Novas profissões impulsionadas pela IA: confiança, integração e gosto definirão o futuro do trabalho (Imagem criada por IA/Freepik)
Redação Exame
Publicado em 17 de junho de 2025 às 14h51.
Com o avanço das ferramentas de inteligência artificial, novas funções começam a surgir em ritmo acelerado no mercado de trabalho. Entre elas estão auditor de IA, integrador de sistemas automatizados, designer de experiências digitais e tradutor de algoritmos.
Essas profissões refletem uma mudança estrutural impulsionada pela adoção da IA em setores como tecnologia, serviços, saúde e educação. Segundo o Fórum Econômico Mundial, cerca de 9 milhões de empregos devem ser eliminados até 2030 por conta de tecnologias emergentes. No entanto, o mesmo estudo aponta a criação de 11 milhões de novas vagas, muitas ainda inexistentes.
Segundo Aneesh Raman, vice-presidente de oportunidades econômicas do LinkedIn, 70% das habilidades exigidas em empregos atuais vão mudar até o fim da década. As novas funções estão concentradas em três frentes: construção de confiança em sistemas autônomos, integração técnica entre IA e processos de negócios e decisões criativas baseadas em gosto e julgamento humano.
A consolidação da IA em empresas vai exigir profissionais que verifiquem e assumam responsabilidade sobre os resultados entregues pelas máquinas. Uma das funções previstas é a de auditor de IA, responsável por inspecionar modelos, validar decisões e garantir conformidade com exigências legais e éticas.
Outra frente é o trabalho de tradutores de IA, profissionais que explicam como os algoritmos funcionam para equipes de gestão e operação. Também devem crescer funções como coordenador de consistência, voltado à revisão de conteúdos e resultados produzidos por IA para assegurar padronização e confiabilidade.
Especialistas também apontam para a criação de cargos como diretor de confiança ou ética em IA, que estabelecem diretrizes para uso responsável da tecnologia em decisões críticas. Esses papéis são especialmente relevantes em setores regulados, como saúde, finanças e serviços jurídicos.
Empresas que adotam IA em escala precisarão de profissionais capazes de conectar as ferramentas com as necessidades operacionais e estratégicas. Surgem, assim, funções como integrador de IA e avaliador de modelos, que identificam quais soluções usar, quando aplicar e como medir os impactos.
Um exemplo já em prática é o da Khan Academy, que usa IA generativa para oferecer tutoria personalizada a estudantes. Segundo o fundador Sal Khan, só o monitoramento da performance dos modelos já exige dedicação constante, tarefa que pode ser atribuída a um avaliador de desempenho algorítmico.
Na indústria, a introdução de robôs e IA também está gerando novos empregos. Um estudo citado por Robert Seamans, professor da NYU, mostra que fábricas que adotam robótica não necessariamente cortam postos, ao contrário, costumam crescer mais rápido. O diferencial, segundo ele, está na presença de integradores locais especializados, capazes de adaptar as tecnologias ao chão de fábrica.
Mesmo com a popularização das ferramentas generativas, o julgamento humano sobre o que é relevante, coerente ou eficaz continuará sendo necessário — e valioso. Por isso, funções baseadas em “gosto” devem crescer.
Em vez de executar tarefas técnicas, os profissionais passarão a comandar processos criativos mediados por IA. Um exemplo é o de designer de produto com IA, que utiliza ferramentas para gerar protótipos e campanhas, mas decide quais ideias seguir, com base em senso estético e percepção de mercado.
Também devem surgir designers de mundo, profissionais que constroem universos narrativos para marcas, jogos ou campanhas publicitárias, e diretores de personalidade de IA, que ajustam o tom e o comportamento das inteligências artificiais usadas no contato com o público.
Essas funções poderão ser ocupadas por profissionais mais jovens, sem a necessidade de longos anos de experiência. Segundo Raman, do LinkedIn, a IA pode nivelar o conhecimento técnico e permitir que iniciantes assumam papéis criativos mais rapidamente, impulsionando a inovação dentro das organizações.
A transformação do mercado de trabalho provocada pela inteligência artificial não significa o fim das carreiras humanas, mas a redefinição de seus papéis. Profissionais que conseguirem unir responsabilidade, conhecimento técnico e visão criativa estarão em posição estratégica na nova economia.
Empresas, por sua vez, precisarão investir em formação, integração e governança de IA para que o avanço tecnológico traga ganhos sustentáveis, tanto em produtividade quanto em valor humano.