Repórter
Publicado em 13 de novembro de 2025 às 16h41.
O setor de energia renovável tem obsessão com um valor: gastar apenas US$ 0,01 para ter um quilowatt-hora. É o tipo de meta, meio santo graal, parece fantasia em um setor pressionado por demanda explosiva e infraestrutura limita. Mas foi esse cálculo que guiou a criação da Exowatt, startup dos EUA que vem chamando atenção do mercado global por um plano tão simples quanto radical: gerar energia 24 horas por dia a partir de “rochas em caixas”, uma tecnologia que reaproveita princípios da energia solar térmica para armazenar calor por dias.
O protótipo parece bem pouco tecnológico: um módulo metálico do tamanho de um contêiner de transporte, coberto por um toldo transparente. No interior, lentes concentram a luz solar em um feixe estreito, aquecendo um bloco rochoso que funciona como bateria térmica. Um ventilador direciona o calor para uma segunda caixa, onde um motor Stirling, mecanismo acionado por pistão inventado no século 19, converte calor em movimento — e depois em eletricidade. Cada unidade, chamada de P3, pode manter calor armazenado por até cinco dias, operando independentemente de nuvens ou da noite.

A aparente simplicidade do sistema não impediu que investidores de alto calibre se aproximassem. Em uma nova rodada, a Exowatt levantou US$ 50 milhões adicionais, somando-se aos US$ 70 milhões captados em abril. A extensão incluiu nomes como MVP Ventures, 8090 Industries, Atomic, Dragon Global e StepStone. Entre os participantes anteriores estão Andreessen Horowitz e Sam Altman, da OpenAI — uma figura central em um setor cujo consumo energético cresce na mesma velocidade que seus modelos de IA.
A empresa afirma ter hoje cerca de 10 milhões de unidades P3 encomendadas, volume que representa 90 gigawatts-hora de capacidade contratada. A promessa de chegar ao custo de um centavo por kWh depende de escala: a meta é produzir 1 milhão de unidades por ano para atingir esse patamar.
A aposta da Exowatt é ressuscitar uma tecnologia que existe há décadas, mas que falhou em competir com os painéis fotovoltaicos e com as baterias de íon-lítio, que despencaram de preço desde os anos 2010.
O projeto, no entanto, tem limitações claras. A tecnologia depende de áreas ensolaradas para atingir sua máxima eficiência e exige extensões consideráveis de terra para alimentar um data center de grande porte. Mas, segundo Happi, essa não é uma barreira crítica: há uma “sobreposição significativa” entre regiões com alta incidência solar e lugares onde novos data centers estão sendo erguidos para treinar e operar modelos de IA.
Além disso, a bateria térmica oferece uma vantagem que se tornou crítica para a indústria de computação: previsibilidade. Em um momento em que empresas como Meta, Google e Microsoft competem pelo acesso a energia firme — e em que a OpenAI discute abertamente a escassez de eletricidade como gargalo para modelos mais avançados —, qualquer solução capaz de baratear e estabilizar o fornecimento chama atenção. Não por acaso, players de IA figuram entre os primeiros interessados na tecnologia.