Scott Galloway: professor de marketing da Stern School of Business da New York University (Jonathan Fickies/Getty Images)
Repórter
Publicado em 7 de fevereiro de 2024 às 16h15.
Última atualização em 8 de fevereiro de 2024 às 20h34.
O mais recente lançamento da Apple, o óculos de realidade aumentada Vision Pro, é "uma tecnologia à procura de um problema", nas palavras de Scott Galloway, o professor de marketing célebre da Stern School of Business da New York University.
Em entrevista na CEO Conference do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), Galloway descreveu o produto sensação do momento como uma das coisas mais estúpidas já inventadas: "Quando você usa um óculos desses, é uma maneira de dizer que você não quer que ninguém se aproxime de você". Com tais características, ele acredita que dispositivos assim enfrentarão sérias limitações para adoção em massa, relegando-os a aplicações de nicho.
Ainda assim, Vision Pro e seus concorrentes, como os óculos de metaverso capitaneado por Mark Zuckerberg, se juntarão com a inteligência artificial (IA) para um novo embate tecnológico. Ao centro, a concentração de capital e poder, a disseminação de desinformação e, de forma mais profunda, o impacto nas relações humanas. Galloway expressa preocupação com a possibilidade de que a IA intensifique uma "epidemia de solidão" entre os mais jovens, substituindo interações reais por relações digitais superficiais das gerações que nasceram imersas com as novas tecnologias.
O professor, conhecido por suas análises por vezes polêmicas, também não poupou críticas ao atual frenesi em torno da IA, questionando a sustentabilidade de sua valorização de mercado. "A economia foi marcada por um boom inspirado pela IA, concentrando ganhos significativos em um pequeno número de ações, o que reflete uma falta de robustez no mercado," explicou, referindo-se a empresas como Amazon, Alphabet, Meta, Nvidia, Tesla, Netflix e Microsoft, que juntas, aumentaram sua capitalização de mercado em três trilhões de dólares entre 2021 e 2023, majoritariamente impulsionadas pela IA.
Mas há um lado bom em desenvolver a IA. Galloway explorou o potencial transformador da IA em setores como saúde e educação. Ele visualiza um futuro onde a IA poderia revolucionar a forma como encaramos a saúde, mudando-a de uma abordagem reativa para uma abordagem proativa. Em suas palavras: "A IA pode transformar a saúde de uma indústria defensiva, na qual você busca assistência apenas quando está doente, para uma indústria ofensiva que analisa sua saúde, alimentação e estilo de vida diários, fornecendo recomendações personalizadas e preventivas."
Quanto à educação, Galloway reconheceu o papel da IA em fornecer uma entrada para aqueles que não têm acesso às instituições tradicionais de ensino. Ele destacou a capacidade da IA de oferecer educação personalizada em escala, nivelando o jogo para estudantes em diferentes contextos socioeconômicos. Galloway prevê uma era em que "a IA, com as possibilidades de acesso por dispositivos portáteis, poderia empurrar a educação para os confins das áreas mais pobres".
No entanto, Galloway também expressou preocupações sobre os desafios enfrentados pelo setor educacional, especialmente em relação à acessibilidade e à equidade. Ele criticou a tendência de algumas instituições de ensino superior de se posicionarem como marcas de luxo, limitando intencionalmente o acesso para aumentar seu prestígio e taxas de matrícula.
Sobre a economia global, as recentes transformações impulsionadas pelo avanço tecnológico podem ser positivas para Galloway. Sua visão é otimista sobre a possibilidade de as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, superarem suas diferenças para o benefício mútuo.
Ele também vê o Brasil desempenhando um papel crucial e observou que o Brasil compartilha um "otimismo cultural" com os Estados Unidos, um fator crucial para o sucesso em inovação e tecnologia.
"Os EUA e Brasil compartilham esse consenso de não serem tão rápidos em catastrofizar em torno da IA, e eles pensam que vai ser uma coisa boa," disse, destacando a abertura do Brasil às novas tecnologias e sua capacidade de adotá-las para impulsionar o crescimento.
Ele também apontou para o papel do Brasil como um modelo emergente de democracia, contrastando com as tendências preocupantes observadas em outras democracias ocidentais.
"Neste momento, o Brasil é mais robusto e forte do que os Estados Unidos," comentou Galloway, referindo-se à capacidade do Brasil de superar desafios políticos internos e manter uma estrutura democrática estável.