O ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco (Marcelo Camargo/ABr)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2014 às 18h38.
Rio - De volta das férias tiradas para atuar na reta final da campanha da presidente Dilma Rousseff, o chefe da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco (PMDB), diz que, garantida a reeleição, o papel dos ministros é abrir diálogo para diminuir a tensão com a sociedade.
Só assim, afirma, será possível melhorar também o ambiente no Congresso.
A primeira tensão pós-eleição entre o parlamento e o governo envolveu o PMDB na Câmara, que derrubou proposta da presidente Dilma Rousseff para criação de conselhos populares e se mobiliza para lançar a candidatura do líder Eduardo Cunha (RJ) a presidente da Casa.
"O grande problema que nós temos não é parlamentar, é um problema com a sociedade. O governo tem que usar seus ministros e seus agentes políticos para estreitar os laços com a sociedade. O recado da eleição é que temos que entender que o governo existe para resolver os problemas e não para dificultar a vida das pessoas. O Congresso reflete o ambiente da sociedade. Se é tenso, se há má vontade, críticas, reclamações, o Congresso vai ficar excitado. Se a sociedade encontra diálogo com o governo, o Congresso fica mais distendido e começa a cumprir suas funções", diz o ministro.
Para Moreira, a iniciativa do PMDB de, dois dias depois da eleição, derrotar o governo na proposta dos conselhos populares "não é um bicho de sete cabeças". "Essa proposta foi polêmica desde o início", lembra.
Apesar de a bancada do PMDB ter lançado a pré-candidatura de Eduardo Cunha a presidente da Câmara, em uma provável disputa com o PT, Moreira defende o revezamento entre os dois partidos.
Pelo acordo firmado há quatro anos, PMDB e PT se alternariam na presidência e os dois próximos anos caberiam aos petistas. Os deputados peemedebistas argumentam, no entanto, que não há "ambiente" favorável a uma candidatura do PT.
"O acordo de rodízio entre PT e PMDB tem sido extremamente bem sucedido. Esse mesmo acordo já existiu na época de PMDB e PFL. Acho que é uma discussão que tem que ter. O acordo tem dado resultado. É uma discussão entre eles (deputados). Por segurança, tem que ter um documento assinado", diz o ministro.
A permanência do acordo de revezamento também foi defendida pelo vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer.
Moreira diz acreditar no diálogo com a oposição, apesar de o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves, ter rejeitado a ideia e dito que a presidente "não tem autoridade" para propor a aproximação.
"Conheço Aloysio desde adolescente. Ele tem momentos de grande intransigência, mas a natureza dele é democrática. Aloysio será sempre uma boa referência para o diálogo", diz Moreira, companheiro do tucano na resistência à ditadura militar.
"Nos encontramos na militância política. Eu era de AP (Associação Popular), ele era do Partido Comunista. Não tenho a menor dúvida de que, passado o calor da disputa eleitoral, vamos restabelecer o que a presidenta chama de pontes. O Senado voltará a ser o grande cenário para que o diálogo se desenvolva", acena o ministro.
A ideia da candidatura própria para presidente da República em 2018, defendida pelo governador reeleito do Rio, Luiz Fernando Pezão, no dia seguinte à eleição, tem apoio de Moreira.
"O governador Pezão disse uma coisa absolutamente verdadeira. Partido que não tem vocação e disposição para o poder não é partido, é ONG. Criado como MDB, o PMDB conseguiu derrubar uma ditadura miliar em matar ninguém. Nós não merecemos ser ONG", diz. O ministro, rejeita, no entanto, falar em possíveis presidenciáveis do partido.
Moreira diz que, a partir da próxima semana, o PMDB dará início a uma série de debates sobre a reforma política. O ministro defende a realização de consulta popular, seja referendo, preferido pelo PMDB, ou plebiscito, mencionado pela presidente Dilma.
"O importante é trazermos o ambiente político para o século 21. Já trouxemos a economia, o campo social. Mas na política estamos no século 19. A liberdade partidária é um direito constitucional. O problema é que os partidos precisam ter representação, desempenho eleitoral", diz.
Sobre o financiamento de campanha, o ministro diz que "tem que debater sem mistificação".
"Hoje o financiamento é público e privado. A propaganda de TV é paga com recursos do erário. O fundo partidário é recurso público e todos os paridos recebem. O que falta é transparência", afirma.