IA vai ajudar a diminuir lacuna de produtividade, diz sócia da McKinsey (Userba011d64_201/Getty Images)
Repórter Exame IN
Publicado em 28 de junho de 2023 às 17h53.
Última atualização em 29 de junho de 2023 às 14h26.
Em apenas quatro anos, de 2018 até 2022, o uso médio de soluções de inteligência artificial nas companhias do mundo dobrou. O número é do “The State of Organizations 2023”, um levantamento feito pela consultoria McKinsey com companhias em sete países, para descobrir quais são as dez mudanças enfrentadas pelas organizações e como elas se correlacionam. Desde ganho de produtividade no maquinário até no trabalho intelectual, a forma de trabalhar está mudando e exigindo das empresas mais flexibilidade e capacidade de atrair talentos e se mostrar resiliente.
“Inteligência artificial e seu uso é algo que está no mundo corporativo há muitos anos. Se você pensar em sistemas de manutenção preventiva ou na indústria 4.0, por exemplo. O que mudou é que nossos filhos estão usando ferramentas de IA generativa e esse é hoje um tema de conversa na mesa do jantar”, observa Tracy Francis, sócia sênior da McKinsey.
Essa “popularidade” do tema e a disseminação do uso, no entanto, vai transformar o jeito de operar das companhias, observa a especialista. Ela explica que a adoção cada vez mais ampla de IA deve ser a aposta para dar um salto de produtividade. Esse é um tema especialmente caro para o Brasil, em que ainda há uma lacuna de produtividade em relação a outros países, como os desenvolvidos. “A aplicação de GenIA nas tarefas deve ter especial impacto para o trabalho que envolve conhecimento, de profissionais mais capacitados, tornando algumas tarefas mais rápidas e eficazes”, explica.
A capacidade da tecnologia de melhorar a produtividade e acelerar ganhos está intensificando a adoção, segundo o estudo da McKinsey, de modelos de trabalho pouco usuais até a pandemia. Passado o período de isolamento total, 90% das companhias que participaram do estudo optaram pelo modelo híbrido, em que os colaboradores trabalham parte do tempo remoto e, outra parte, no escritório. A decisão de não voltar ao 100% presencial encontra eco na escolha dos empregados: quatro em cada cinco que trabalharam no modelo híbrido querem se manter nele.
“Há um grupo enorme de talentos que quer se manter trabalhando nesse modelo. Eles não querem voltar ao modelo antigo”, diz Patrick Simon, também sócio sênior da McKinsey e um dos responsáveis pelo estudo. De acordo com o levantamento, 39% dos colaboradores querem deixar suas empresas em um período de três a seis meses e funcionários que estão enfrentando problemas de bem-estar físico e/ou mental são até quatro vezes mais propensos a saírem de seus empregos.
“Algumas empresas ainda estão lidando com esses problemas porque acreditam que ainda é preciso medir a produção pela entrada e saída do funcionário”, argumenta Simon. Uma questão evidente, no entanto, é que muitas dessas companhias estão perdendo os melhores talentos justamente num momento econômico em que se demanda maior resiliência dos negócios, observa Francis.
“A empresa tem de ser rápida para reagir a circunstâncias desconhecidas que podem estar vindo em sua direção. O segundo aspecto é que você precisa ter o melhor talento, porque somente se você tiver o melhor talento você estará pronto para a mudança. E a flexibilidade do 100% presencial versus remoto funciona como parte disso, porque isso realmente o ajudará a atrair melhores talentos, já que a maioria está pedindo por isso”, acrescenta Simon.
Essa mudança, no entanto, também se estende às capacidades dos novos líderes. “Anteriormente, eram principalmente as capacidades humanas que se juntavam para criar algo. Agora, os futuros líderes precisam saber quais recursos de IA estão disponíveis para aprimorar a capacidade humana. Portanto, está aumentando um pouco o perímetro do que os líderes precisam ter domínio”, argumenta.