Elon Musk: startup de IA do bilionário pode conseguir investimento mais alto (Montagem EXAME/ /Wikimedia Commons)
Repórter
Publicado em 8 de outubro de 2025 às 06h22.
A startup de inteligência artificial xAI, liderada por Elon Musk, está em processo de levantar até US$ 20 bilhões em uma nova rodada de financiamento, de acordo com informações exclusivas Bloomberg. A cifra é o dobro do valor estimado inicialmente.
A estrutura do negócio envolve um veículo de propósito específico (SPV, na sigla em inglês) que irá adquirir processadores da Nvidia e alugá-los para a xAI utilizar em seu projeto Colossus 2 — nome dado ao principal centro de dados da companhia, localizado em Memphis.
Segundo a Bloomberg, a Nvidia está contribuindo com até US$ 2 bilhões na parte acionária da rodada, reforçando sua estratégia de acelerar a adoção de IA por meio de apoio financeiro direto aos clientes. O resto do montante inclui até US$ 12,5 bilhões em dívida, com participação de gestores como Apollo Global Management e Diameter Capital Partners. A liderança do investimento em ações ficou a cargo da Valor Capital.
O modelo adotado por Musk permite que a dívida seja respaldada pelos próprios chips de IA, e não diretamente pela startup, o que reduz a exposição ao risco de crédito da empresa. A estratégia pode abrir caminho para novas formas de captação no setor de tecnologia.
A Bloomberg afirma que a xAI já teria levantado cerca de US$ 10 bilhões em capital corporativo neste ano. No entanto, os recursos continuam sendo escassos para o ritmo de queima de caixa atual da empresa, estimado em US$ 1 bilhão por mês.
A companhia faz parte da ofensiva de Musk para colocar a inteligência artificial no centro de seus negócios, incluindo carros autônomos e robôs humanoides totalmente independentes. A expectativa é que outros braços do império empresarial de Musk, como a SpaceX e, possivelmente, a Tesla, também entrem como investidores diretos na xAI — decisão que será levada a voto pelos acionistas da montadora ainda neste ano.
As últimas semanas foram marcadas por uma série de acordos de peso no setor de tecnologia, a começar pela fabricante de chips americana AMD que anunciou um investimento na OpenAI.
Destaque também para a Nvidia, que anunciou um investimento de US$ 100 bilhões na dona do ChatGPT para reforçar sua posição como fornecedora líder de chips de IA.
O pacote bilionário pode render até US$ 500 bilhões em receita no longo prazo, segundo projeções da Reuters.
Em paralelo, a Microsoft ampliou sua presença no setor ao firmar parceria com a Anthropic, permitindo a integração de novos modelos de IA no Microsoft 365 Copilot.
Outro movimento estratégico envolveu a Intel, que fechou um acordo de US$ 5 bilhões com a Nvidia para desenvolvimento conjunto de chips.
A aliança busca unir o poder gráfico da Nvidia aos processadores da Intel, posicionando ambas no centro da infraestrutura de IA. Além disso, a Intel estaria em negociação com a Apple para um possível aporte na divisão de fabricação de chips, o que ajudaria a expandir a produção em solo americano.
De acordo com dados da Grand View Research, o investimento privado global em IA atingiu US$ 252 bilhões em 2024, com os Estados Unidos respondendo por mais de US$ 109 bilhões. A Stanford HAI estima que o impacto econômico acumulado da IA pode chegar a US$ 20 trilhões até 2030, com o mercado global saindo de US$ 391 bilhões, em 2025, para US$ 1,81 trilhão até o fim da década.
O crescimento exponencial e os valores elevados dos acordos recentes acenderam alertas entre economistas e especialistas de mercado.
O Deutsche Bank afirmou que a IA teria que crescer de forma “parabólica” para justificar os investimentos atuais, algo considerado improvável. Segundo a análise, cada US$ 1 investido em infraestrutura de IA está gerando apenas entre US$ 0,30 e US$ 0,50 de retorno anual.
Para Gary Marcus, crítico veterano de IA, o entusiasmo atual lembra a “exuberância irracional” da bolha das pontocom, com empresas superavaliadas e sem lucros claros até 2030. Ele compara o momento à bolha das criptomoedas, destacando que muitos dos investimentos atuais podem estar sendo movidos mais por expectativa do que por fundamentos.
Torsten Slok, da Apollo Global Management, também alertou para uma desconexão entre os valores de mercado das big techs e seus lucros reais. Segundo ele, as ações de empresas como Nvidia e Microsoft mostram sinais de especulação, com múltiplos de preço descolados da realidade financeira.
Até mesmo figuras centrais do setor, como Mark Zuckerberg e Sam Altman, reconhecem a possibilidade de uma bolha. Zuckerberg afirmou que, embora a demanda por IA ainda cresça, o padrão histórico de investimentos pesados em infraestrutura sugere que uma correção pode ocorrer, assim como em ciclos anteriores do mercado.