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Retirada do visto de Petro aprofunda crise de nove meses na relação entre Colômbia e EUA

A crise começou em janeiro passado após a decisão de Petro de não permitir a entrada de dois aviões com colombianos deportados dos EUA

EFE
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Agência de Notícias

Publicado em 27 de setembro de 2025 às 16h11.

A relação da Colômbia com os Estados Unidos, historicamente baseada em um sólido intercâmbio comercial e uma estreita cooperação militar e de segurança, foi abalada este ano por desencontros provocados pelas posturas do presidente colombiano, Gustavo Petro, que teve um ponto de ruptura nesta sexta-feira com a retirada de seu visto pelo Departamento de Estado.

A crise começou em janeiro passado após a decisão de Petro de não permitir a entrada de dois aviões com colombianos deportados dos EUA enquanto não recebessem um tratamento "digno", e tem se prolongado ao longo do ano.

Essa situação causa preocupação na Colômbia porque os Estados Unidos são seu principal parceiro comercial, e os dois países têm em vigor desde maio de 2012 um Tratado de Livre Comércio (TLC).

Em 2024, o intercâmbio de bens e serviços alcançou 53,3 bilhões de dólares, resultado de exportações norte-americanas de 28,3 bilhões de dólares e importações da Colômbia de 25 bilhões de dólares, com um superávit de 3,3 bilhões de dólares a favor do país norte-americano, segundo dados do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos.

O caminho da crise entre Petro e Trump

  • 26 de janeiro:

Após a decisão de Petro de não permitir a entrada de dois aviões com deportados que já estavam em pleno voo, o presidente norte-americano, Donald Trump, que estava havia apenas seis dias no cargo, ordena a imposição de tarifas de 25% sobre todos os produtos colombianos.

Petro responde com uma tarifa igual para as importações de produtos norte-americanos, e Trump contra-ataca com restrições de visto para o governo de Petro e seu partido, o Pacto Histórico, bem como com a suspensão de serviços consulares, incluindo a emissão de vistos na embaixada dos EUA em Bogotá.

A intervenção de diplomatas de ambos os países conteve a crise, mas a relação bilateral, antes fluida, ficou abalada após esse incidente.

Narcotráfico e supostas conspirações

  • 27 de março:

A secretária de Segurança Nacional dos EUA, Kristi Noem, visita a Colômbia e se reúne com Petro para tratar de assuntos migratórios, de segurança e combate às drogas — encontro que ocorre normalmente, apesar das diferenças entre os dois governos.

  • 5 de abril:

Noem afirma em entrevista ao canal Newsmax que, durante a reunião com Petro em Bogotá, o presidente colombiano defendeu a quadrilha criminosa transnacional Tren de Aragua, considerada pelos EUA como uma organização terrorista.

Segundo Noem, Petro afirmou que "os membros do Tren de Aragua são mal interpretados, pois, na realidade, são apenas pessoas que precisam de mais amor e compreensão", e acrescentou, de acordo com a secretária, que alguns "membros do cartel eram seus amigos". A chancelaria colombiana rejeita as declarações de Noem "por serem incorretas".

  • 6 de maio:

Petro acusa o deputado federal norte-americano Mario Díaz-Balart, republicano da Flórida, de liderar reuniões como parte de uma conspiração para tirá-lo do cargo.

  • 3 de julho: 

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, convoca "com urgência" o chefe da missão diplomática dos EUA na Colômbia, John McNamara, após denúncias "infundadas" de Petro sobre o suposto apoio dos EUA a um complô para tirá-lo do poder.

Petro responde chamando de volta para consultas seu embaixador em Washington, Daniel García-Peña. Uma semana depois, os diplomatas voltam a seus postos de trabalho.

Ataques militares dos EUA no Caribe e Palestina

  • 3 de setembro:

Petro, crítico do envio de forças militares dos EUA para águas do Caribe, próximas à Venezuela, aparentemente para conter o narcotráfico, qualifica como "assassinato" o primeiro ataque contra uma embarcação supostamente transportando drogas, no qual morreram onze supostos membros do Tren de Aragua.

  • 15 de setembro:

O governo dos EUA retira a Colômbia da lista de países que cumprem suas obrigações na luta contra o narcotráfico, lista comumente chamada de "certificação", mas decide manter a assistência, próxima de 400 milhões de dólares, por considerar que é "vital para os interesses nacionais dos Estados Unidos".

  • 17 de setembro:

Petro classifica como "injustiça" e "insulto" a 'descertificação' dos EUA "contra o país que mais sangue derramou para que a sociedade dos Estados Unidos e da Europa não consuma tanta cocaína".

  • 23 de setembro:

Em um discurso acalorado perante a Assembleia Geral da ONU, Petro afirma que a guerra contra as drogas é, na realidade, uma estratégia dos poderosos que "precisam da violência para dominar a Colômbia e a América Latina".

Ele afirma ainda que é "mentira" que o Tren de Aragua seja uma organização terrorista, como classificam os Estados Unidos e outros países, e diz que "deve ser aberto um processo penal" contra os responsáveis pelas mortes dos supostos narcotraficantes atacados por militares dos EUA em águas do Caribe, o que "inclui o funcionário de mais alto escalão que deu a ordem, o presidente Trump".

Por fim, após denunciar o "genocídio" de Israel na Faixa de Gaza, conclama a "unir exércitos e armas" para "libertar a Palestina".

  • 26 de setembro:

Petro participa de uma manifestação pró-Palestina em Nova York, onde, segundo o Departamento de Estado, "dirigiu-se aos soldados norte-americanos (...) incitando-os a desobedecer ordens e incitar à violência", e "por essas ações imprudentes e provocadoras", decide-se revogar seu visto.

  • 27 de setembro:

Ao retornar ao país, Petro responde aos Estados Unidos que a revogação de seu visto "rompe todas as normas de imunidade nas quais se baseia o funcionamento das Nações Unidas e sua Assembleia Geral", e por isso considera que a sede da ONU não pode mais permanecer em Nova York.

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