Presidente Dilma Rousseff durante entrevista coletiva após a Cúpula G20, na Austrália (Roberto Stuckert Filho/PR)
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2014 às 08h54.
Brisbane, Austrália - Em sua primeira declaração após a prisão de executivos das principais empreiteiras do País pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, a presidente Dilma Rousseff destacou o caráter histórico da ação que investiga desvios de verba na Petrobras.
"Eu acho que isso pode, de fato, mudar o País para sempre. Pode mudar no sentido de que vai se acabar com a impunidade", disse ela ontem (16), antes de deixar a reunião de cúpula das vinte maiores economias do mundo, o G-20, na Austrália.
Em uma clara tentativa de ressaltar o papel do atual governo em investigar as denúncias, comparado com gestões anteriores, Dilma repetiu várias vezes que o atual escândalo é "diferente".
"Esta é, para mim, a característica principal dessa investigação: é mostrar que ela não é algo engavetável", afirmou. "Acho que mudará para sempre as relações entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e as empresas privadas".
A presidente também fez questão de lembrar que houve denúncias anteriores envolvendo a Petrobras. Deu a entender ainda que suposta incapacidade de investigar de governos passados pode ser a causa dos problemas da estatal.
"A grande diferença é o fato de estar sendo colocado à luz do sol. Porque esse não é, eu tenho certeza, o primeiro escândalo. Mas é o primeiro escândalo investigado", defendeu.
"Podemos listar uma quantidade imensa de escândalos que não foram levados a efeito. Talvez sejam esses escândalos os responsáveis pelo que aconteceu na Petrobras".
Na sétima fase da Operação Lava Jato, chamada de Juízo Final pelos investigadores, foram presas até ontem 23 pessoas, entre as quais executivos de oito empreiteiras: Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, Engevix, OAS, Galvão Engenharia, Iesa e UTC.
Houve também buscas na Odebrecht.
A polícia prendeu ainda o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, indicado ao cargo pelo PT, e o policial Jayme Alves de Oliveira Filho - segundo os investigadores, ligado ao doleiro Alberto Youssef, que é considerado peça-chave do esquema.
Continuavam foragidos, até ontem, o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano - que, segundo os policiais, seria o operador do PMDB - e Adarico Negromonte Filho, irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte.
Na entrevista, pouco antes de almoço que encerrou a cúpula do G-20, Dilma também fez questão de diferenciar as empresas das pessoas acusadas pela Polícia Federal.
"O que nós temos de condenar são as pessoas e a maioria absoluta não é corrupta. Há pessoas que praticaram atos de corrupção dentro da Petrobras".
Sem citar nomes, ela afirmou que não se pode "demonizar" o setor da construção civil. "Não dá para demonizar todas as empreiteiras deste País.
São grandes empresas e se A, B, C ou D praticaram malfeitos ou atos de corrupção, eles pagarão por isso. Isso não significa que a gente vai colocar um carimbo na empresa", acrescentou.
A presidente também argumentou que problemas de corrupção não são uma exclusividade do setor público. Lembrou, por exemplo, casos como o da norte-americana Enron - empresa que faliu após maquiagem de balanço.
Dilma também avaliou que a investigação não deverá dificultar a reforma ministerial em negociação com os partidos aliados, mesmo com a citação de pelo menos 30 parlamentares nas investigações.
"Você há de convir que essa questão da Petrobras já tem certo tempo. Então, nada disso é tão estranho para nós. Nós não sabíamos as pessoas concretas, mas nós sabíamos da investigação", disse.
A primeira fase da operação foi deflagrada em março. Ela também pediu cuidado com o julgamento dos acusados. "A gente tem de ter cuidado porque nem todas as investigações podem ser dadas como concluídas. Então, não pode sair por aí já condenando".