Inteligência Artificial

Empresas japonesas contratam trabalhadores filipinos para operar robôs remotamente

Desde 2022, mais de 300 lojas das redes FamilyMart e Lawson em Tóquio passaram a usar as máquinas, que são monitoradas 24 horas por dia por trabalhadores filipinos

A operação é feita pela startup filipina Astro Robotics, em parceria com a japonesa Telexistence, desenvolvedora dos robôs baseados em inteligência artificial, que operam em plataformas da Nvidia e Microsoft (Paper Boat Creative/Getty Images)

A operação é feita pela startup filipina Astro Robotics, em parceria com a japonesa Telexistence, desenvolvedora dos robôs baseados em inteligência artificial, que operam em plataformas da Nvidia e Microsoft (Paper Boat Creative/Getty Images)

Publicado em 21 de outubro de 2025 às 09h25.

Enfrentando escassez de trabalhadores e uma cada vez mais velha população, que encolheu mais de 900 mil pessoas em 2024 — a maior queda desde 1968 –, empresas japonesas estão automatizando funções e terceirizando a supervisão e operação para países com mão de obra disponível e mais barata, como as Filipinas.

Segundo o site Rest of World, no centro financeiro de Manila, capital do país, cerca de 60 jovens monitoram remotamente robôs que repõem prateleiras de lojas de conveniência no Japão. A operação é feita pela startup filipina Astro Robotics, em parceria com a japonesa Telexistence, desenvolvedora dos robôs baseados em inteligência artificial, que operam em plataformas de Nvidia e Microsoft.

Desde 2022, mais de 300 lojas das redes FamilyMart e Lawson em Tóquio passaram a usar as máquinas, com planos de expansão para a 7-Eleven. A tecnologia é uma alternativa para lidar com a falta de mão de obra em um país que mantém resistência a ampliar sua política migratória.

Esses robôs são, então, monitorados 24 horas por dia por trabalhadores filipinos, que podem supervisionar até 50 robôs simultaneamente, segundo relato de funcionários ao site. As máquinas operam de modo quase autônomo, mas em cerca de 4% das situações precisam de intervenção humana com uso de realidade virtual, quando um operador assume o controle para corrigir falhas.

A situação dos funcionários filipinos, no entanto, é ao mesmo tempo uma oportunidade e um desafio: recebem entre US$ 250 e US$ 315 por mês — faixa equivalente à de atendentes de call center —, mas são terceirizados, ou seja, não têm acessos a benefícios (plano de saúde e previdência, por exemplo) ou à remuneração tradicional de países desenvolvidos.

Essa é uma realidade comum em países que, como as Filipinas, funcionam como centros internacionais de terceirização.

Riscos e impactos de uma nova divisão do trabalho

Especialistas chamam a atenção para os efeitos dessa dinâmica: embora o trabalho envolva mais qualificação técnica — controle remoto, realidade virtual, teleoperação de robôs —, ele também pode gerar incertezas sobre o valor do trabalho humano, já que a função está, na maior parte dos casos, limitada a supervisionar as máquinas operando.

Ao redor do mundo, a automação está avançando: o mercado de agentes de IA deve alcançar US$ 43 bilhões até 2030, e o de robôs industriais quase dobrar. Apesar disso, a tecnologia ainda depende de humanos para funcionar — mesmo em sistemas ditos autônomos, como os usados pela Amazon em 2024 em lojas de conveniência, quando, na verdade, operadores indianos atuavam nos bastidores.

Assim, a parceria entre Astro Robotics e Telexistence aponta para uma nova forma de relação trabalhista na economia global: o trabalho remoto físico — e não apenas digital — executado em países de menor custo para atender demandas de economias avançadas.

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