Nos EUA, a previsão é que data centers consumam entre 6,7% e 12% da eletricidade total do país até 2028 – em 2023, esse número foi de 4,4% (ewg3D/Getty Images)
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Publicado em 22 de outubro de 2025 às 10h39.
Última atualização em 22 de outubro de 2025 às 14h24.
Com a explosão da inteligência artificial, a demanda global por eletricidade está em alta. Nesse cenário, mesmo fontes que estavam em baixa, como o gás — ou ainda a energia nuclear —, passam por uma retomada até então inesperada, a despeito dos compromissos de zerar emissões (net zero) e da expansão e barateamento das renováveis.
Após anos de retração, a indústria mundial de turbinas a gás voltou a crescer em 2022 – ano em que começou a guerra na Ucrânia (a Rússia é uma grande fornecedora de energia para a Europa) e, em novembro, foi lançado o ChatGPT pela OpenAI –, mas a demanda só acelerou de forma significativa em 2024.
Em 2017, a Siemens Energy, umas das gigantes do setor, havia anunciado 6.900 cortes de emprego por causa de “disrupção de escopo e velocidade inéditas” e projetou que a demanda se estabilizaria em cerca de 110 grandes unidades por ano — bem abaixo da capacidade de 400 do setor. Agora, no entanto, o motor voltou a girar.
A previsão para 2025 é de 1.025 unidades encomendadas, 183 das quais são grandes unidades — o maior volume desde 2011 —, segundo a consultoria Dora Partners, citada pelo Financial Times. Em 2021, auge da baixa, foram entregues menos de 500 unidades.Impulsionado pela IA, o consumo de energia de data centers virou força motriz para uma nova alta na produção de turbinas. Nos EUA, a previsão é que eles consumam entre 6,7% e 12% da eletricidade total até 2028 – em 2023, esse número foi de 4,4%.
Assim, o país se tornou o epicentro não só da IA, mas também da construção de usinas termelétricas a gás. Na Louisiana, por exemplo, serão construídas três novas unidades ligadas ao campus de data centers da Meta, o Hyperion. Desse modo, a previsão da Dora Partners é que os EUA respondam por 46% das encomendas globais em 2025 – bastante acima da média histórica recente de 29%.
Como resultado dessa nova alta, as fabricantes do chamado “oligopólio das turbinas” (a japonesa MHI, a alemã Siemens e a norte-americana GE Vernova), que controlam dois terços da oferta global, estão sobrecarregadas. Clientes enfrentam filas de espera de três ou mais anos para entrega.
Essa demanda tem consequências políticas e ambientais. Países asiáticos emergentes — que apostaram no gás natural liquefeito (GNL) como combustível de transição entre o carvão e os renováveis — podem ficar de fora da fila. A escassez de turbinas pode adiar ou inviabilizar usinas a gás nessas regiões, forçando o retorno ao carvão ou a uma maior dependência de exportadores estrangeiros de tecnologia.
Além disso, a China não domina a cadeia de suprimentos para usinas a gás, que representam apenas 3% da eletricidade doméstica. Ao contrário, é líder em carvão e renováveis — ou seja, o gargalo pode aumentar a demanda por tecnologia chinesa nessas áreas.
Faltando menos de um mês não para o início, mas para o final da COP30, que será realizada em Belém (PA), esse cenário representa mais um desafio para o evento sediado e liderado pelo Brasil. Na prática, um entrave ao cumprimento das metas climáticas e ao combate às mudanças globais.