Inteligência Artificial

A empresa de IA que vale U$2 bilhões em oito meses

Startup sueca surpreende o mercado com modelo de programação assistida por inteligência artificial e crescimento acelerado

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 18 de julho de 2025 às 15h09.

Mesmo para quem vive o dia a dia da inteligência artificial, é espantoso ver uma startup atingir valor de mercado bilionário tão rápido. A Lovable, fundada na Suécia em 2024, acaba de se tornar unicórnio ao levantar US$ 200 milhões numa rodada Série A avaliando a empresa em US$ 1,8 bilhão apenas oito meses após sua fundação. É m feito raríssimo no mundo das startups, ainda mais considerando que a equipe da Lovable conta com somente 45 funcionários.

Os números impressionantes não param por aí. A plataforma da Lovable já conta com 2,3 milhões de usuários ativos, dos quais 180 mil são assinantes pagantes, gerando US$ 75 milhões em receita anual recorrente (ARR) em apenas sete meses de operação.

O próprio CEO e cofundador da empresa, Anton Osika, divulgou no final de 2024 que a Lovable atingiu US$ 4 milhões de ARR nas primeiras quatro semanas de produto, segundo ele "a startup de crescimento mais rápido da história da Europa".

A demanda reprimida por soluções de desenvolvimento de software mais ágeis catapultou a Lovable a patamares que normalmente levariam anos para serem alcançados.

Unicórnio em tempo recorde

Mas o que exatamente a Lovable faz para conquistar tantos usuários (e investidores) em tão pouco tempo? A startup aposta numa abordagem batizada de “vibe coding”, em que qualquer pessoa pode criar aplicações web completas apenas conversando em linguagem natural, e a inteligência artificial cuida de gerar o código-fonte.

Em vez de escrever manualmente cada linha de programação, o usuário descreve o que deseja e a plataforma constrói o front-end, o back-end e até a lógica de negócios automaticamente. É como conversar com um engenheiro de software virtual: você diz a ideia e o sistema entrega o aplicativo funcionando.

O termo vibe coding foi originalmente cunhado pelo pesquisador Andrej Karpathy (ex-diretor de IA da Tesla e cofundador da OpenAI) para descrever esse estilo improvisado e acelerado de programar em parceria com a IA.

Para usuários sem background técnico,como empreendedores, designers ou criadores de conteúdo, isso significa poder tirar ideias do papel sem a barreira da programação tradicional. E para desenvolvedores experientes, a promessa é aumentar drasticamente a produtividade ao delegar tarefas rotineiras à máquina.

Origens: de um projeto aberto à liderança em IA

Anton Osika e Fabian Hedin, engenheiros suecos com trajetória em inteligência artificial e projetos de código aberto, fundaram a empresa em 2023 justamente com a missão de “democratizar” o desenvolvimento de software. A semente da Lovable foi um experimento de fim de semana: Osika criou um assistente de programação baseado em IA chamado GPT Engineer, liberado como projeto open source no GitHub. Em poucas semanas, o GPT Engineer viralizou na comunidade de tecnologia, acumulando mais de 52 mil estrelas no GitHub e originando 10 milhões de projetos criados pela comunidade.

Osika não era novato no ecossistema: antes da Lovable, ele havia sido o primeiro funcionário de outra startup de IA sueca (a Sana Labs) e cofundador da Depict, uma startup de IA para e-commerce. Toda essa bagagem o levou a enxergar um problema claro: muita gente com boas ideias não consegue tirá-las do papel por falta de desenvolvedores ou conhecimentos técnicos. “Todo dia, fundadores e operadores brilhantes com ideias inovadoras batem no mesmo muro: não têm um desenvolvedor para realizar sua visão de forma rápida e fácil”, disse Osika em uma entrevista recente que eu li

O potencial de mercado e os próximos passos

Com o cofre cheio após a rodada de US$ 200 milhões, a Lovable pretende acelerar ainda mais. A empresa declarou que vai usar os recursos para expandir seu time e adicionar funcionalidades que permitam aos usuários criar projetos digitais cada vez mais complexos com o auxílio da IA. O objetivo final, nas palavras dos fundadores, é tornar a Lovable “a última ferramenta de que você vai precisar para construir software”.

A Lovable enxerga um mercado endereçável estimado em US$ 4,7 trilhões, crescendo cerca de 20% ao ano, cifra que engloba o vasto segmento de desenvolvimento de software e transformação digital. Se conseguir abocanhar mesmo uma fração disso ao popularizar o desenvolvimento assistido por IA, a startup poderá justificar (e até multiplicar) sua avaliação atual.

A onda global de IA e o incentivo para novos negócios

Histórias como a da Lovable evidenciam uma tendência maior: estamos entrando em uma era de ouro para startups de IA. O apetite de investidores por empresas que usam inteligência artificial como diferencial permanece alto, mesmo em meio a oscilações do mercado de venture capital. E essa oportunidade não se limita ao Vale do Silício ou à Europa,ela também está presente no Brasil. Em 2024, por exemplo, quase metade dos R$ 13,9 bilhões captados por startups brasileiras foi destinada a negócios de IA. Foi um salto significativo que consolidou o Brasil como o principal hub de inovação em inteligência artificial na América Latina, com um crescimento de 37% nos investimentos em startups no último ano.

Cada vez mais empreendedores brasileiros estão aproveitando essa onda da IA para resolver problemas diversos,de finanças a educação, de indústria a agronegócio. Alguns dos meus ex-alunos aqui da EXAME seguiram exatamente esse caminho.

O futuro da IA nos negócios

O caso Lovable não é apenas uma curiosidade do mundo das startups; é um sinal dos tempos. Em apenas oito meses, uma empresa combinou software e IA para romper barreiras que existiam há décadas na tecnologia. E esse é só o começo, tanto para a Lovable quanto para todos que decidirem construir o futuro com inteligência artificial. Eu, certamente, estarei acompanhando de perto os próximos capítulos dessa história, e espero ver muitos leitores e alunos da Exame participando ativamente dela, seja criando startups, investindo em inovação ou liderando transformações em suas empresas.

Termino convidando você a conhecer o MBA Inteligência Artificial para Negócios da Faculdade Exame, um programa que eu mesmo idealizei e coordeno, voltado a formar líderes capazes de unir a visão de negócio ao domínio da IA. Acredito que, munidos do conhecimento certo, profissionais e empreendedores brasileiros poderão criar os próximos casos de sucesso como o da Lovable, impulsionando a inovação e a economia em nossa região.

Acompanhe tudo sobre:Inteligência artificial

Mais de Inteligência Artificial

Netflix revela que usou inteligência artificial generativa em uma de suas séries

Meta contrata ex-líderes de IA da Apple e reforça time com mais pacotes milionários

Companhia aérea usa IA para cobrar mais de acordo com o passageiro

Empresa de Musk cria avatares masculinos inspirados em clássicos da literatura para agradar mulheres