Repórter
Publicado em 20 de agosto de 2025 às 11h39.
Quando o Ministério da Educação da China anunciou em maio que crianças do ensino fundamental aprenderiam conceitos básicos de inteligência artificial, a medida pareceu ousada. Mas, em um país acostumado a pensar em décadas — e não em mandatos —, ela soa como apenas mais um capítulo de uma estratégia de longo prazo.
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Aos 10 anos, alunos já terão contato com lógica algorítmica; no ensino médio, deverão ser capazes de escrever programas simples. E, em meio a esse salto, há um cuidado em não abrir mão da disciplina: estudantes poderão usar ferramentas generativas para relatórios de diagnóstico, mas não terão permissão para delegar suas tarefas inteiramente à IA.
A decisão se insere em um movimento mais amplo. Em 2023, Pequim já havia iniciado uma reforma universitária, retirando cursos considerados “pouco relevantes” para o desenvolvimento econômico e priorizando áreas como ciência da computação, engenharia e robótica. O avanço global da inteligência artificial acelerou a revisão do currículo escolar, agora estendida ao ensino básico.
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A política educacional de longo prazo é reforçada por dados de desempenho. Em 2022, os estudantes chineses ocuparam o topo do ranking do Pisa — avaliação internacional que mede leitura, matemática e ciências — superando médias da OCDE com larga vantagem. Essa performance sustenta a visão do governo de que, sob diretrizes nacionais, é possível alinhar qualidade de ensino e objetivos estratégicos de inovação.
Um menino toca em um cão-robô durante a 26ª Exposição Internacional de Alta Tecnologia China-Pequim, no Centro Nacional de Convenções de Pequim, em 16 de julho de 2024 (ADEK BERRY/Getty Images)
O presidente Xi Jinping tem ressaltado o papel dos jovens na corrida tecnológica. Em visita a centros de pesquisa em Xangai, em abril, ele classificou a IA como “uma causa da juventude” e defendeu o fortalecimento de competências digitais desde cedo. O guia do Ministério da Educação traduz essa visão em práticas concretas: formar uma geração capaz de operar, programar e criar com IA antes mesmo da entrada na universidade.
Com a integração da IA às escolas, a China amplia o alcance da estratégia “AI+ initiative” e reforça a ideia de educação como instrumento de competitividade global. A expectativa é que, ao formar milhões de alunos familiarizados com algoritmos e aplicações práticas desde a infância, o país avance em sua meta de consolidar-se como potência em inteligência artificial até meados 2049, ano do centenário da República Popular.