(Leon Sadiki/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 20 de novembro de 2024 às 10h42.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da China, Xi Jinping, para uma reunião e assinatura de acordos comerciais no Palácio da Alvorada na manhã desta quarta-feira, 20. O mandatário chinês chegou por volta das 10h10. A vitória de Donald Trump na eleição americana e seu impacto na agenda internacional será um dos temas do encontro.
Brasil e China têm uma proposta de paz para a guerra entre Rússia e Ucrânia e o jogo que está sobre o tabuleiro pode mudar, com uma esperada aproximação de Trump com o russo Vladimir Putin. Além disso, haverá a assinatura de acordos comerciais. Uma declaração está prevista para o início da tarde.
Lula e Xi defendem o diálogo. A negociação seria levada ao Conselho de Segurança da ONU. Já Trump prometeu acabar com o conflito rapidamente e o mais provável é que ele retire recursos americanos investidos na guerra. Já nos dias de hoje, para a Ucrânia, Brasília e Pequim não são atores neutros.
Outro ponto que será debatido diz respeito à clara ameaça de novas medidas protecionistas contra produtos chineses aplicadas pelos Estados Unidos. Na avaliação de integrantes do governo Lula, o Brasil poderá ser prejudicado pela invasão de industrializados produtos do país asiático tanto no mercado interno como em terceiros mercados. Segundo esses interlocutores, Lula dirá a Xi que o Brasil prioriza o comércio com a China e quer fortalecê-lo.
Nos bastidores, há um esforço da diplomacia brasileira no sentido de alcançar boas relações com Trump, que é ligado aos bolsonaristas. Vários recados nesse sentido foram passados pelo governo brasileiro, inclusive o presidente, que declarou que quer um trabalho conjunto com os EUA, dias depois de dizer que torcia pela democrata Kamala Harris.
A avaliação é que o xingamento da primeira-dama a um membro do futuro governo americano, o bilionário Elon Musk, em um evento do G20, no Rio, é algo que poderá ser resolvido com os contatos entre as autoridades dos dois países. O desafio de Lula, ao se reunir com o líder chinês, é mostrar que o Brasil é um interlocutor neutro e confiável, que procura manter boas relações com seus parceiros internacionais.
Mas o encontro entre Lula e Xi terá como ponto forte as relações bilaterais. São esperados acordos em diversas áreas, como transferência de tecnologia, produção industrial conjunta e o agronegócio.
— Mais de 30% das exportações brasileiras vão para a China e a visita presidencial ao país envolve muitas expectativas — afirma o secretário de assuntos internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua.
Ele acredita que poderá haver abertura do mercado chinês para frutas e carnes. Mas preferiu não revelar os acordos esperados no agronegócio, antes de serem confirmados no encontro entre os dois presidentes.
A vinda de investimentos do país asiático para o financiamento de projetos de infraestrutura é outro ponto importante. É de interesse de Pequim que o Brasil entre na Iniciativa do Cinturão e Rota, também chamada de nova Rota da Seda. Contudo, auxiliares de Lula afirmam que as relações bilaterais precisam resultar em ganhos para ambos os lados.
No governo brasileiro, o que se diz é que a China precisa dar benefícios para o Brasil, como a liberação de recursos e a abertura de mercado para produtos industrializados brasileiros. Para os chineses, o Brasil representa segurança alimentar e abundância de recursos naturais, como o minério de ferro.
O encontro entre Lula e Xi, definiu um importante interlocutor do Palácio do Planalto, tem por objetivo consolidar e ampliar uma parceria estratégica de longo prazo, o que não necessariamente seria a adesão ao programa chinês, como já fizeram 150 países. O governo brasileiro prefere falar de "sinergias", com ganhos para ambos os lados.
— Sinergia não é uma palavra vazia: gera expectativa de investimentos e grandes projetos — diz Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty.
Lula e Xi também conversarão sobre a presidência do Brics pelo Brasil, a partir de janeiro. Um dos motes será a redução da dependência do dólar nas transações comerciais entre os países do bloco.
Presidente do Conselho Empresarial Brasil-China e ex-embaixador brasileiro em Pequim, Luiz Augusto de Castro Neves destaca que a relação comercial entre os dois países é "de primeira ordem". Ela cita como exemplos de áreas prioritárias nas relações bilaterais transição energética, inovação, crescimento inclusivo e sustentável, conectividade e desenvolvimento industrial.
— Brasil e China celebram os 50 anos de seus laços diplomáticos com o desafio de levar a relação bilateral a um novo patamar — afirma Castro Neves.
Além de projetos com os chineses em setores como automotivo, eletroeletrônico e de máquinas e equipamentos, o Brasil quer uma maior aproximação com a China na área financeira. As tratativas ocorrem entre BNDES, B3 e Ministério da Fazenda, e preveem a possibilidade de negociação de fundos brasileiros em bolsas chinesas e vice-versa.
Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, destacou que a relação entre os dois países tem várias facetas. Sob o ponto de vista político, querem uma negociação de paz no Leste Europeu e tentam fortalecer as nações em desenvolvimento, com a ampliação do Brics e a redução da dependência do dólar entre os países do bloco.
— Não é só dinheiro. É uma questão de geopolítica mundial, avanços tecnológicos de ponta, inteligência artificial, e tantos outros pontos — diz Tang.
Devem vir para o Brasil cinco fabricantes de veículos chineses, sendo três de automóveis, um de ônibus e um de caminhão. Acrescentou que é, ainda, esperada a vinda de uma planta da China para a produção de drones para pulverização agrícola.
Para interlocutores do governo Lula, são pontos relevantes para o Brasil ganhos na parte financeira e em tecnologia, como a construção de novos satélites e a inserção da tecnologia 5G na telefonia celular — o que poderia levar o governo Trump a voltar a pressionar o Brasil para que a fornecedora de equipamentos Huawei fique de fora.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil. De janeiro a outubro deste ano, houve um superávit favorável ao lado brasileiro de US$ 30,4 bilhões.
Antes de vir para o Brasil, Xi Jinping foi ao Peru, onde inaugurou o maior porto comercial da América do Sul no completo portuário de Chancay, situado a cerca de 70 km ao norte de Lima capital peruana. Trata-se de mais uma medida da China no sentido de ocupar o espaço deixado na região pelos EUA.
Xi Jinping deve chegar ao Palácio da Alvorada às 10h, onde será recebido com honras de chefe de Estado. Após as reuniões e assinatura de atos, Xi e Lula darão uma declaração à imprensa. Às 20h, será oferecido um jantar ao presidente chinês e sua equipe, o Palácio do Itamaraty.
Desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a China em 1974, ocorreram cinco visitas de Estado de presidentes chineses ao Brasil:
1993 - o então presidente Jiang Zemin realizou a primeira visita oficial ao Brasil, marcando o início de uma série de intercâmbios de alto nível entre os dois países.
2004 - o ex-presidente Hu Jintao visitou o Brasil, consolidando a parceria estratégica estabelecida em 1993 e ampliando a cooperação bilateral em diversas áreas.
2014 - o presidente Xi Jinping esteve no Brasil para participar da VI Cúpula do Brics, realizada em Fortaleza, e em seguida fez uma visita de Estado a Brasília, com reforço dos laços econômicos e políticos.
2019 - Xi Jinping retornou ao Brasil para a XI Cúpula do BRICS, ocorrida em Brasília, onde foram discutidas questões de interesse comum e aprofundadas as relações bilaterais.
2024 - Xi participou da Cúpula de Líderes do G20, realizada no Rio de Janeiro, e nesta quarta-feira fará uma visita de Estado a Brasília, com acordos em agricultura, infraestrutura e finanças.