Inteligência Artificial

Interesse da China em dividir globalmente avanços em IA preocupa EUA

Ofensiva chinesa com IA de código aberto pressiona empresas norte-americanas

Temor em Washington e no Vale do Silício é de que as versões nacionais, muitas delas proprietárias, possam ser superadas e as versão chinesas sejam adotadas globalmente como padrão da indústria (Aly Song/Reuters)

Temor em Washington e no Vale do Silício é de que as versões nacionais, muitas delas proprietárias, possam ser superadas e as versão chinesas sejam adotadas globalmente como padrão da indústria (Aly Song/Reuters)

Publicado em 13 de agosto de 2025 às 10h15.

A crescente ambição da China em ser um “livro aberto” e oferecer modelos de inteligência artificial open-source ao redor do mundo tem causado inquietação em empresas e autoridades dos Estados Unidos. O temor é de que as inovações fechadas do Vale do Silício, muitas delas proprietárias, possam ser superadas e as versões chinesas sejam adotadas globalmente como padrão da indústria.

Desde o lançamento da DeepSeek e o modelo de raciocínio R1, em janeiro, seguido por uma série de outras IAs de código aberto – tanto ofertadas por gigantes como Alibaba, Huawei, Baidu e Xiaomi quando pelas startups Moonshot, Z.ai e MiniMax –, a expansão de produtos chineses tem gerado um impacto considerável.

Esses modelos oferecem versões gratuitas para os usuários baixarem e modificarem, acelerando a adoção global da tecnologia desenvolvida no país. Com isso, empresas norte-americanas, que mantêm a maior parte de seus modelos fechados, estão sentindo a pressão.

Neste mês de agosto, a OpenAI, criadora do ChatGPT, lançou seus primeiros modelos de pesos abertos desde o GPT-2, de 2019, para tentar acompanhar o movimento. Na mesma semana, o GPT-5 também foi liberado com acesso gratuito, ainda que limitado.

Lições da história

Historicamente, o mercado de tecnologia mostrou que, no início de uma indústria, há uma grande competição, mas, eventualmente, o setor evolui e se consolida como um monopólio ou um oligopólio. O Windows, da Microsoft, o motor de busca do Google e os sistemas operacionais iOS e Android para smartphones são apenas alguns exemplos dessa dinâmica.

Ao mesmo tempo, as lições de história ensinam que o sucesso em se tornar um padrão da indústria não depende apenas da tecnologia mais avançada, mas também da facilidade de acesso e flexibilidade. Por isso, a grande preocupação em Washington e no Vale do Silício, especialmente com os modelos abertos da China ganhando força rapidamente.

No plano de ação da IA lançado em julho, a administração Trump destacou que esses modelos poderiam se tornar padrões globais em áreas como negócios e pesquisa acadêmica. O relatório enfatizou que os EUA precisam desenvolver modelos abertos fundamentados nos valores do país. De uma questão meramente técnica, a disputa entre abordagens abertas e fechadas foi alçada à questão de segurança nacional.

Adoção de modelos abertos

Embora, no momento, os ganhos financeiros com a IA de código aberto sejam limitados, já que as empresas gastam centenas de milhões de dólares no desenvolvimento de modelos sem retorno imediato, elas podem lucrar oferecendo outros serviços.

Um exemplo dessa abordagem é adotada pelo Google com o Android, que é baseado no sistema operacional aberto Linux, e seus produtos que geram receita (pesquisa e YouTube, por exemplo).

Nesse cenário, os modelos de código aberto têm sido adotados por muitas empresas devido à sua flexibilidade. O Oversea-Chinese Banking, de Singapura, por exemplo, desenvolveu cerca de 30 ferramentas internas utilizando modelos abertos como Qwen, DeepSeek, e Gemma, que é do Google, para tarefas envolvendo resumo de documentos e análise de tendências de mercado.

Além disso, engenheiros, especialmente na Ásia, relatam que os modelos chineses são mais sofisticados em entender os idiomas locais e captar as nuances culturais. Shinichi Usami, engenheiro no Japão, desenvolveu um chatbot de atendimento ao cliente para uma empresa de varejo utilizando o modelo Qwen. Ele disse ao Wall Street Journal que a escolha foi devido ao modelo chinês lidar melhor com nuances de linguagem do que as versões norte-americanos.

Desempenho dos modelos chineses

Além da expansão da oferta, de acordo com a empresa de pesquisa Artificial Analysis, que analisa habilidades de IAs em matemática, programação e outras áreas, o melhor modelo de código aberto da China supera o rival dos EUA desde novembro do ano passado – portanto, antes do lançamento da DeepSeek R1.

Segundo a empresa, uma versão do Qwen3, do Alibaba, é superior ao recém-lançado gpt-oss, da OpenAI. No entanto, o modelo chinês é quase duas vezes maior, sugerindo que, para tarefas mais simples, ele pode exigir mais poder de computação para realizar o mesmo trabalho.

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