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Por que a ascensão da React Economy está sufocando o jornalismo?

Formato mantém criadores no topo dos algoritmos, mas acelera a perda de espaço e relevância do jornalismo profissional

05 August 2020, Berlin: ILLUSTRATION - A boy is holding a smartphone in his hands on a beach, on which the logo of the short video app TikTok can be seen. (posed scene) With TikTok, users can create short mobile phone videos to accompany music clips or other videos. Other users can comment, give out hearts or react in other ways. Private messages are also possible. The app is especially popular among young people. Photo: Jens Kalaene/dpa-Zentralbild/ZB (Photo by Jens Kalaene/picture alliance via Getty Images) (Jens Kalaene/Getty Images)

05 August 2020, Berlin: ILLUSTRATION - A boy is holding a smartphone in his hands on a beach, on which the logo of the short video app TikTok can be seen. (posed scene) With TikTok, users can create short mobile phone videos to accompany music clips or other videos. Other users can comment, give out hearts or react in other ways. Private messages are also possible. The app is especially popular among young people. Photo: Jens Kalaene/dpa-Zentralbild/ZB (Photo by Jens Kalaene/picture alliance via Getty Images) (Jens Kalaene/Getty Images)

Marc Tawil
Marc Tawil

Estrategista de Comunicação

Publicado em 12 de agosto de 2025 às 11h34.

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O react, formato em que criadores de conteúdo assistem a algo e comentam em tempo real, deixou de ser nicho para se tornar uma das engrenagens mais lucrativas da Creator Economy. No YouTube, vídeos de react geraram mais de 26 bilhões de visualizações em nível global em 2024, segundo o Tubular Labs, com taxas de retenção até 60% maiores que conteúdos originais equivalentes.

Motivo: custo de produção baixo, rapidez para surfar no hype e uma conexão emocional que o algoritmo premia com força.

Na essência, o react é uma curadoria instantânea. O criador escolhe algo que já está viral, um tema quente, clipe, notícia, reality show ou discurso e adiciona seu filtro próprio de humor, indignação, análise ou ironia. O prato já veio pronto e ele tempera a gosto.

A audiência, por sua vez, sente que está assistindo junto e, em tempos de consumo fragmentado, essa sensação de companhia vale ouro.

O problema é que essa lógica está mudando a forma como muita gente se informa. Em vez de ler a reportagem, assistir ou escutar uma notícia, o público assiste ao que fulano ou fulana “achou da reportagem”.

Simples assim: trocam o tema original pela reação de um streamer. Infotenimento puro.

Notícias de segunda mão

Dados do Digital News Report 2024, do Reuters Institute, indicam que 38% dos jovens entre 18 e 24 anos consomem notícias principalmente via influenciadores ou personalidades online, ultrapassando o consumo direto nos sites jornalísticos.

Tamanha intermediação tem efeito colateral: os fatos chegam editados pelo criador, filtrados pelo que é mais engraçado, mais indignante ou mais viralizável. Contexto? Nem sempre há. Contraponto? Quase nunca. A audiência se acostuma a consumir notícias de segunda mão, em que a narrativa vem pré-interpretada.

E aqui está o risco: quando a opinião começa a se sobrepor à apuração e a versão dos fatos ganha mais força que os próprios fatos, quem perde é o jornalismo.

Já fragilizadas por modelos de negócios em crise, as redações agora encontram mais um motivo para sangrar, afinal, plataformas priorizam o que mantém as pessoas mais tempo na tela, não o que informa com mais qualidade. React é máquina de retenção. Criadores de conteúdo escalam rápido, com milhões de visualizações e superchats pingando. Redações veem o interesse pelo conteúdo original minguar.

Importante dizer que sou fã do formato react. Acompanho vários criadores e faço alguns nos meus perfis de vez em quando. Ele pode ser uma excelente porta de entrada para temas sérios, humanizar discussões áridas e levar novos públicos a assuntos que antes passariam despercebidos.

O problema é quando deixa de ser porta de entrada e vira destino. Quando o criador se torna a fonte primária e a matéria original deixa de ser lida, compartilhada e financiada. Meu temor é estarmos formando uma geração que sabe o que “o influencer pensa sobre o mundo”, mas não sabe “o que está acontecendo” no mundo.

A React Economy pode parecer brilhante para quem entende os algoritmos e sabe trabalhar comunidade. Porém, se continuarmos a valorizar mais a reação do que a apuração, corremos o risco de ver o jornalismo virar coadjuvante no jogo da informação e o debate público se tornar cada vez mais uma disputa de likes.

Opinião pode inspirar. Só um fato bem apurado, contudo, transforma realidades.

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