Agência de Notícias
Publicado em 21 de agosto de 2025 às 11h04.
O presidente da Argentina, Javier Milei, demitiu o diretor-executivo da Agência Nacional de Deficiência (Andis), Diego Spagnuolo, horas depois do vazamento de gravações nas quais ele é ouvido detalhando um esquema de arrecadação de subornos, que motivou uma denúncia de corrupção contra o governante, sua irmã e o próprio funcionário, entre outros.
"Diante dos fatos de conhecimento público e perante a evidente utilização política da oposição em ano eleitoral, o presidente da Nação decidiu, de forma preventiva, pela remoção do cargo do diretor-executivo da Agência Nacional de Deficiência, Diego Spagnuolo", anunciou a assessoria de imprensa presidencial na rede social X.
"O ministro da Saúde, Mario Lugones, intervirá na Agência Nacional de Deficiência e informará nas próximas horas o nome do interventor do órgão, a fim de garantir seu normal e correto funcionamento", acrescentou o comunicado.
Essa medida ocorreu pouco depois que o advogado Gregorio Dalbón, que representa a ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015) em algumas de suas causas na Justiça, denunciou criminalmente o presidente e sua irmã e secretária-geral da presidência, Karina Milei, por corrupção em contratos de fornecimento de medicamentos por meio da Andis.
Dalbón acusou a existência de "um esquema de cobrança e pagamento de propinas relacionadas à compra e fornecimento de medicamentos, com afetação direta aos fundos públicos, fatos que se enquadram nos crimes de suborno, administração fraudulenta, negociações incompatíveis com o exercício de funções públicas e infração à lei de Ética Pública".
A ação judicial, à qual a Agência EFE teve acesso, atinge, além dos irmãos Milei, o assessor presidencial Eduardo 'Lule' Menem - primo do presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem -, o proprietário da empresa de comercialização de medicamentos Suizo Argentina S.A., Eduardo Kovalivker, e o próprio Spagnuolo, que atuou no passado como advogado do atual presidente.
A denúncia ocorreu pouco depois da divulgação em diversos meios de comunicação locais de uma série de áudios nos quais uma voz, supostamente a de Spagnuolo, detalha um esquema de arrecadação de subornos ligado à Suizo Argentina S.A.
Na primeira gravação, ouve-se quem seria Spagnuolo admitir a existência de uma rede de arrecadação ilegal com o conhecimento do presidente: "Ele não está envolvido, mas é toda a gente dele. Então vão pedir dinheiro para as pessoas. Vão pedir dinheiro para os prestadores".
Em um segundo trecho, o funcionário relata que avisou Milei sobre tudo isso e em um terceiro áudio afirma que o circuito seria administrado por uma empresária ligada à família Menem, que levaria cifras milionárias: "Ela leva meio 'palo' (meio milhão de dólares) para cima de medicamentos por mês".
Nas gravações, Karina Milei e Eduardo 'Lule' Menem são identificados como supostos responsáveis pela rede de corrupção, sendo apontados como os principais operadores do sistema de retornos.
Segundo a denúncia, a empresa de comercialização de medicamentos agia como canal para o desvio de fundos públicos por meio de superfaturamento e porcentagens exigidas dos fornecedores.
Em paralelo à denúncia do advogado, deputados da oposição exigiram na quarta-feira que Karina Milei e o próprio Spagnuolo dessem explicações sobre o caso.
Os pedidos ocorreram durante uma sessão convocada para tratar, entre outras questões, da declaração de emergência em matéria de deficiência, uma medida que obriga o Estado a aumentar os fundos de assistência a esse setor e que foi vetada no início do mês por Javier Milei.