Repórter
Publicado em 6 de maio de 2025 às 10h54.
Última atualização em 6 de maio de 2025 às 11h51.
*BOSTON | Uma Ferrari de Fórmula 1, com mais de dois metros e pintura vermelha cintilante, chamava atenção logo nos primeiros corredores do IBM Think 2025 — o principal evento anual da gigante da tecnologia realizado nesta terça-feira, 6. O carro não estava ali por acaso. Coube ao chefe da escuderia, Frédéric Vasseur, explicar o motivo: “a inteligência artificial mudou o jogo da F1”, afirmou.
A frase ganha sentido com a cena que poderia se passar em qualquer grande prêmio: Charles Leclerc tenta defender a terceira posição, enquanto engenheiros da Ferrari, apoiados por modelos de linguagem, simulam em tempo real a estratégia ideal para reverter o resultado. Fora das pistas, milhões de fãs aguardam, em seus celulares, atualizações com contexto, estatísticas e emoção — tudo ao mesmo tempo.
É nesse intervalo — entre o momento vivido, a tomada de decisão e a experiência digital — que entra o novo sistema de inteligência artificial da IBM. No centro da iniciativa, chamada AI Race Center, está a plataforma WatsonX, que automatiza resumos de corrida com a linguagem da Ferrari, ativa dados históricos, organiza telemetria em visualizações interativas e personaliza o conteúdo conforme o perfil do torcedor. O caso da Ferrari serve como vitrine para a estratégia maior da IBM: transformar a IA em infraestrutura operacional corporativa, com foco em produtividade, integração de sistemas e redução de custos.
O grande anúncio da IBM no evento foi a nova fase do WatsonX Orchestrate, plataforma que une agentes de IA personalizáveis com um sistema de orquestração entre dados e aplicativos corporativos. A empresa promete que será possível criar agentes autônomos em menos de cinco minutos, usando ferramentas com e sem código, e integrá-los diretamente a sistemas já em uso.
Com mais de 150 agentes prontos, a suíte cobre áreas como recursos humanos, vendas, compras, TI e suporte ao cliente. As funções incluem desde tarefas simples — como buscas e cálculos — até a coordenação de fluxos de trabalho mais complexos entre múltiplas ferramentas e fornecedores.
A tecnologia é integrada a mais de 80 plataformas de mercado, entre elas Adobe, AWS, Microsoft, Oracle, Salesforce, SAP, Slack e Workday.
Em entrevista, o CEO da IBM, Arvind Krishna, explicou que a próxima fase da inteligência artificial vai ser definida pela sua capacidade de integrar dados de forma eficiente e gerar resultados reais para as empresas. “A era da experimentação acabou. O que vai determinar o sucesso agora é a integração e o retorno financeiro para os negócios”, afirmou Krishna, destacando que o foco da IBM está em transformar a IA de uma ferramenta de testes para um motor que impulsiona a produtividade e reduz custos.
Para apoiar essa visão, a IBM anunciou o lançamento do webMethods Hybrid Integration, uma solução pensada para conectar APIs, arquivos, eventos e parceiros B2B dentro de uma única camada. O objetivo é simplificar a crescente complexidade que a IA impõe, especialmente em ambientes corporativos diversos.
Arvind Krishna: CEO da IBM (SAJJAD HUSSAIN/Getty Images)
E do lado do cliente da IBM, faz sentido investir nos novos sistemas. De acordo com um estudo da Forrester, empresas que adotaram essa solução conseguiram um retorno de investimento (ROI) de até 176%, além de uma redução de 67% no tempo de execução de projetos mais simples.
Outra inovação apresentada foi no WatsonX.data, uma plataforma que visa organizar e tirar proveito de dados não estruturados, como textos e imagens. A nova versão inclui um data lakehouse, que permite integrar dados de diferentes fontes e formatos de maneira mais eficiente, além de ferramentas de inteligência que ajudam a extrair insights valiosos dessas informações.
Em termos de hardware, a IBM detalhou o LinuxONE 5, um servidor projetado para suportar aplicações de IA generativa. Equipado com o processador Telum II e a placa Spyre (que estará disponível no final de 2025), o sistema promete ser até 44% mais econômico do que soluções anteriores em termos de custo total ao longo de cinco anos. “Essa migração não só reduz os custos, mas também melhora o desempenho e a segurança das operações de IA nas empresas”, disse Krishna.
Além disso, a IBM anunciou novas camadas de segurança, como criptografia quântica e contêineres confidenciais, para garantir a proteção de dados sensíveis, especialmente em um futuro onde as ameaças cibernéticas estão se tornando mais complexas.
Krishna foi direto ao afirmar que a IBM não pretende disputar espaço no mercado de IA para o consumidor final. “Estamos focados exclusivamente em IA para empresas. Não é nosso papel competir com produtos voltados ao usuário individual”, disse.
Com isso, a empresa reforça sua estratégia de se diferenciar por robustez técnica, interoperabilidade e controle — requisitos críticos em setores regulados e em estruturas de grande porte.
A Ferrari, ao buscar precisão na entrega de conteúdo em tempo real, é só uma peça nesse movimento mais amplo: o de tornar a IA menos uma promessa tecnológica e mais um ativo operacional incorporado às engrenagens das empresas.
*O jornalista viajou a convite da IBM.