O logotipo da AMD (Advanced Micro Devices Inc) é exibido em um telefone celular, com a AMD ao fundo, nesta ilustração fotográfica em Bruxelas, Bélgica, em 7 de agosto de 2025. (Foto de Jonathan Raa/NurPhoto via Getty Images) (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)
Repórter
Publicado em 6 de outubro de 2025 às 10h08.
Última atualização em 6 de outubro de 2025 às 10h09.
A fabricante de chips americana AMD subia cerca de 35% no pré-mercado nesta segunda-feira, 6, após anunciar um novo acordo estratégico com a OpenAI, dona do ChatGPT. O contrato prevê a entrega de 6 gigawatts em GPUs ao longo dos próximos anos e pode gerar dezenas de bilhões de dólares em receita para a AMD, segundo executivos.
O anúncio vem num momento em que a companhia tenta recuperar fôlego em setores como inteligência artificial (IA) e data centers — áreas que a Nvidia (NVDA) não apenas lidera, mas praticamente monopoliza.
Fundada em 1969, a Advanced Micro Devices (AMD) sempre foi vista como uma concorrente de peso diante das gigantes do setor.
Nas décadas de 1990 e 2000, a empresa conquistou espaço com a linha Athlon, que superava os chips da Intel, e com os Opteron, que inauguraram a era dos processadores x86-64 para servidores.
Mas a compra da fabricante de GPUs ATI Technologies, em 2006, por US$ 5,4 bilhões, trouxe uma virada arriscada.
A ideia era integrar CPUs e GPUs, antecipando uma tendência de computação unificada.
O problema: a aquisição drenou recursos em um momento crítico e deixou a AMD endividada e sem fôlego para competir com a Nvidia, que, silenciosamente, construía sua maior arma.
Enquanto a AMD enfrentava dificuldades financeiras, a Nvidia lançava, em 2006, o CUDA, plataforma de desenvolvimento que transformou GPUs em motores de computação paralela — e não apenas de gráficos.
Com milhões de desenvolvedores e suporte aos principais frameworks de IA, o CUDA criou um ecossistema fechado e difícil de ser replicado. Isso permitiu à Nvidia se tornar a fornecedora padrão para grandes empresas de tecnologia como Microsoft, Google, Amazon e Meta.
A consequência desse domínio foi brutal para a AMD. No primeiro trimestre deste ano, a empresa detinha apenas 8% do mercado de GPUs dedicadas, contra 92% da Nvidia, segundo relatório da Jon Peddie Research (JPR). No segmento de aceleradores para IA, o abismo é ainda maior: a Nvidia controla 80% a 90% do mercado, enquanto a AMD luta por espaço, com 5% da fatia, segundo dados de consultorias como a Gartner e a SemiAnalysis.
No último trimestre, a divisão de data centers da Nvidia gerou US$ 41,1 bilhões em receita, contra apenas US$ 3,2 bilhões da AMD. Uma diferença descrita por analistas como um “abismo estrutural”.
A nomeação de Lisa Su como CEO, em 2014, marcou um ponto de virada. A executiva conduziu um reposicionamento estratégico, apostando na arquitetura Zen para CPUs e no lançamento da linha Ryzen, que devolveu competitividade à empresa no mercado de consumo.
O sucesso se estendeu ao segmento corporativo com os processadores EPYC e a entrada no setor de IA com as GPUs Instinct. Ainda assim, a AMD continua distante da Nvidia na disputa por grandes contratos de inteligência artificial.
O acordo com a OpenAI pode alterar esse cenário. A parceria prevê a instalação de hardware da AMD nos data centers da criadora do ChatGPT e oferece à fabricante de chips uma chance concreta de escalar suas soluções para IA.
A OpenAI também receberá opções de compra de até 160 milhões de ações da AMD, vinculadas ao cumprimento de metas técnicas e comerciais. Na sexta-feira, 3, os papéis da AMD estavam cotados a US$ 164,67. No ano, a empresa acumula alta de 36,33% nos papéis.
Para analistas, o acordo tem duplo valor: garante receita futura e representa uma tentativa da OpenAI de diversificar seus fornecedores e reduzir a dependência da Nvidia, cuja tecnologia está presente na esmagadora maioria dos data centers de IA no mundo.
A própria OpenAI já havia firmado um acordo anterior com a Nvidia, e prevê investimentos de US$ 100 bilhões para infraestrutura conjunta. Mas, ao ampliar sua base de fornecedores, a startup de Sam Altman sinaliza que há espaço para concorrência.
Apesar da parceria com a OpenAI e avanços no portfólio de GPUs (como a nova série MI450), a AMD ainda enfrenta grandes desafios estruturais.
Entre os principais desafios que a AMD ainda precisa superar estão o ecossistema de software, a eficiência energética e o desempenho em tecnologias avançadas.
A plataforma ROCm, desenvolvida como alternativa ao CUDA da Nvidia, ainda possui baixa adoção no mercado e carece de maturidade
. No quesito eficiência energética, as GPUs da AMD historicamente consomem mais energia do que as da concorrente, o que representa uma desvantagem significativa em aplicações de data center, onde cada watt importa. A empresa também chegou atrasada em funcionalidades críticas como o ray tracing e a aceleração nativa para modelos de IA generativa, o que limitou sua competitividade em segmentos de ponta nos últimos anos.
O mercado de chips aceleradores vive uma alta impulsionada pela corrida global por inteligência artificial. Estima-se que os gastos com infraestrutura de IA ultrapassem US$ 1 trilhão nesta década, segundo a Gartner.
Com o acordo com a OpenAI, a AMD volta ao centro desse debate, não apenas como fornecedora de hardware, mas como candidata a redefinir sua posição num setor onde já foi protagonista. E que hoje está dominado por um concorrente com um ecossistema fechado.