Elon Musk: decisão política impacta base de clientes da Tesla (Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 07h53.
O alinhamento político a Donald Trump fez com que a fortuna de Elon Musk encolhesse. A fidelidade de consumidores da Tesla sofreu uma queda inédita nos últimos 12 meses, segundo dados da S&P Global Mobility, obtidos pela Reuters.
Em junho de 2024, 73% dos lares norte-americanos que já possuíam um carro da marca optaram por outro Tesla. Em março deste ano, esse número caiu para 49,9% — abaixo da média do setor automotivo nos EUA.
O motivo principal, segundo analistas ouvidos pela agência, está no posicionamento político do CEO Elon Musk, que declarou apoio ao ex-presidente Donald Trump logo após um atentado contra o candidato republicano na Pensilvânia. O gesto gerou ruídos com a base tradicional da montadora, fortemente ligada a pautas ambientais e alinhada ao eleitorado democrata.
O tom político de Musk coincidiu com a entrada de mais competidores no mercado de veículos elétricos (EVs), o que acentuou a debandada. Marcas como Rivian, Polestar, Porsche e Cadillac têm atraído mais consumidores da Tesla do que cedido. A própria General Motors e a sul-coreana Hyundai ganharam terreno nesse cenário.
Nos quatro anos anteriores a julho de 2024, a Tesla era campeã absoluta em conversão de novos clientes: ganhava quase cinco novos lares para cada um que perdia. Agora, a proporção caiu para menos de dois. A média geral do setor é de 1,4 para marcas como Kia e Hyundai.
Analistas também apontam, na reportagem, o envelhecimento da linha de produtos da Tesla como um problema. Desde 2020, o único modelo inédito foi o Cybertruck, que teve vendas abaixo do esperado. Além disso, incidentes de vandalismo e reações hostis à marca cresceram, o que forçou paralisações em fábricas e ajustes na produção do Model Y, carro-chefe da marca.
Em conferência com investidores em abril, Musk negou que haja queda na demanda, mas admitiu dificuldades. A Tesla teve redução de 8% nas vendas nos EUA nos primeiros cinco meses de 2025, e de 33% na Europa, onde a rejeição política ao bilionário é ainda mais acentuada.
Ainda que a Tesla siga como líder nas vendas de veículos elétricos nos EUA, o impacto na fidelidade do cliente preocupa o mercado. “Nunca vimos uma queda tão rápida nesse indicador”, afirmou Tom Libby, analista da S&P. A retenção de clientes é vital para a indústria automotiva, já que conquistar novos compradores custa mais caro do que manter os antigos.
A esperança da montadora está no futuro da tecnologia autônoma. Em junho, a Tesla iniciou testes de robotaxis em Austin, no Texas, com fãs e influenciadores selecionados. Elon Musk já declarou que a ambição é tornar a Tesla uma empresa de software sobre rodas. Para investidores como Brian Mulberry, da Zacks Investment Management, esse pode ser o caminho: “Talvez ela nem precise mais vender carros no futuro”.