Inteligência Artificial

Há 40 anos, Asimov previu os efeitos da inteligência artificial. Hoje vemos que ele acertou

Trilogia 'Fundação' e contos publicados entre 1950 e 1983 anteciparam o uso de algoritmos na economia, automação de rotina e ferramentas como o ChatGPT

Imagem realista gerada com ChatGPT representando Asimov (Reprodução)

Imagem realista gerada com ChatGPT representando Asimov (Reprodução)

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 2 de maio de 2025 às 13h40.

Última atualização em 2 de maio de 2025 às 13h40.

Terminei há poucos dias minha releitura da trilogia Fundação e precisei fechar o livro em vários momentos para acomodar o choque. Enquanto Hari Seldon desenhava a psicohistória eu acompanhava relatórios reais de IA generativa que já reescrevem campanhas de marketing, limpam planilhas e até sugerem fusões de bilhão, tudo isso diante dos meus olhos de leitor e profissional. Mergulhei em outros contos e entrevistas de Asimov.

Ele acertou suas previsões e inspirou os engenheiros das últimas décadas a torná-las realidade.

Em contos e ensaios publicados entre 1950 e 1983 o escritor Isaac Asimov descreveu máquinas que fariam nosso trabalho de rotina, tomariam decisões econômicas em escala planetária e até escreveriam textos por nós. À porta de 2025 essas três ideias saíram da ficção e entraram no balanço das empresas que lidam com automação, analytics e conteúdo.

Rotina sob comando dos robôs

Em 1983, Asimov foi convidado por um jornal canadense a responder a seguinte pergunta: “Como será o mundo em 2019?” Ele desenhou um futuro em que poucos trabalhos repetitivos continuariam melhores nas mãos humanas e afirmou que a humanidade se tornaria “cuidadora de robôs”.

Ele se atrasou no ano, mas o retrato corporativo confirma o resto: em 2023 a IBM anunciou pausa em contratações e indicou que 7 800 funções administrativas podem ser substituídas por IA nos próximos anos. Recentemente publicamos aqui na EXAME que o Duolingo começou a substituir funcionários humanos por IAs. Qualquer tarefa rotineira virou candidata à automação.

Máquinas que decidem por nós

No conto “The Evitable Conflict” de 1950 Asimov apresentou supercomputadores que administram a economia mundial para evitar crises, deixando aos humanos apenas a impressão de controle. Hoje algo parecido movimenta as bolsas. Entre 60 e 75 por cento do volume diário de ações nos Estados Unidos já é executado por trading algorítmico. Delegar estratégia à IA exige nova camada de governança, pois conselho que não entende o modelo de decisão assume risco reputacional e regulatório.

Robôs autores e revisores

Em “Galley Slave” de 1957 um professor processa um robô por reescrever seu livro durante a revisão, temendo que as máquinas assumam o trabalho intelectual. A cena virou rotina empresarial. Pesquisa da McKinsey mostra que 72 por cento das organizações usavam IA generativa em pelo menos uma função já no início de 2024. Ferramentas como ChatGPT produzem relatórios, slogans e linhas de código em minutos, obrigando equipes jurídicas a repensar autoria e direitos.

Por que isso ainda importa

Asimov não deixou apenas robôs icônicos; deixou um manual mental para avaliar disrupções tecnológicas. Automação de rotina, decisão algorítmica e criatividade assistida transformaram-se em linhas de orçamento e dilemas éticos nas maiores companhias do planeta.

Para quem define estratégia em 2025 o recado é claro. Eficiência conta, mas transparência, requalificação e propriedade intelectual também entram na equação. As previsões de Asimov mostram que imaginar o futuro é etapa fundamental para administrá-lo quando ele finalmente chega.

A ficção científica raramente adivinha o futuro, mas é sua principal inspiração.

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