Inteligência Artificial

O que livros como Fahrenheit 451 podem ensinar sobre o nosso futuro

Um mundo sem livros é possível? E sem pensamento crítico? A grande obra do norte-americano Ray Bradbury nos faz pensar sobre uma distopia não tão distópica assim

Fahrenheit 451: obra do norte-americano Ray Bradbury

Fahrenheit 451: obra do norte-americano Ray Bradbury

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 16 de janeiro de 2024 às 09h01.

Última atualização em 16 de janeiro de 2024 às 09h03.

Ganhei no natal o clássico “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury. Apesar de escrito em 1953, se relaciona profundamente com os desafios do nosso tempo. Foi uma das histórias que li mais rapidamente nos últimos anos, o que reforça uma hipótese de que demoro mais a ler no Kindle do que nos livros de papel, mas isso é tema para outra coluna.

Hoje quero compartilhar com você reflexões sobre este livro emblemático e traçar essa relação com nossa era digital. Postei no Youtube a versão completa dessa reflexão.

O Mundo de Bradbury e o Nosso

“Fahrenheit 451” apresenta um futuro onde os livros são proibidos e os bombeiros queimam qualquer exemplar encontrado. Este cenário distópico, onde o pensamento crítico é desencorajado, espelha de maneira alarmante aspectos do nosso mundo atual.

Estamos cada vez mais cercados por telas que, embora informativas e entretenedoras, muitas vezes nos afastam da reflexão profunda e séria. Não nos detemos para pensar, é tudo rápido, para fazer a gente produzir mais, mais rápido, otimização e eficiência a todo custo.

É irônico estar ao lado de uma estação de bombeiros enquanto escrevo sobre um livro onde bombeiros queimam livros.

A Sociedade e a Marginalização do Pensamento Crítico

A proibição dos livros em “Fahrenheit 451” não foi uma imposição autoritária, mas um reflexo do desejo da maioria. As pessoas escolheram entretenimentos rápidos e superficiais, marginalizando as profissões intelectuais e a reflexão crítica. O governo apenas transformou esse desejo em lei, democraticamente.

A mesma regra está escrita nos algoritmos dos TikToks, Instagrams e Googles mundo afora. Essas plataformas priorizam esse tipo de conteúdo. Só que conteúdos rápidos e de fácil consumo muitas vezes ofuscam discussões profundas e necessárias.

Como alguém profundamente envolvido com a inteligência artificial, reconheço o poder e o potencial desta tecnologia. No entanto, “Fahrenheit 451” me fez refletir sobre como os dados e as transmissões pessoais podem ser usados para moldar e até controlar comportamentos e pensamentos. A obra de Bradbury antecipa muitas das preocupações atuais sobre a inteligência artificial e o uso de tecnologias digitais.

A ficção científica, muitas vezes vista como uma exploração do futuro, é na verdade um reflexo do presente. Livros como “Fahrenheit 451” servem como críticas ao presente, alertando-nos sobre futuros distópicos possíveis baseados em nossas escolhas tecnológicas atuais.

Como profissional e entusiasta da AI, vejo a ficção científica, especialmente obras como “Fahrenheit 451”, como ferramentas essenciais para entender o presente e nos preparar para o futuro. Elas nos ajudam a expandir nosso repertório imaginativo em relação ao que pode acontecer, às oportunidades que podem surgir e às ameaças que devemos enfrentar.

Portanto, enquanto navegamos nesta nova era da inteligência artificial, as questões levantadas por Bradbury em “Fahrenheit 451” permanecem mais pertinentes do que nunca.

E a principal delas é: Como podemos usar a tecnologia de maneira responsável, garantindo que ela sirva para enriquecer, e não diminuir, nossa capacidade de pensar, questionar e sonhar?

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