Inteligência Artificial

Fora do centro da inovação em IA, Apple vê na Perplexity chance de retorno ao jogo

Com US$ 130 bilhões em caixa, gigante estuda compra da startup de buscador com IA para escapar de dependência do Google e reverter atraso em tecnologias emergentes

Tim Cook: CEO da Apple (Justin Sullivan/Getty Images)

Tim Cook: CEO da Apple (Justin Sullivan/Getty Images)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 22 de junho de 2025 às 10h07.

Última atualização em 22 de junho de 2025 às 10h44.

A Apple pode romper com uma de suas tradições mais duradouras: a aversão a aquisições bilionárias. A companhia está estudando a compra da startup de inteligência artificial Perplexity, avaliada em cerca de US$ 14 bilhões, como forma de responder à crescente pressão por relevância na nova era da computação.

Historicamente, a Apple construiu seus produtos internamente, com aquisições pontuais e discretas. Seu maior negócio foi a compra da Beats, por US$ 3 bilhões, em 2014. Desde então, manteve a postura conservadora mesmo enquanto rivais como Microsoft e Google investiram dezenas de bilhões em negócios para os quais não tinham penetração. A estratégia da empresa liderada por Tim Cook, no entanto, começa a dar sinais de esgotamento.

A crise de inovação da Apple no campo da IA ficou evidente com o anúncio do sistema Apple Intelligence. Apesar de prometer integração com o iOS e foco em privacidade, o pacote depende de parcerias com terceiros — como a OpenAI — e não apresenta diferenciais claros em relação aos concorrentes, muito menos funcionou como prometido.

E a empresa do iPhone parece saber que o avanço e dependência de empresas como OpenAI, Anthropic e Google gerou uma assimetria técnica que ameaça o seu papel como referência em tecnologia de ponta. Seus modelos de IA, ainda limitados, não competem em performance com os líderes do mercado.

Nesse contexto, a empresa de Aravind Srinivas surge como uma alternativa estratégica. Criada em 2022, a startup desenvolve um mecanismo de busca com interface conversacional — de desempenho especialmente fluido em dispositivos móveis. Para a Apple, isso representa a chance de integrar IA útil e pronta ao Safari, ao Siri e ao Spotlight.

Aravind Srinivas: fundador e CEO da Perplexity (Kimberly White/Getty Images)

A operação também ganha relevância diante da incerteza jurídica sobre o acordo que mantém o Google como buscador padrão do iOS. Estimado em mais de US$ 18 bilhões por ano, o contrato está na mira das autoridades antitruste nos Estados Unidos.

Caso seja desfeito, a Apple terá que encontrar — ou construir — uma alternativa própria de busca. Nesse cenário, a aquisição da Perplexity não só reforçaria sua estratégia de IA como permitiria a criação de um “Google alternativo” dentro do ecossistema Apple.

Outro atrativo é o tamanho: com cerca de 250 funcionários e uma avaliação abaixo de concorrentes como a Anthropic (US$ 60 bilhões) ou a OpenAI (US$ 300 bilhões), a Perplexity seria um investimento proporcional à estrutura tradicional da Apple — com menos risco de integração cultural ou técnica.

Avaliando todas as cartas

A Apple também vem sondando outras startups de IA, entre elas a Thinking Machines Lab, de Mira Murati (ex-OpenAI), além de nomes como Cohere, Databricks, Sierra AI e a francesa Mistral. Esta última é destacada por seus modelos compactos e eficientes, mais compatíveis com o processamento local nos dispositivos da marca.

Mira Murati: fundadora da Thinking Machines Lab e ex-OpenAI (Kimberly White/Getty Images for WIRED)

Não há conversas avançadas com nenhuma das empresas até agora, mas há rumores de que as análises seguem em andamento. Internamente, a Apple discute o grau de autonomia que pretende manter no desenvolvimento de IA: construir tudo do zero, fazer parcerias ou partir para aquisições diretas.

Caso confirme uma grande aquisição, a Apple abrirá mão de um comportamento que a definiu por décadas: evitar depender de terceiros ou de fusões para inovar. Até agora, isso funcionava. Mas no campo da IA generativa, onde modelos poderosos e bilhões de parâmetros são a nova base tecnológica, o tempo e a escala jogam contra.

Ao hesitar, a Apple arrisca perder relevância no principal eixo de inovação da próxima década. A compra da Perplexity seria mais do que um movimento tático: seria um reposicionamento estratégico para voltar ao centro da corrida tecnológica global.

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