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Na Kinea, janela de isenção movimenta captação de FIIs

Gestora está lançando novos fundos antes de tributação de 5% que passa a valer no próximo ano, diz CEO; bolsa segue no radar, apesar da dificuldade de convencer investidores

Verri, CEO da Kinea: "A bolsa saiu de um preço de barganha, mas ainda há muitas ações defasadas"

Verri, CEO da Kinea: "A bolsa saiu de um preço de barganha, mas ainda há muitas ações defasadas"

Mitchel Diniz
Mitchel Diniz

Repórter de negócios e finanças

Publicado em 17 de julho de 2025 às 17h13.

Última atualização em 17 de julho de 2025 às 17h19.

O governo quer tributar o rendimento dos fundos imobiliários (FIIs) em 5% e a Kinea corre para aproveitar o que pode ser uma janela de investimento em isentos. "Teremos novas emissões de fundos imobiliários e já estamos em processo de captação", diz Márcio Verri, CEO da gestora, com aproximadamente R$ 130 bilhões sob gestão.

"É uma notícia excelente, pois esse é um mercado que ficou parado durante muito tempo", afirma o executivo. De acordo com ele, após um período de FIIs muito desvalorizados, alguns fundos high yield da casa já estão com prêmio.  A cobrança vai valer a partir de 2026, e não está claro se as cotas emitidas deste ano poderão ser tributadas em nenhum momento.

Verri afirma que o mercado está muito focado em aplicar "na parte curta", mas diz que a Kinea segue focada em estratégias de longo prazo. "Continuamos investindo nos setores de infraestrutura, de real estate, que continuam aquecidos. Tem muita oportunidades de leilões que vão ocorrer", explica.

A Kinea também segue motivada em investir em ações. Além dos produtos tradicionais equity, a Kinea também trabalha com três fundos de previdência que investem no mercado acionário. É uma estratégia que Verri e sua equipe fizeram questão de manter, independentemente de haver ou não captações.

O CEO reconhece, porém, que está difícil convencer os investidores a entrarem na bolsa. "Você tem que acreditar que ela vai subir 15% para empatar com a renda fixa. Fora o risco dela cair, como aconteceu com as tarifas do Trump", afirmou.

Depois de um 2024 difícil, os retornos da indústria de fundos de ações estão melhores este ano, superando em muitos casos o Ibvoespa. Mas mesmo depois da alta recente, Verri ainda vê boas oportunidades. "A bolsa saiu de um preço de barganha, mas ainda há muitas ações defasadas em termos de preço. [...] O país continua crescendo, as empresas estão bem, a gente tem visto isso na qualidade dos portfólios de crédito, que é para onde os fluxos estão indo", diz.

Verri lembra que o investidor só vai migrar para ações novamente quando o ciclo de queda de juros começar de fato. Algumas previsões apontam que a eleição presidencial de 2026 já deve fazer preço na Bolsa a partir desta segunda metade do ano. Verri acha que não será bem assim. "Sei que é nisso que o mercado quer acreditar, mas não vejo isso acontecendo até o primeiro trimestre do ano que vem", afirma.

O palpite do executivo é que os candidatos da corrida eleitoral vão ser definidos em cima da hora. "Ali perto de março. Aí sim a gente passa a viver às custas do processo eleitoral. Mas até lá, é claro, podemos ter aumentos ou diminuições de popularidade [do presidente] ou de intenção de voto para um candidato" – mas nada que dê mais clareza sobre o processo.

A tarifa de 50% que os Estados Unidos devem colocar sobre produtos importados do Brasil a partir do dia 1º de agosto pode até não atingir muitas empresas brasileiras, reconhece Verri, porém, as mais afetadas serão indústrias de excelência, competitivas o suficiente para ter um fluxo de exportação relevante ao mercado americano.

"Se você reparar bem, quais indústrias brasileiras têm um padrão de excelência mundial? São pouquíssimas. Temos Embraer, WEG. E, infelizmente vão ser essas, tão raras, as afetadas. Não o macro como um todo", afirma o executivo.

"[O 'tarifaço'] é uma medida que, apesar de querer atingir o governo, na verdade vai atingir o capital privado", conclui.

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