Inteligência Artificial

A reinvenção da Huawei: de banida no 5G a aposta chinesa na corrida da inteligência artificial

Após sanções dos EUA que quase a tiraram do jogo, gigante chinesa aposta em chips próprios e clusters para desafiar a Nvidia

Ren Zhengfei: fundador da Huawei (FABRICE COFFRINI/Getty Images)

Ren Zhengfei: fundador da Huawei (FABRICE COFFRINI/Getty Images)

Publicado em 18 de setembro de 2025 às 09h57.

Em 2019, a Huawei parecia condenada ao declínio. A guerra comercial do então presidente Donald Trump contra a China transformou a gigante de telecomunicações em alvo central. Acusada de representar risco à segurança digital dos EUA, a empresa foi proibida de acessar tecnologias americanas essenciais — dos chips da Qualcomm ao Android da Google.

Sem a Play Store nos celulares e sob restrições severas, a Huawei precisou improvisar. Criou o Harmony OS, sistema próprio inspirado no Android, e buscou fornecedores locais para substituir peças de origem ocidental. Lançou telas como o Kunlun Glass no lugar do Gorilla Glass da americana Corning e chegou a incluir conexão por satélite baseada no BeiDou, alternativa chinesa ao GPS.

Mas havia um gargalo que nem mesmo a engenharia de sobrevivência conseguiu resolver: os chips de alto desempenho, controlados por empresas americanas e taiwanesas.

Do bloqueio à reinvenção

Cortejada pelo governo chinês como peça-chave da soberania digital, a Huawei passou os últimos anos acelerando projetos para reduzir essa dependência. O resultado começa a aparecer agora, com o anúncio do SuperPod, tecnologia que conecta até 15.488 chips Ascend, produzidos pela própria empresa, em clusters capazes de entregar poder de processamento comparável ao das soluções da Nvidia.

A companhia afirma já ter em operação um supercluster com 1 milhão de placas gráficas. A estratégia faz parte de um movimento mais amplo de Pequim, que recentemente proibiu grandes empresas locais de comprarem chips da Nvidia para reforçar a indústria doméstica.

O alvo é claro: a NVLink, tecnologia da Nvidia que conecta chips de alta performance em servidores para tarefas de IA. Os Ascend ainda ficam atrás em desempenho individual, mas a Huawei aposta no efeito de escala: ligar milhares de unidades para alcançar resultados competitivos.

Roteiro até 2028

A Huawei também revelou um roadmap agressivo para seus chips de IA. O Ascend 950PR chega no início de 2026, seguido pelo 950DT no fim do mesmo ano. Já os modelos Ascend 960 e 970 têm lançamento previsto até 2028.

Com essa trajetória, a companhia que há poucos anos parecia sufocada pelas sanções americanas tenta se reinventar como pilar da infraestrutura chinesa de inteligência artificial, competindo diretamente com Nvidia, Microsoft e Amazon em um mercado bilionário que define o futuro da tecnologia.

No início deste ano, Ren Zhengfei, fundador da empresa, reconheceu que ela ainda está atrás dos EUA em termos de desempenho de chips individuais, mas que a estratégia de computação em cluster tem permitido alcançar resultados satisfatórios.

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