Chief Artificial Intelligence Officer da Exame
Publicado em 29 de junho de 2025 às 10h18.
Na London Tech Week 2025 ficou claro que o cargo de Chief AI Officer passou do terreno experimental para o centro da estratégia corporativa. De acordo com o relatório “AI Priorities 2023”, da consultoria Foundry, 11% das empresas de médio e grande porte no mundo já contam com um CAIO, e 21% estavam recrutando alguém para a função no fim do ano passado.
No Brasil, o estudo “Generative AI Adoption Index 2025”, produzido pela AWS em parceria com a Access Partnership, mostrou que 56% das organizações já nomearam uma pessoa dedicada a inteligência artificial, embora apenas 28% tenham, de fato, uma estratégia madura para monetizar essas iniciativas.
Com esse pano de fundo sentei-me para conversar com Philippe Rambach, Chief AI Officer da Schneider Electric. Ele assumiu o posto em 2021, antes da enxurrada de modelos generativos, quando o conselho percebeu que os investimentos em dados precisavam começar a entregar retorno financeiro.
Rambach conta que começou criando um núcleo técnico robusto, depois desenvolveu uma plataforma única para todos os modelos e, por fim, formou squads que misturam cientistas de dados, engenheiros de produto e especialistas de negócio. “O segredo é garantir que a IA saia do laboratório e vire parte da rotina das equipes que geram receita”, diz.
Os resultados chamam atenção. Algoritmos de roteirização aumentaram em 13% o número de clientes atendidos pelos técnicos de campo, sem contratar gente nova. Nas centrais de suporte, assistentes generativos reduziram em até 30% o tempo médio de resposta. Em edifícios corporativos, controladores térmicos baseados em IA já proporcionam economia de cerca de 15% no consumo de energia.
Quando questionado sobre retorno sobre investimento, Rambach devolve com outra pergunta: “Alguém calcula ROI de e-mail hoje? IA seguirá o mesmo caminho, mas precisamos medir ganhos tangíveis agora para manter o ritmo de adoção”.
Para que a engrenagem funcione, o CAIO precisa combinar domínio do negócio, influência organizacional e base matemática. Na Schneider, todos os 135 mil funcionários passaram a fazer um treinamento obrigatório de IA, o que inclui aulas de engenharia de prompt e cursos na plataforma Coursera.
Segundo Rambach, educar a força de trabalho é tão importante quanto implementar tecnologia, porque a empresa não pode depender exclusivamente de um centro de excelência para identificar oportunidades.
A função também exige coordenação estreita com cargos como CIO e CDO. O CAIO olha para onde a IA destrava valor em toda a cadeia, enquanto o diretor de dados garante a qualidade dos registros e o diretor de tecnologia mantém a infraestrutura. Essa tríade, quando bem afinada, acelera a passagem de protótipos a produtos.
No horizonte há duas visões. Se a IA virar commodity, parte das atribuições pode migrar para outras diretorias. Se a curva de inovação continuar íngreme, o CAIO deve consolidar-se como figura permanente no C-suite, especialmente em setores intensivos em dados, como energia, agronegócio e serviços financeiros. No Brasil, onde reguladores já discutem um marco legal para IA, o executivo responsável pelo tema também será peça chave para equilibrar ética, compliance e competitividade.
Para os CEOs que ainda enxergam IA como experimento periférico, a mensagem de Londres foi direta. Sem liderança dedicada e metas claras, o risco não é apenas perder eficiência, mas ceder espaço para concorrentes que transformam algoritmos em faturamento. A hora de agir é agora, com estratégia, governança e, sobretudo, resultados que falem mais alto que o hype.
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