Pela primeira vez, a COP será realizada na Amazônia, em Belém (PA), entre os dias 10 de 21 de novembro deste ano (Rafa Neddermeyer/ COP30/Divulgação)
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Publicado em 2 de outubro de 2025 às 10h55.
Com a COP30 se aproximando, o Brasil está se preparando para sediar a maior conferência climática do mundo, que será realizada pela primeira vez na Amazônia, em Belém (PA), entre os dias 10 de 21 de novembro deste ano. Em um cenário no qual governos continuam apostando em combustíveis fósseis e o cumprimento das metas climáticas ainda parece distante, como a tecnologia e a inteligência artificial podem contribuir para essa causa?
Apesar de décadas de tentativas para proteger a Amazônia, com iniciativas como decretos e ações de forças de segurança, a destruição da floresta e as mudanças climáticas permanecem problemas reais e crescentes. No entanto, ferramentas tecnológicas, especialmente as baseadas em IA, estão surgindo como aliados promissores na luta contra o desmatamento.
Em 2019, a consultoria PwC estimou que, se o uso da IA fosse aprimorado, a tecnologia poderia contribuir para a redução da emissão de gases de efeito estufa em até 4%. Esse percentual equivalia a 2,4 bilhões de toneladas de CO2 – naquele ano, a emissão de Austrália, Canadá e Japão juntos. Vale ressaltar, porém, que o uso da IA também traz impactos ambientais.
Atualmente, plataformas de IA treinadas com grandes volumes de dados públicos e privados já conseguem prever áreas de risco de desmatamento com antecedência de até algumas semanas. Por isso, segundo Douglas Torres, especialista em IA e CEO da Yup.AI, “estamos testemunhando o surgimento de uma nova camada de proteção ambiental: algoritmos que preveem a destruição antes que ela aconteça”.
Além disso, a IA está sendo utilizada para rastrear cadeias produtivas ilegais, analisar contratos públicos detectar fraudes em créditos de carbono e otimizar rotas de fiscalização, considerando tempo de resposta e custo logístico. Como explica Torres, “é como se a floresta tivesse sensores nos olhos, ouvidos digitais e alertas automáticos para cada ameaça”, funcionando em tempo real e com base em evidências.
Nesse contexto, a COP30, sediada e liderada pelo Brasil, tem a chance de colocar em debate a integração da tecnologia com direitos humanos, justiça climática e responsabilidade coletiva. Além de reforçar a proteção ambiental, essas ferramentas também podem fortalecer a bioeconomia, possibilitando um desenvolvimento sustentável, inclusivo e com menos destruição do meio ambiente.
No ano passado, por exemplo, pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), em parceria com o Banco Mundial, criaram uma ferramenta que combina dados macroeconômicos e de governança local para prever a perda de vegetação nativa na região.
Isso porque, de acordo com o modelo da plataforma Floresta em Risco, o desmatamento brasileiro é fruto da relação entre fatores macroeconômicos, da governança ambiental e da vulnerabilidade das áreas de vegetação nativa.
Assim, enquanto questões econômicas são usadas para estimar a quantidade de desmatamento esperada, as outras auxiliam para estimar o local com maior risco de ser desmatado, assim como a possibilidade de vazamentos – quando ele não é eliminado, mas apenas “transferido” para outra região.
Apesar desses avanços, é importante ter cautela quanto à visão de que a tecnologia pode resolver os problemas sozinha (o solucionismo tecnológico). Para que seja eficaz, é necessário que ela seja uma aliada na ação conjunta entre governos, empresas e cidadãos no combate ao desmatamento e às mudanças climáticas