Antes restrita a startups, a cultura de longas jornadas agora também se espalhou por big techs como Meta, Microsoft e Google (Getty Images)
Redator
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 12h40.
Cientistas e executivos das principais empresas de inteligência artificial do Vale do Silício estão enfrentando jornadas de 80 a 100 horas semanais em meio a uma corrida intensa por avanços tecnológicos. Alguns comparam as circunstâncias à guerra.
“Estamos tentando acelerar 20 anos de progresso científico em dois”, disse Josh Batson, pesquisador da Anthropic, ao Wall Street Journal. Assim como muitos colegas, não há mais tempo para redes sociais — ou mesmo para gastar as fortunas que, em alguns casos, acumularam.
A busca por modelos de IA com inteligência avançada está concentrada em pequenos times com alto grau de especialização, que trabalham em ritmo contínuo, mesmo nos finais de semana. No Google DeepMind, a pesquisadora Madhavi Sewak relata que não parece existir algum tipo de “pausa natural”. “Todo mundo está trabalhando o tempo todo”, disse.
Antes restrita a startups, a cultura de longas jornadas agora também se espalhou por big techs como Meta, Microsoft e Google. Algumas empresas formalizam a expectativa de 80 horas semanais nos contratos, mas a maioria nem precisa: os próprios pesquisadores se sentem motivados pela curiosidade científica e pela disputa com concorrentes.
Para sustentar o novo volume de trabalho, empresas estão adaptando estruturas físicas e operacionais. No Vale do Silício, restaurantes registram aumento expressivo de pedidos aos sábados, desde meio-dia até a meia-noite, segundo dados da Ramp, startup de gestão de despesas corporativas. Alguns escritórios mantêm operações ininterruptas e nomeiam “capitães” para vigiar o desempenho dos modelos de IA.
A velocidade de adoção também surpreende. Aparna Chennapragada, diretora de produto da Microsoft, afirma que 90% das companhias da Fortune 500 já usam soluções baseadas em IA, algo que levou décadas em outras revoluções tecnológicas.
Para Batson, o trabalho atual lembra sua atuação durante a pandemia de Covid-19. Se naquele caso era preciso entender a trajetória de um vírus, agora o desafio é compreender modelos de IA antes que avancem mais do que os humanos conseguem acompanhar.