Inovação

Médica da linha de frente do coronavírus cria primeiro aplicativo para gestão de UTIs

A EXAME entrevistou a idealizadora do aplicativo exclusivo para gestão de UTIs, doutora Clarice Costa

RoundOver: aplicativo de gestão de UTIs garante proteção de dados e otimização nos leitos (RoundOver/Reprodução)

RoundOver: aplicativo de gestão de UTIs garante proteção de dados e otimização nos leitos (RoundOver/Reprodução)

LP

Laura Pancini

Publicado em 20 de fevereiro de 2021 às 08h02.

O Brasil iniciou 2021 com nove capitais registrando mais de 80% de UTIs (Unidade de Terapia Intensiva) ocupadas, de acordo com dados divulgados pela Fiocruz. A pandemia do novo coronavírus realça como nunca a importância de leitos otimizados para lidar com a alta rotatividade de pacientes.

Dela, surge o RoundOver, primeiro aplicativo brasileiro exclusivo para UTIs idealizado pela doutora Clarice Costa. A profissional de saúde tem 16 anos de experiência em medicina intensiva e trabalha na linha de frente do coronavírus desde o início da pandemia. Ela descreve sua criação como a “UTI na palma da mão”.

“Round” é o nome puxado do inglês que os médicos intensivistas dão a visita multidisciplinar, ocorrência diária nos leitos no qual todos os especialistas se reúnem para discutir os casos de todos os pacientes presentes. Já “over” dá o sentido de infinito, ou seja, uma visita multidisciplinar que não acaba nunca. Esta é a ideia do aplicativo da doutora Costa: um lugar único para todas as informações que a equipe coleta ao longo dos plantões, completamente protegido.

A medicina intensiva, especialidade da doutora, é a interação do corpo humano com máquinas. Além dos dados dos aparelhos, ela e o resto da equipe precisam analisar as informações dos exames clínicos e laboratoriais todas as manhãs durante a visita multidisciplinar. “É muita informação. Às vezes anotamos no papel e perdemos ou temos que voltar no leito para checar tudo de novo”, diz Costa em entrevista à EXAME. “O round é um momento crítico, porque é quando a gente define o plano do paciente. Com o aplicativo, todos os dados estão ali, o que economiza tempo.”

Qualquer equipe pode participar do aplicativo por 129,90 reais todo mês, sem qualquer dependência do hospital. O número de participantes é ilimitado e a segurança dos dados de todos os envolvidos é uma prioridade para Costa: apenas o chefe da equipe tem acesso às informações dos pacientes em qualquer momento. 

Todos os outros médicos só conseguem ler ou editar algo quando entram no plantão, registro que o aplicativo também oferece. “Quando começa o plantão, é possível ver tudo que foi colocado no último round, mas não existe a opção de acessar os dados estatísticos da minha unidade ou dos colegas. Só o que interessa para o plantão”, diz.

Há também um chat secreto, onde todos com a senha para entrar podem discutir sobre os casos de cada paciente em um local seguro. Costa conta que, como os intensivistas lidam com um alto número de dados, os mecanismos de segurança do aplicativo foram pensados com bastante cuidado. “Já que ele fica em algo móvel, eu fiz tudo possível para ele ser muito seguro”, diz.

“O aplicativo vem para aperfeiçoar o trabalho da equipe, a dinâmica e o funcionamento das unidades de terapia intensiva. Além disso, o Roundover prioriza a segurança e o sigilo dos dados registrados através de mecanismos cuidadosamente implementados para a proteção da equipe médica e dos pacientes. Através do acesso seletivo de acordo com a sua função na equipe médica, os dados podem ser visualizados em tempo real, na tela do celular ou tablet. É, literalmente, a UTI na palma da mão”, diz Costa.

Por enquanto, o RoundOver tem seu acesso limitado aos médicos plantonistas, mas a doutora já garante que até o meio do ano o aplicativo deve expandir. O Roundover Multi será uma opção dentro da plataforma que engloba toda a equipe da UTI, passando por profissionais de enfermagem, fisioterapeutas e mais. 

Doutora Clarice Costa, idealizadora do aplicativo RoundOver

Doutora Clarice Costa (RoundOver/Divulgação)

Clarice conta que a ideia para o aplicativo existe desde 2019, mas a pandemia do novo coronavírus e seu trabalho em um hospital de campanha no Rio de Janeiro foram os acontecimentos que fizeram ela decidir desenvolver o aplicativo de uma vez por todas. “Eu vi como é trabalhar no meio do caos. No hospital de campanha, tínhamos seis UTIs e eu fazia parte da coordenação dos leitos. A rotatividade era grande e percebemos a necessidade de otimizar a comunicação”, diz. 

A doutora de 44 anos tem 16 anos na área de medicina intensiva e, por conta da profissão de seu marido, já passou por UTIs de diversos estados brasileiros e, em certo ponto, até fez um estágio de observação em Toronto, no Canadá. “Tudo isso me deu uma visão grande das fragilidades na minha especialidade e a pandemia me impulsionou mais ainda”, comenta.

Já são mais de 1.000 instalações em 4 meses e mais de 412 equipes utilizando, nas regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. O Roundover, além da versão para smartphones, também está disponível para tablets e, futuramente, também terá o acesso à web.

Acompanhe tudo sobre:AppsBrasilCoronavírusMedicinaMédicosMédicos pelo BrasilPandemia

Mais de Inovação

A revolução silenciosa das EdTechs

Tudo em um só lugar: de olho na experiência do usuário, EXAME apresenta nova homepage

Conheça a iniciativa premiada pela ONU por levar eficiência energética a hospitais

Projetos de arquitetura sustentável geram impacto e ditam tendências