Inteligência Artificial

Nem por R$ 8,2 bilhões: como essa startup desafiou o império de Mark Zuckerberg

Nem mesmo um pacote de até US$ 1,5 bilhão convenceu Andrew Tulloch e os técnicos da Thinking Machines a deixarem a startup

Mark Zuckerberg: aposta bilionária em talentos da IA para acelerar a corrida pela superinteligência   (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Mark Zuckerberg: aposta bilionária em talentos da IA para acelerar a corrida pela superinteligência (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Publicado em 4 de agosto de 2025 às 10h56.

Última atualização em 4 de agosto de 2025 às 11h00.

A batalha pelas mentes mais brilhantes da inteligência artificial chegou a um novo patamar em 2025. Na ofensiva mais agressiva até o momento, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, tentou cooptar engenheiros e cientistas de empresas como OpenAI, Anthropic e, mais recentemente, da nova empreitada de Mira Murati, a Thinking Machines Lab.

Em um episódio emblemático, Zuckerberg chegou a oferecer até US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 8,2 bilhões na cotação atual) em um pacote de remuneração para convencer Andrew Tulloch, cofundador da Thinking Machines, a mudar de lado. Tulloch recusou — assim como todos os outros cerca de 50 funcionários abordados da startup fundada por Murati.

A investida da Meta começou após Murati rejeitar uma oferta de aquisição pela empresa. Com a recusa, Zuckerberg iniciou uma ofensiva direta aos integrantes da equipe, com promessas de salários astronômicos, bônus e ações. Segundo fontes próximas, os pacotes variavam entre US$ 200 milhões e US$ 1 bilhão por pessoa.

Nem um único integrante da startup aceitou as propostas. Murati, que comandou por anos a área técnica da OpenAI e ajudou a lançar o ChatGPT, fundou a Thinking Machines em fevereiro. Desde então, mais de 20 ex-colegas da OpenAI se juntaram a ela, incluindo o renomado pesquisador John Schulman. A empresa já levantou US$ 2 bilhões e promete lançar uma IA multimodal ainda neste ano.

A recusa coletiva chama atenção mesmo em um setor acostumado a cifras exorbitantes. Um dos poucos que cederam foi o jovem pesquisador Matt Deitke, cofundador da Vercept. Aos 24 anos, ele inicialmente recusou uma proposta de US$ 125 milhões da Meta. Zuckerberg então o procurou pessoalmente e dobrou a oferta para US$ 250 milhões — que ele aceitou.

No mesmo movimento, a Meta contratou Ruoming Pang, ex-chefe da divisão de modelos de IA da Apple. Pang teria aceitado um pacote superior a US$ 200 milhões, que inclui salário, bônus e ações. Outra aquisição importante foi Alexandr Wang, fundador da Scale AI, que migrou para liderar o superlaboratório da Meta após um acordo estimado em US$ 14,3 bilhões envolvendo sua antiga empresa.

'Não, obrigado'

Apesar das cifras recordes, a Meta obteve pouco sucesso com nomes ligados à OpenAI e à Anthropic. Pesquisadores como Tulloch e outros ligados à Thinking Machines rejeitaram valores bilionários por acreditarem na missão científica de suas startups.

Zuckerberg também teve pouca adesão de funcionários da Anthropic, fundada por Dario Amodei e avaliada em US$ 170 bilhões. Nenhum dos sete cofundadores deixou a empresa. Muitos deles compartilham laços de mais de uma década, desde os tempos do movimento effective altruism, e viveram juntos em São Francisco debatendo ética na IA.

Entre os que mais se protegem das investidas está Ilya Sutskever, ex-OpenAI e atual CEO da Safe Superintelligence (SSI). Sua startup, criada no ano anterior, não divulga publicamente os nomes dos integrantes — inclusive desaconselhando que mencionem a empresa em redes como o LinkedIn. Sutskever chegou a recusar uma proposta de compra feita por Zuckerberg no início do ano.

Quem aceitou: os nomes que disseram 'sim' a Zuckerberg

Apesar das recusas, a Meta conseguiu atrair alguns nomes de peso para sua iniciativa de superinteligência artificial.

Zuckerberg também atraiu Alexandr Wang, fundador da Scale AI, recentemente, para liderar a divisão de superinteligência da Meta. Wang fez a transição após um acordo bilionário envolvendo sua antiga empresa, estimado em US$ 14,3 bilhões. Desde junho, comanda a nova frente de pesquisa avançada da empresa, que busca desenvolver modelos com capacidade geral comparável à humana.

Estratégia ousada ou risco bilionário?

A ofensiva da Meta para montar sua divisão de Superintelligence Labs — com mais de US$ 1,4 bilhão em pacotes de remuneração — provocou reações divididas entre analistas e especialistas do setor. Para alguns, a estratégia é um passo necessário para a empresa reduzir a vantagem de concorrentes como OpenAI, Anthropic e Google DeepMind. Outros, no entanto, veem risco elevado e retorno ainda incerto.

Barton Crockett, da Rosenblatt Securities, questiona se os altos valores são justificáveis no curto prazo, ressaltando que apenas um número restrito de posições deve, de fato, alcançar cifras bilionárias. Gil Luria, do D.A. Davidson, argumenta que apenas infraestrutura não basta — é preciso montar a equipe certa para transformar a capacidade computacional em vantagem competitiva real.

Já Minda Smiley, analista da eMarketer, afirma que os executivos da Meta devem enfrentar questionamentos de investidores na próxima apresentação de resultados, especialmente após a reorientação estratégica da empresa e a redução de recursos aplicados no metaverso.

Na visão de lideranças do próprio setor de IA, o cenário é igualmente complexo. Demis Hassabis, CEO da DeepMind, considera as ações da Meta “racionais” para uma empresa que tenta alcançar o pelotão de frente, mas destaca que alinhamento de missão e cultura organizacional continuam sendo fatores decisivos para atrair e reter talentos.

Michael Dell, fundador da Dell, alerta para os efeitos colaterais internos. Para ele, pacotes bilionários para recém-chegados podem gerar ressentimento entre funcionários antigos e desviar o foco das metas de produto. Já Dario Amodei, CEO da Anthropic, elogiou a recusa coletiva de sua equipe às ofertas da Meta, descrevendo o episódio como um “momento unificador” que demonstra como valores, cultura e propósito não são itens negociáveis — mesmo diante de cifras históricas.

Segundo analistas do Bank of America, os comentários recentes de Zuckerberg indicam aumento nas despesas operacionais e de capital nos próximos trimestres. Há uma expectativa de que a Meta revise para cima suas projeções de custo, especialmente se continuar investindo agressivamente em talentos e infraestrutura. Já a Cantor Fitzgerald avalia que o impacto no balanço geral de 2025 pode ser pequeno, considerando o porte e a liquidez da companhia.

No entanto, independentemente da pressão por resultados, analistas convergem em um ponto: a Meta precisará demonstrar entregas concretas e avanços tangíveis para justificar o investimento bilionário em sua nova divisão de IA. O sucesso da empreitada, para eles, dependerá não apenas dos nomes recrutados, mas da capacidade de transformar poder de compra em inovação sustentável. 

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