Repórter
Publicado em 6 de outubro de 2025 às 06h49.
A OpenAI, em colaboração com o designer britânico Jony Ive, trabalha em um novo dispositivo de inteligência artificial que promete ir além dos atuais assistentes de voz. Segundo o Financial Times, o aparelho está em estágio avançado de projeto, mas ainda enfrenta diversos desafios técnicos antes de chegar ao consumidor.
O dispositivo — ainda sem nome oficial — será do tamanho de um smartphone, mas não terá tela. A proposta é que o usuário interaja com ele por voz, microfone, alto-falante e sensores visuais, como câmeras. Ele poderá ser transportado no bolso ou deixado sobre superfícies como mesas e escrivaninhas.
A ideia central é oferecer uma interação constante com o assistente de IA, com uma personalidade bem definida, que saiba quando participar e quando silenciar. Fontes próximas ao projeto afirmaram ao FT que a intenção é criar algo “acessível, mas não intrusivo”, funcionando mais como um companheiro digital do que um robô utilitário. “É como ter um amigo que é um computador — mas não sua namorada esquisita de IA”, disse uma fonte ao FT.
O produto é o primeiro de uma possível família de dispositivos inteligentes que está sendo desenhada pela equipe da LoveFrom, estúdio fundado por Ive após sua saída da Apple. A OpenAI, liderada por Sam Altman, adquiriu a empresa io, de Ive, por US$ 6,5 bilhões em maio deste ano para viabilizar a expansão no setor de hardware.
A inspiração vem da vontade de ir além dos “smart speakers” convencionais, como os modelos da Amazon e do Google. O objetivo é criar uma experiência mais imersiva, natural e útil, superando limitações de assistentes como Alexa e Siri.
Mas para isso, a dupla precisa resolver uma série de obstáculos.
Um dos principais desafios é definir a “personalidade” do assistente.
A OpenAI quer evitar que o dispositivo seja muito formal ou muito bajulador. Também busca calibrar a frequência e o tom das interações para que ele não se torne cansativo ou invasivo. “Modelar a personalidade é algo difícil de equilibrar. Precisa ser útil, mas sem cair em loops de fala intermináveis”, disse uma fonte envolvida no projeto.
Além disso, o dispositivo deverá operar em modo sempre ativo, escutando e observando o ambiente ao longo do dia, o que levanta questões de privacidade. A empresa estuda formas de tornar a experiência segura para o usuário, mas ainda não há detalhes públicos sobre como dados sensíveis serão tratados.
Outro gargalo importante é a infraestrutura computacional necessária para rodar os modelos da OpenAI localmente. Segundo o Financial Times, a empresa já enfrenta dificuldades para atender à demanda do ChatGPT.
“Amazon tem o poder de processamento para o Alexa, e o Google tem para o Home — mas a OpenAI ainda precisa resolver essa questão antes de colocar um dispositivo nas mãos do público”, afirmou uma fonte próxima a Ive.
Desde a aquisição da io, a OpenAI tem recrutado ex-funcionários da Apple e de outras big techs para reforçar sua equipe de hardware. Segundo o FT, mais de 20 engenheiros e designers da antiga equipe de Ive estão envolvidos no projeto, além de profissionais vindos da Meta, que trabalhavam em dispositivos como óculos de realidade aumentada e o headset Quest.
O desenvolvimento do dispositivo também envolve parcerias com fabricantes asiáticos, como a empresa chinesa Luxshare, embora a montagem final possa ocorrer fora da China, segundo fontes próximas ao projeto.
Apesar dos entraves, a previsão inicial é que o novo gadget seja lançado no final de 2026 ou início de 2027. O projeto ainda não foi oficialmente anunciado pela OpenAI, e tanto a empresa quanto o estúdio de Jony Ive recusaram comentar os detalhes da reportagem.
Se confirmado, o dispositivo marcará a entrada definitiva da OpenAI no mercado de hardware, com ambição de transformar a relação entre humanos e máquinas.
A aposta é ousada: criar um assistente que ouve, observa, aprende — e sabe a hora certa de falar.