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As múltiplas realidades da governança corporativa

Como a gestão de riscos e a governança ESG estão transformando o papel do contador e a tomada de decisão nas empresas

 (Koh Sze Kiat/Getty Images)

(Koh Sze Kiat/Getty Images)

Publicado em 15 de agosto de 2024 às 18h47.

Contador” sempre foi uma palavra associada a números. Pessoas formadas em contabilidade, ao longo de toda a história pós-revolução industrial, eram responsáveis pelo balanço financeiro de negócios e tinham de garantir que a empresa finalizasse o ano no lucro.

O leitor atento pode ter percebido que o parágrafo anterior foi escrito no passado, e por um bom motivo: atualmente, o contador não é mais guiado pelo lucro – pelo menos de acordo com Iara Pereira.

A mudança de foco para a gestão de riscos

Autoproclamada como uma contadora fora da curva, o objetivo dela é outro. “Eu penso a performance organizacional a partir do olhar das pessoas,” diz. “De como é que a gente pode fazer com que elas sejam mais eficientes.”

Sócia-fundadora e diretora na Contraponto Consultoria e Estratégia ESG, Iara vê uma mudança nas prioridades dos negócios de maior sucesso dos dias atuais: o foco em lucro deu lugar à gestão de riscos, independentemente do tamanho da empresa.

“Pensando em tomada de decisão como um todo, é muito importante que as pessoas que fazem parte da instituição tenham uma leitura evidente de quais são os riscos que elas estão expostas,” argumenta Pereira.

Impacto do ESG na gestão empresarial

A antiga concepção de risco era relacionada ao departamento financeiro de uma organização. Hoje, no entanto, eles recaem sobre sustentabilidade, governança e temáticas sociais.

Demissões e, principalmente, layoffs em massa, por exemplo, apresentam um risco reputacional na era do LinkedIn, em que um texto pode viralizar a qualquer momento.

“A demissão deve ser a última das consequências, a última das possibilidades,” diz. “O medo da demissão é um elemento muito ruim para a inovação.”

Em último caso, o corte deve ser visto por meio das lentes do ESG, principalmente quando falamos de layoffs em massa. É preciso pensar na demografia tanto do grupo cortado quanto dos funcionários remanescentes da empresa, na especialidade dos profissionais envolvidos e, principalmente, nos projetos em andamento.

“Os desligamentos não são um movimento de RH. Eles têm significado e impacto na empresa como um todo,” diz Iara. “Eu já vi desligamentos que não consideraram ESG atrasarem em até 4 anos o processo de desenvolvimento de sustentabilidade de um negócio.”

Isso sem contar quando a empresa demite a única pessoa com acesso a determinado processo ou projeto, o que, muitas vezes, traz mais prejuízo do que se o funcionário fosse mantido.

A importância da gestão de dados

Para Pereira, ao contrário da crença comum no mundo corporativo, lideranças não precisam ser a fonte de todo o conhecimento.

“As lideranças precisam ter o feeling do que é necessário para cascatear as operações,” diz. “O foco da gestão deve estar em entender indicadores, riscos e externalidades da maneira mais profunda possível.”

A liderança não precisa saber de tudo, mas precisa ter um amplo conhecimento sobre dados e indicadores de suas operações. “Priorize a gestão de dados,” aconselha Pereira.

Como consultora, seu papel é auxiliar os líderes a analisarem quais dados e processos já foram mapeados, analisá-los e estruturar um processo operacional que seja inteiramente baseado nessas informações.

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