Amazônia: dono da maior biodiversidade do planeta, o Brasil pode gerar até US$ 100 bilhões em crédito de carbono até 2030 (Leo Correa/Glow Media/AP)
O mercado de créditos de carbono é uma das pautas da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP26, que acontece de 31 de outubro a 12 em novembro em Glasgow, na Escócia.
Uma projeção feita pela consultoria estratégica com foco exclusivo em sustentabilidade e mudança do clima WayCarbon indica que o Brasil pode gerar entre 493 milhões e 100 bilhões de dólares em crédito de carbono até 2030.
Essa estimativa equivaleria a 1 gigaton (1 bilhão de toneladas de CO2 equivalentes) ao longo da próxima década para os setores de agro, floresta e energia.
Hoje, diz a WayCarbon, há um registro acumulado de mais de 14.500 projetos de crédito de carbono ao redor do globo, que corresponderam à geração de quase 4 gigatons de tCO2 de créditos até 2020.
“As oportunidades potenciais de geração de crédito de carbono, identificadas pelo estudo, apontam reduções de gases de efeito estufa extremamente relevantes, além de inúmeros benefícios socioeconômicos e oportunidades de alavancagem na cadeia produtiva”, diz Laura Albuquerque, gerente de finanças sustentáveis da WayCarbon.
O crédito de carbono é um instrumento econômico que visa a diminuição dos gases de efeito estufa, que provocam o agravamento das mudanças climáticas.
Esses créditos fazem parte de um mecanismo de flexibilização, que auxilia países e empresas que possuem metas de redução de emissão de gases de efeito estufa a alcançá-las de forma mais custo efetiva.
A cada tonelada reduzida ou não emitida desses gases, gera-se um crédito de carbono. Assim, quando um país ou empresa consegue reduzir a emissão, a depender das metodologias envolvidas, ele recebe um crédito.
O estudo da WayCarbon, feito junto com o ICC Brasil, braço local da Câmera Internacional de Comércio, aponta que, na próxima década, o Brasil tem potencial para suprir de 5% a 37,5% da demanda global do mercado voluntário e de 2% a 22% da demanda global do mercado regulado no âmbito da ONU.
Há, portanto, oportunidade de atuação nos mercados de carbono globais, com destaque para os setores agropecuário, florestal e energético.
Em nota, a WayCarbon comenta que “entende-se que há um caminho a ser percorrido pelo governo brasileiro e pelo setor privado a fim de destravar e alavancar tais oportunidades de geração de receita, renda, saúde e bem-estar social”.
O estudo traz mais de dez recomendações essenciais, mas há dois passos que são chave.
O primeiro é entender os mercados de carbono como potencial de destravar oportunidades financeiras para planos de recuperação econômica e aceleração do crescimento sustentável da economia brasileira e, o segundo, desenvolver sistemas de monitoramento, relato, verificação e redução de emissões robustos que abarquem todos os setores produtivos da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira.
Potencial de geração de crédito de carbono: entre 10 e 90 milhões tCO2e (até 9 bilhões de dólares em cenário otimista).
Focos de investimentos: sistemas integrados de lavoura e pecuária (ILP), e lavoura, pecuária e florestas (ILPF), agricultura de baixo carbono (ABC), com foco principal em fixação do nitrogênio e plantio direto. Intensificação da pecuária bovina de corte, que inclui recuperação de pastagens degradadas, a adubação de pastagens extensivas e o confinamento.
Cobenefícios socioambientais: redução da pressão sobre o desmatamento, melhoria da qualidade das condições de trabalho e contribuição para a segurança alimentar.
Oportunidades para a cadeia produtiva: novas fontes de renda para os produtores rurais, recuperação do potencial produtivo em áreas degradadas, garantia da competitividade entre os principais fornecedores agrícolas internacionais e fortalecimento de pequenos produtores.
Potencial de geração de crédito de carbono: entre 71 e 660 milhões tCO2e (até 66 bilhões de dólares em cenário otimista)
Focos de investimentos: reflorestamento, manejo e restauração florestal sustentável.
Cobenefícios socioambientais: diminuição das erosões, manutenção na biodiversidade local, aprimoramento da qualidade e disponibilidade hídrica, efeitos positivos à saúde humana com a redução de desmatamento e queimadas.
Oportunidades para a cadeia produtiva: geração de aproximadamente 7 milhões de empregos no Brasil
Potencial de geração de crédito de carbono: entre 27 e 250 milhões tCO2e (até 25 bilhões de dólares em cenário otimista)
Focos de investimentos: turbinas hidrocinéticas, repotenciação das hidrelétricas, eólicas offshore, usina solar flutuante, cogeração, etanol de segunda geração, biocombustíveis avançados e hidrogênio verde.
Cobenefícios socioambientais: segurança energética e geração de empregos e de renda.
Oportunidades para a cadeia produtiva: quase 839.000 novos empregos com a geração de biocombustíveis, 166.000 com a geração de energia solar e 498.000 por ano para a geração de energia eólica.
Apoiaram a WayCarbon a fazer os cálculos de geração de receita com crédito de carbono no Brasil as seguintes empresas: Suzano, Microsoft, Shell, Natura, Bayer e BP.