Freelancer
Publicado em 23 de julho de 2025 às 15h31.
O uso crescente de inteligência artificial, como o ChatGPT, pode comprometer a criatividade e o pensamento crítico de seus usuários. É o que revelou um estudo recente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). De acordo com a pesquisa, estudantes que escrevem com ajuda da IA apresentam menor atividade cerebral nas áreas ligadas à atenção e criação.
Segundo uma reportagem do The Economist, o instituto utilizou eletroencefalogramas para medir a atividade neural de 54 participantes durante tarefas de escrita. Os resultados reforçaram a preocupação crescente entre especialistas, sobre como os ganhos de produtividade e agilidade proporcionados pela IA possam cobrar um preço cognitivo a longo prazo.
Pesquisadores da Microsoft entrevistaram 319 profissionais que usam IA com frequência. Os resultados mostraram que mais de 900 tarefas foram realizadas com ajuda da tecnologia. Dentro deste número, menos de dois terços exigiam pensamento crítico, como revisar resultados ou ajustar respostas incorretas.
A maioria dos entrevistados relatou consumir menos esforço mental ao usar a inteligência artificial para funções como redação de textos ou resumos.
Já uma pesquisa no Reino Unido, com 666 participantes, mostrou que os usuários frequentes da IA tiveram desempenho inferior em testes de pensamento crítico. Segundo o autor do estudo, Michael Gerlich, já é comum ouvir relatos de professores sobre como os alunos aparentam estar menos engajados e mais dependentes das respostas automáticas dos chatbots.
Para especialistas como Evan Risko, da Universidade de Waterloo, o problema não está em aliviar tarefas mecânicas, como cálculos, mas em delegar à IA processos mentais complexos, como escrever ou resolver problemas. Esse “descarregamento cognitivo”, segundo ele, pode viciar o cérebro em atalhos e dificultar a retomada do esforço mental.
“O cérebro tende a buscar o caminho mais fácil”, explica Gerlich. Isso pode criar um ciclo vicioso: quanto mais se usa IA, menos se pensa - e mais difícil fica pensar sem ela.
“Confio tanto na IA que não sei como resolveria certos problemas sem ela”, revelou um dos entrevistados.
Para reduzir os impactos, especialistas sugerem algumas estratégias, como tratar a IA como um “assistente entusiasmado, mas limitado”, que ajuda, mas não entrega respostas prontas.
Outra dica é guiar as ferramentas por etapas - em vez de perguntar diretamente “para onde devo viajar?”, é possível começar com “onde menos chove no verão?”.
Zana Buçinca, pesquisadora da Microsoft, propõe métodos mais diretos, como exigir que o usuário formule sua própria resposta antes de consultar a IA, o que seria uma técnica para o que ela chama de “forçamento cognitivo”.