Inteligência Artificial

O que o primeiro MBA em inteligência artificial para negócios significa para o Brasil

Curso pioneiro mostra como a incorporação da IA pode potencializar o pensamento crítico e personalizar o aprendizado, contrariando previsões pessimistas

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 7 de outubro de 2024 às 11h49.

Última atualização em 7 de outubro de 2024 às 11h50.

No começo de 2023, lancei-me em um desafio inédito: criar o primeiro MBA em Inteligência Artificial para Negócios do Brasil, pela Faculdade Exame. Enquanto ouvia muitos professores dizendo que a inteligência artificial iria acabar com o pensamento crítico e tornar os estudantes preguiçosos, percebi que a única saída para a educação é incorporar a própria IA dentro do processo de aprendizagem, o que era ainda mais óbvio em se tratando de um curso de IA. O que eu descobri é que isso vale para qualquer assunto.

Desenvolver esse programa foi uma jornada de descobertas. Ao longo de semanas intensas, estruturei um currículo que não apenas ensinava sobre IA, mas também a utilizava como ferramenta de aprendizado. Por exemplo, atividades para estimular os alunos a usar o ChatGPT para elaborar estudos de caso, desenvolver projetos e criar soluções para problemas de negócios, promovendo uma aprendizagem prática e interativa.

Os alunos foram estimulados a elencar seus principais problemas e criar assistentes para ajudá-los a resolver, tornando o processo ainda mais personalizado e eficaz.

O resultado foi surpreendente: à medida que compreendiam as limitações da IA, sua criatividade florescia. Contrariando temores iniciais, o pensamento crítico não diminuiu; pelo contrário, foi estimulado pela necessidade constante de questionar e verificar as informações geradas pela IA.

A evolução deste MBA reflete uma tendência maior na educação, como evidenciado pela experiência do Professor Andrew Maynard, da Universidade do Estado do Arizona. Em uma entrevista recente, Maynard compartilhou insights fascinantes sobre a integração da IA na sala de aula:

"A partir de 2023, o ChatGPT parecia estar tomando o mundo, e as pessoas estavam andando por aí como galinhas sem cabeça, especialmente na academia e na educação", relatou Maynard. "Havia perguntas muito importantes sobre como nossos alunos usavam isso, como isso iria mudar a forma como ensinamos, mas também havia um senso de que nossos alunos teriam que saber como usar a inteligência artificial avançada nos trabalhos que eles ingressariam e nas vidas que viveriam."

Maynard descreveu como criou um programa de curso completo usando o ChatGPT. "Um dos aspectos que realmente nos concentramos no curso foram as limitações do sistema, simplesmente porque não podemos usá-lo efetivamente até entender as fronteiras com as quais estamos trabalhando", acrescentou Maynard. Esta abordagem, que também adotei no MBA da Faculdade Exame, provou-se fundamental para desenvolver nos alunos não apenas habilidades técnicas, mas também um senso crítico essencial.

O relatório "Shaping the Future of Learning: The Role of AI in Education 4.0", publicado recentemente pelo Fórum Econômico Mundial, confirma essa percepção. O documento explora o potencial da IA para beneficiar educadores, estudantes e professores, oferecendo uma perspectiva global sobre as tendências que Maynard e eu observamos em nossas respectivas instituições.

O relatório destaca a necessidade de modelos educacionais mais flexíveis e centrados no aluno, exatamente o que nossas experiências com IA na educação têm demonstrado na prática.

Como educadores e líderes em IA, nosso desafio agora é duplo: continuar inovando em nossas práticas educacionais e garantir que essas inovações sejam acessíveis e benéficas para um público amplo. A pergunta não é mais se devemos trazer a IA para a educação, mas como podemos integrá-la de forma ética e eficaz para preparar os estudantes para um futuro onde a colaboração entre humanos e máquinas será a norma.

A revolução da IA na educação está apenas começando. À medida que avançamos, cada sala de aula, cada curso online e cada interação educacional se torna um laboratório para o futuro da aprendizagem. Nesse contexto, o papel dos educadores é fundamental para orientar, mediar e garantir que as tecnologias sejam utilizadas de maneira que realmente beneficiem os alunos, reforçando a importância da contribuição humana no processo de aprendizagem.

Nossa responsabilidade é garantir que esse futuro seja inclusivo, ético e profundamente humano, enquanto abraçamos o potencial transformador da inteligência artificial.

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