Repórter
Publicado em 12 de agosto de 2025 às 16h09.
Última atualização em 12 de agosto de 2025 às 16h16.
A cena é improvável: o navegador mais usado do planeta, com mais de 3,5 bilhões de usuários, pode mudar de dono pela primeira vez desde sua criação, em 2008. A proposta veio da Perplexity, startup de inteligência artificial avaliada em US$ 18 bilhões, que ofereceu US$ 34,5 bilhões para assumir o controle do Google Chrome — uma oferta ousada e fora da realidade, uma vez que está mais que o dobro acima do próprio valor de mercado da Perplexity.
O movimento acontece no meio de um processo antitruste histórico. Em 2024, a Justiça dos EUA decidiu que o Google monopolizou ilegalmente o mercado de buscas, principalmente ao fechar acordos para manter seu buscador como padrão em smartphones. Uma das medidas mais drásticas que o Departamento de Justiça considera é justamente obrigar a venda do Chrome.
Para o Google, o navegador é muito mais que uma porta de entrada para a web: é um elo direto com seu motor publicitário de US$ 2 trilhões, coletando dados e garantindo a preferência por seu buscador. Sem ele, a vantagem competitiva construída ao longo de duas décadas ficaria vulnerável. Sundar Pichai, CEO da empresa, já avisou que se opõe à ideia, argumentando que a venda prejudicaria a inovação e a segurança dos usuários.
A Perplexity não esconde a ambição. Criada em 2022, a empresa ganhou tração com um buscador de IA que responde perguntas em tempo real, cita fontes e combina dados de diferentes modelos, como GPT-5 e Claude 3.5. Hoje, reúne cerca de 30 milhões de usuários ativos por mês e fatura algo em torno de US$ 150 milhões por ano.
No mês passado, lançou o Comet, seu próprio navegador com IA, que resume páginas automaticamente, gerencia abas, responde dúvidas sobre o conteúdo aberto e executa tarefas como marcar reuniões ou finalizar compras online. Uma espécie de “sistema operacional cognitivo”, nas palavras do CEO Aravind Srinivas.
E ela não está sozinha nessa nova geração de navegadores agênticos — softwares que não apenas mostram sites, mas agem pelo usuário. A OpenAI, dona do ChatGPT, trabalha em um navegador que combina busca com automação e análise de páginas em tempo real. O Opera já incorporou agentes de IA diretamente na barra lateral, oferecendo resumos e criação de conteúdo dentro de qualquer site e até navegação automática com um navegador novo. Startups menores também exploram modelos híbridos, que equilibram processamento local para privacidade e nuvem para consultas mais complexas.
Se o Chrome trocar de mãos, o cenário de navegação pode mudar rápido. A Perplexity promete manter o Google como buscador padrão — mas com opção simples para trocar, algo que hoje ainda é burocrático para muitos usuários. Além disso, a compra poderia acelerar a integração de funções de IA no próprio navegador, reduzindo a dependência de extensões ou serviços externos.
Em um momento em que os navegadores deixam de ser apenas vitrines para a web e começam a atuar como assistentes ativos, a possível venda do Chrome é mais que uma disputa corporativa: é um ponto de virada sobre quem controla a porta de entrada da internet na era da IA.