar a nossa criatividade.
Diante disso, vejo que a inteligência artificial pode ser funcional, atuando de forma a aumentar a produtividade. Precisamos pensar que há um aumento da cobrança por eficiência orçamentária, mas os times internos de marketing são pequenos para a volumetria de projetos a serem gerenciados, sem contar a cadeia de fornecedores terceiros que também precisam ser geridos. No entanto, isso gera medo nas pessoas e uma grande preocupação com a possibilidade da IA roubar seus empregos no futuro.
Segundo estudo realizado pela Page Interim, 3 em cada 4 profissionais brasileiros acreditam que a inteligência artificial substituirá os seus empregos. Cerca de 77% dos brasileiros respondentes acreditam que a IA afetará parcialmente os postos de trabalho na área em que atuam. Entendo a aflição, mas penso que a preocupação deveria ser outra: o quanto de fato as conversas que estão acontecendo no país sobre o tema estão servindo como ponte de acesso para capacitação das pessoas entrantes no mundo do trabalho?
Neste cenário, é muito importante que exista uma liderança responsável para conduzir os colaboradores diante da evolução contínua da tecnologia. Foi trazido na palestra que os líderes precisam ter curiosidade e normalizar a cultura do erro, para criarem um ambiente verdadeiramente seguro para que os testes possam ser feitos, de modo a estimular o contato com as ferramentas e com a inovação. Além disso, também é preciso adotar um senso de convicção, ter confiança e, principalmente, coragem para conseguir fazer essa implementação, que requer sim uma capacitação.
E como tudo isso se interliga com a Geração Z, pessoas de 13 a 27 anos? Essa geração é super conhecida como ‘nativos digitais’, justamente pela relação que possuem com a internet. Então é normal que queiram utilizar os recursos tecnológicos para benefício próprio. Dados da The Shift apontam que 48% da Geração Z acredita que a IA avançará em suas carreiras ao fornecer acesso mais rápido ao conhecimento. Mas para que isso aconteça, é preciso que a inteligência artificial seja utilizada de maneira responsável e que também seja acessível a todos.
No entanto, é comum vermos que parte da GenZ ainda sente um pouco de dificuldade em utilizar tecnologias e gadgets considerados fáceis no ponto de vista dos Millennials, como por exemplo: a impressora, o computador de torre, fórmulas de planilhas e outros. Existe um preciosismo em autoafirmar que como a Geração Z é extremamente conectada, sabem usar todos os recursos tecnológicos. Porém, essa geração domina e entende o formato vertical touchscreen e as redes sociais, não necessariamente possuindo um repertório técnico e que tenha aplicabilidade para o mundo corporativo.
Isso demonstra a necessidade de instruir as pessoas, principalmente da Geração Z, porque são o futuro da força de trabalho. Dara Treseder, diretora de Marketing da Autodesk, finalizou o painel com uma citação certeira: “Precisamos investir na próxima geração. Não se trata só do que estamos fazendo e da força de trabalho de hoje, mas trata-se também de garantir que todos na próxima geração tenham acesso. Queremos um mundo onde todos tenham acesso ao uso dessas ferramentas, porque é assim que realmente construímos um futuro melhor para todos”. E isso é a mais pura verdade, pois no final do dia, nós não queremos que apenas o Vale do Silício ou a Faria Lima saibam usar essas poderosas ferramentas de construção de novas realidades.