Kwai e e-commerce chinês se disseminam no Brasil (Kwai/Divulgação)
Agência
Publicado em 1 de outubro de 2025 às 13h18.
Última atualização em 1 de outubro de 2025 às 13h34.
Quando o assunto é Creator Economy, a China se consolida como referência global na criação de tendências. Em um painel realizado nesta segunda-feira, 29, durante o YouPix Summit, especialistas discutiram como os modelos de negócios asiáticos vêm influenciando o cenário brasileiro.
Entre os formatos que ganham força, destacam-se as mininovelas, conhecidas como microdramas, e o social commerce, que despontam como novas formas de consumo de entretenimento com grande potencial de crescimento no país.
Segundo Claudine Bayma, country manager do Kwai Brasil, as mininovelas, formato lançado pelo Kwai no Brasil em 2022, já somam mais de 100 bilhões de visualizações. Segundo ela, o modelo, inspirado no consumo chinês de microdramas, ganhou força por se adaptar ao comportamento do público, que hoje assiste a narrativas rápidas no celular. “Enquanto a família antigamente se reunia para ver a novela das 8 na sala, hoje cada um tem a sua própria experiência no seu próprio celular na palma da mão. O vertical é muito mais do que um enquadramento. O vertical é a cumplicidade do usuário com o conteúdo”, afirmou Claudine.
Claudine acrescentou que o investimento da plataforma no Brasil soma cerca de R$ 70 milhões, com 20% destinados ao Tele Kwai. “Na China, o Kwai produz 6 mil títulos por ano. Aqui, ainda estamos em cerca de 100, mas queremos alcançar essa maturidade [do mercado chinês]”. Além da publicidade e do branded content, que são conteúdos produzidos em nome de uma marca, Claudine destacou a possibilidade de que histórias testadas no digital avancem para TV e cinema, movimento já presente no mercado chinês.
Lucas Peng, COO do IEST Group e responsável pela agência de marketing de influência ECN, destacou a chegada do social commerce, modelo em que a compra é feita diretamente dentro das redes sociais, e ressaltou a diferença de mentalidade entre criadores brasileiros e asiáticos. “O Brasil ainda está um pouquinho atrás nesse aspecto porque o criador pensa como mídia, vitrine. Na China o criador é uma empresa, ele tem funcionários e ele é a conversão. Ele entende o poder que ele tem para mudar”, disse.
Ele destacou também o papel de KOL (Key Opinion Leader) e KLC (Key Opinion Consumer) no mercado asiático, apontando que microinfluenciadores têm grande impacto na conversão. “A gente que está começando agora com o Kwai Shop e o TikTok Shop no Brasil percebe que o criador ainda tem uma certa resistência e pensa ‘vou fazer live de vendas? Não, eu sou influenciador, sou celebridade, não sou vendedor’”, afirmou.
O social commerce foi outro destaque. Só em 2025, a prática deve movimentar US$ 1,2 trilhão, de acordo com pesquisa da Accenture, e boa parte vinda de transmissões ao vivo. Claudine explicou que o formato exige habilidades específicas: “O criador de conteúdo de live é um perfil, tem uma dinâmica, uma retórica, um roteiro completamente diferente do criador de conteúdo, por exemplo, de lifestyle ou de Telekwai.”
Segundo Peng, o formato exige preparo diferenciado: “Uma live de venda tem dinâmica própria, diferente do lifestyle. Enquanto no Brasil as transmissões duram de 2 a 3 horas, na China elas ultrapassam 6 horas. No 11/11, um criador chamado Austin Lee, vendeu US$ 1,7 bilhão em uma noite”, afirmou.
Os painelistas defenderam que o relacionamento entre marcas e criadores precisa evoluir. Peng destacou que muitas empresas ainda tratam influenciadores apenas como prestadores de serviço, com briefings engessados. “Para quem trabalha com criador, sabe que muitas vezes não é só dinheiro. Às vezes precisa ter afinidade com a marca. Então a marca precisa flexibilizar e falar, eu quero você parceiro junto. E às vezes é essa estratégia.” Claudine complementou: “Se a marca quer resultado de venda, não é o tamanho do criador que vai definir isso. É quanto ele consegue ser engajador. É sobre afinidade e sobre a desenvoltura dele, mas do tamanho de base.”
O painel também abordou o uso de inteligência artificial e o surgimento de influenciadores virtuais. Para Claudine, a tecnologia deve ser vista como ferramenta de apoio, e não substituição. “Nada, na minha opinião, vai substituir o humano, o criativo. Ele é simplesmente para auxiliar a produção de conteúdo. Para fazer com que fique mais barato”, disse.
Peng lembrou que algumas marcas chinesas já desenvolvem criadores virtuais próprios para alinhar identidade e narrativa. “Não é para substituir. É justamente alguém que está dando a essência do criador. Não é só um robô falando algo, precisa ter personalidade. Então, é bem esse caminho”, finalizou.