Inteligência Artificial

Inteligência artificial da OM30 promete reduzir em 40% o tempo de consultas no SUS

Ferramenta automatiza prontuários por voz e amplia portfólio da govtech, que projeta crescimento de até 50% na vertical de saúde

Cesar Hebling:  diretor da OM30 (Reprodução)

Cesar Hebling: diretor da OM30 (Reprodução)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 23 de julho de 2025 às 13h07.

Última atualização em 23 de julho de 2025 às 13h08.

Com 19 anos no setor público, a OM30 inicia uma nova fase ao lançar uma inteligência artificial que automatiza o preenchimento de prontuários médicos no SUS por voz. A ferramenta, já integrada ao sistema Saúde Simples – usado em centenas de municípios –, promete reduzir em até 40% o tempo de consulta nas unidades básicas de saúde. Mas o que está em jogo para a empresa vai além da eficiência clínica: trata-se de testar um novo formato de entrega de produto, adaptar o modelo de negócios à era do software e equilibrar inovação com regulação no setor público.

A IA foi desenvolvida dentro do laboratório de inovação da empresa, o 30Labs, criado este ano para acelerar projetos com uso de dados, automação e modelos de linguagem. É também o primeiro produto do grupo que une reconhecimento de voz com análise semântica baseada em Large Language Models, ou grandes modelos de linguagem. “Não é uma IA genérica. Ela foi ajustada internamente, com contexto clínico, para entender o momento em que a consulta começa e preencher os campos certos do prontuário”, explica Cesar Hebling, diretor da empresa.

A OM30 iniciou sua atuação digitalizando arquivos de prefeituras e, ao longo dos anos, passou a desenvolver sistemas próprios de gestão para saúde e educação. Segundo Hebling, a aposta em IA vem sendo feita com "pé no chão" e sem ruptura com a operação já estabelecida em municípios. A empresa não vai cobrar a mais pela nova funcionalidade: ela será incorporada sem custo adicional aos contratos já firmados com as prefeituras.

Esse movimento, porém, impõe um desafio. O modelo de negócios da OM30, baseado em licitações e prestação de serviços sob demanda, não foi desenhado para escalar produtos digitais com atualizações constantes, como se espera de soluções em IA. Hebling admite que o desenho atual pode limitar a capilaridade e afirma que a companhia estuda, para um futuro sem data, uma transição parcial para o modelo software as a service (SaaS), mais comum no setor privado.

Saúde pública digital e os limites do consultório

A aplicação da tecnologia também enfrentou questões de campo. Embora parte dos médicos do SUS já se mostre receptiva ao uso de IA, há perfis mais resistentes à automação. Além disso, o ambiente físico das UBSs – com espaços apertados, equipamentos analógicos e infraestrutura precária – dificultou a idealização de um produto que funcionasse com baixa fricção no dia a dia da consulta.

“O médico precisa atender, examinar, interagir e registrar tudo isso em menos de 15 minutos. Muitos ainda anotam no papel e digitam depois, o que aumenta o risco de erro. O ganho de produtividade real da IA está em reorganizar essa dinâmica”, diz Hebling.

O sistema começa a escutar apenas quando identifica que a consulta foi iniciada formalmente, ignorando diálogos informais iniciais. Durante a conversa clínica, os dados são capturados e organizados em tempo real, com sugestão automática de texto para anamnese e até receita médica. O profissional tem a função de validar ou editar os registros ao final da consulta, mantendo a responsabilidade técnica do atendimento.

A OM30 já projeta uma expansão da inteligência artificial para além do consultório. A ideia é utilizar os dados acumulados para oferecer análises preditivas aos gestores municipais, ajudando na antecipação de surtos, remanejamento de profissionais e planejamento de políticas públicas. “A IA não pode ser só uma interface bonita. Ela precisa produzir decisões melhores”, diz o executivo.

A empresa projeta crescer 50% na área da saúde até o fim de 2025. Com mais de 18 módulos no sistema Saúde Simples e clientes espalhados pelo interior de São Paulo, a OM30 mira novos estados e secretarias municipais. No entanto, a adesão à IA ainda depende de fatores externos como conectividade, capacitação de pessoal e marcos regulatórios. “A legislação ainda está atrasada para esse tipo de inovação, então seguimos baseados nas diretrizes do Ministério da Saúde”, afirma Hebling.

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