Sam Altman: CEO da OpenAI (Kimberly White/Getty Images)
Repórter
Publicado em 24 de julho de 2025 às 15h10.
Última atualização em 25 de julho de 2025 às 09h40.
Sam Altman, CEO da OpenAI, afirmou nesta semana que o mundo está prestes a enfrentar uma “crise de fraude” sem precedentes, causada justamente pelas tecnologias que ele ajudou a popularizar. A declaração ocorreu durante evento do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, e foi direcionada a uma plateia que incluía representantes de grandes instituições financeiras.
Segundo Altman, sistemas de autenticação ainda amplamente usados — como impressão de voz — se tornaram obsoletos diante da capacidade da IA de clonar com perfeição a identidade de uma pessoa. “A IA derrotou completamente a maioria das formas de autenticação atuais, além das senhas”, afirmou.
O alerta vem em meio à proliferação de golpes que usam IA generativa para imitar vozes, rostos e até vídeos de autoridades ou familiares, em tentativas de extorsão e manipulação política. O FBI já classificou esses casos como ameaças emergentes à segurança pública.
Apesar do tom de advertência, Altman também apresentou o que entende como um possível antídoto para a confusão entre humanos e máquinas: o World ID, um projeto da startup Tools for Humanity, da qual é cofundador. A tecnologia utiliza um dispositivo chamado Orb, um escâner biométrico ocular que verifica, segundo a empresa, se a pessoa do outro lado da tela é mesmo um ser humano.
A promessa do World ID é simples: criar uma “prova de humanidade” confiável em ambientes digitais, em que vozes, textos e rostos sintéticos se tornam indistinguíveis da realidade.O Orb, apresentado como ferramenta de cidadania digital, é parte de um sistema mais amplo — o World — que propõe um identificador único para todos os humanos online. Em troca da leitura da íris, usuários recebem um número exclusivo e, em alguns países, pequenos pagamentos em criptomoeda.
A OpenAI nega envolvimento direto na operação do World, mas Altman tem promovido publicamente a iniciativa como um caminho para distinguir humanos de agentes artificiais, inclusive nos debates sobre regulamentação de IA com autoridades nos EUA e na Europa.
Críticos do projeto, no entanto, levantam preocupações com privacidade, consentimento e concentração de poder. Na Alemanha, o World foi investigado por órgãos de proteção de dados; no Quênia, as operações foram suspensas após questionamentos sobre o armazenamento das informações biométricas de cidadãos.
Altman, por sua vez, segue ampliando sua presença institucional. A OpenAI anunciou a abertura de um escritório próprio em Washington, D.C., para abrigar cerca de 30 funcionários, receber autoridades e promover treinamentos sobre IA.
Ao mesmo tempo que admite os riscos da IA, da fraude à manipulação geopolítica, Altman sustenta que o desenvolvimento de sistemas superinteligentes continua inevitável. Ele afirma que a humanidade deve se preparar para conviver com máquinas mais inteligentes que nós até a década de 2030.
“Estou muito nervoso que tenhamos uma crise de fraude iminente e significativa”, disse o CEO. “Em breve, será um vídeo ou FaceTime indistinguível da realidade.”A leitura que se impõe é que Altman criou as condições técnicas para um problema massivo de falsidade digital — e agora lidera um projeto que oferece a validação necessária nesse novo cenário. O World ID se apresenta, assim, não apenas como uma tecnologia de segurança, mas como a solução institucional ao caos que a própria IA introduziu na vida cotidiana.