Publicado em 7 de abril de 2025 às 10h22.
Impulsionada pela corrida global por soluções de inteligência artificial, a taiwanesa Foxconn — maior fabricante terceirizada de eletrônicos do mundo — registrou sua maior receita histórica para um primeiro trimestre: T$ 1,64 trilhão, ou cerca de US$ 49,5 bilhões (R$ 251 bilhões na cotação de 7 de abril).[/grifar] O valor representa um crescimento de 24,2% em relação ao mesmo período do ano passado.
A divisão de produtos para nuvem e redes, que atende empresas como a Nvidia, foi o motor do crescimento. Já os eletrônicos de consumo, como os iPhones, tiveram crescimento mais estável, segundo comunicado da empresa divulgado no fim de semana.
Em março, a receita bateu recorde para o mês e atingiu T$ 552,1 bilhões (cerca de US$ 16,6 bilhões), alta de 23,4% sobre o mesmo mês de 2024. A Foxconn prevê crescimento também para o segundo trimestre, mas alertou para os riscos vindos de tensões políticas e econômicas internacionais.
A cautela da Foxconn se justifica: a companhia é diretamente afetada pela nova rodada de tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A China, onde fica a maior fábrica de iPhones do mundo — na cidade de Zhengzhou —, foi alvo de uma tarifa de 54%. A Índia, segunda principal base de montagem da Apple, agora enfrenta uma tarifa de 26%. Taiwan, sede da Foxconn, também foi incluída nas novas tarifas, com taxa de 32%.
Com mais de 220 milhões de iPhones vendidos por ano e os EUA como seu principal mercado, a Apple se vê diante de uma escolha difícil: bancar o custo extra ou repassá-lo ao consumidor final — o que poderia elevar os preços em até 40% e afetar as vendas. A própria empresa teve suas ações desvalorizadas em mais de 8% após o anúncio das tarifas, a pior queda desde setembro de 2020.
Para contornar essa nova barreira comercial, fontes ouvidas pela Exame apontam que a Apple estuda ampliar a montagem de iPhones no Brasil, onde as tarifas dos EUA são menores e fixadas em 10%. A possibilidade se fortalece com a estrutura da Foxconn de Jundiaí (SP), que já montou os modelos base do iPhone 13, 14, 15 e agora tem autorização da Anatel para fabricar o iPhone 16.
A homologação brasileira, por enquanto, cobre apenas os modelos mais simples. As versões Pro e Pro Max ainda são importadas. Mesmo assim, analistas acreditam que, diante das tarifas sobre China e Índia, o Brasil pode se tornar um plano B estratégico para a Apple.
Hoje, a fábrica de Jundiaí opera sob regime especial que reduz tributos locais, mas isso nunca se refletiu em preços mais baixos no mercado brasileiro.
Relatório da Counterpoint Research indica que a Apple terá que redistribuir sua produção global se quiser manter a competitividade nos EUA. “Se as tarifas mais altas persistirem para iPhones feitos na Índia, isso terá impacto na demanda nos EUA”, afirmam os analistas.
O sucesso da mudança depende da capacidade de Jundiaí absorver parte da produção sem comprometer logística, qualidade ou prazos. Também há a possibilidade de a Apple buscar rotas alternativas, como exportações trianguladas via países com acordos comerciais mais favoráveis ou até negociar isenções com o governo norte-americano.
Consultada, a Apple não comentou os planos.