Receita da Cambricon saltou 500% no último ano (VCG/Getty Images)
Redator
Publicado em 17 de novembro de 2025 às 09h51.
As sanções dos Estados Unidos contra a China, adotadas desde pelo menos o primeiro governo Donald Trump (2017-2021) para conter o avanço da tecnologia local, tiveram um efeito colateral estratégico: criaram um vácuo de fornecimento de chips que impulsionou a Cambricon e transformaram seu fundador, Chen Tianshi, em um dos bilionários mais ricos e jovens do planeta.
Nos últimos 24 meses, a empresa de semicondutores focada em inteligência artificial viu suas ações dispararem mais de 765%, turbinadas pelo apoio do governo chinês e pela escalada da demanda interna.
A guinada ocorreu mesmo após a saída da Huawei (maior cliente da Cambricon até 2019, responsável por mais de 95% da receita e que decidiu apostar em tecnologias próprias) e apesar das sanções impostas pelo Departamento de Comércio dos EUA desde 2022, por suposto apoio à modernização militar chinesa.
Com a manutenção dos embargos norte-americanos às vendas de chips da Nvidia e da AMD, Pequim reagiu ordenando que empresas locais desenvolvessem ou comprassem soluções nacionais, o que beneficiou diretamente a Cambricon e também a própria Huawei.
Nessa conjuntura, a receita da empresa saltou 500% no último ano. Isso apesar das restrições externas e da concorrência na produção de chips com gigantes locais, como Huawei, Alibaba e Baidu. Todas essas últimas também favorecidas pelo avanço das políticas industriais voltadas à autossuficiência tecnológica.
Ainda é cedo para determinar se a Cambricon (ou qualquer outra empresa chinesa) conseguirá se tornar a “Nvidia local” ou se sua avaliação, estimada em US$ 80 bilhões em agosto deste ano, está inflada pelo apoio governamental. No entanto, ela registra lucro desde o trimestre encerrado em dezembro de 2024 e segue em expansão.
Nesse cenário, com 28% de participação na companhia, Chen acumula hoje US$ 22,5 bilhões em patrimônio, segundo o Bloomberg Billionaires Index, mais que dobrando sua fortuna em relação ao início de 2025. Assim, já é o terceiro mais rico do mundo com 40 anos ou menos, atrás apenas de Lukas Walton e Mark Mateschitz, herdeiros do Walmart e da Red Bull, respectivamente.
Chen, com PhD em ciência da computação pela Universidade de Ciência e Tecnologia da China, criou a Cambricon ao lado do irmão mais velho, Chen Yunji, em 2016. Ambos atuaram em projetos de pesquisa financiados pela Academia Chinesa de Ciências, base do projeto original da empresa.