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Troca de comando no BC não deve afetar agenda de inovação, diz Zeina Latif

Em entrevista à EXAME, economista falou sobre vantagens do Drex e desafios que o Banco Central precisará enfrentar

Zeina Latif é economista-chefe da XP Investimentos (UM BRASIL/Divulgação)

Zeina Latif é economista-chefe da XP Investimentos (UM BRASIL/Divulgação)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 17 de agosto de 2023 às 12h18.

Última atualização em 17 de agosto de 2023 às 12h19.

Para a economista-chefe da XP Zeina Latif, uma troca na presidência do Banco Central quando o mandato de Roberto Campos Neto acabar em dezembro de 2024 não afetaria a agenda de inovação financeira implementada nos últimos anos. A economista falou sobre o tema em uma entrevista exclusiva à EXAME durante o Fortinet Cybersecurity Summit 2023.

O Banco Central se tornou um dos principais agentes de inovação no sistema financeiro brasileiro ao longo dos últimos anos, em avanços materializados pelos lançamentos do Pix em 2020 e do Open Finance em 2021, ambos na gestão de Campos Neto. Agora, a autarquia trabalha também no Drex, a versão digital do real, com lançamento previsto para o fim de 2024.

Apesar da série de novidades ao longo da presidência atual da autarquia, Latif lembra que muitos desses elementos "vieram do próprio corpo do Banco Central". "O presidente [do BC] faz diferença pela liderança, mas o próprio Drex nasceu no corpo da instituição. O próprio Pix veio daí. A institucionalidade é muito forte".

Nesse sentido, ela acredita que uma troca na presidência do Banco Central não deve resultar em uma mudança ou fim da agenda de inovação da autarquia, atualmente nomeada como Agenda BC# mas que teve origem em 2016, antes da atual gestão, com o nome Agenda BC+. Ao mesmo tempo, a economista acredita que o sucesso dessa agenda dependerá mais de "garantir que vai ter capital humano, porque há a reclamação hoje no Banco Central de que faltam quadros".

Para ela, o Drex é "mais uma prova de como o Banco Central está em uma vanguarda em vários aspectos. Desde 2008, foi considerado referencia na questão prudencial e de segurança do sistema financeiro. O Drex é mais um passo".

Além disso, Latif pontua que essas novidades representam também um "aumento de leque, com mais atribuições" para a autarquia, indo além das responsabilidades básicas ligadas à política monetária e à regulação. O Pix, o Drex e o Open Finance são "mais voltados para os indivíduos na ponta", mas isso também pode resultar em discussões futuras sobre o escopo das responsabilidades da autarquia e da estrutura que ela precisará para mantê-las.

A economista-chefe da XP ressalta, porém, que a criação do Drex pelo Banco Central é necessária: "Ou o Banco Central fazia isso ou ia ficar só a iniciativa privada com todos os riscos envolvidos, preocupações do ponto de vista regulatório, questões de mau uso, atividades ilícitas. Ele mostrou que está antenado a uma demanda do setor produtivo e da sociedade, com um receio pela segurança".

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Cenário econômico

Na visão de Latif, novidades como o Pix e o Drex também ajudam na bancarização da população, criando novos produtos financeiros e, possivelmente, aumentando o acesso a produtos já existentes. Entretanto, a economista ressalta que é importante lembrar das características, e desafios, próprios da população brasileira.

"Somos um país de renda média baixa, tem gente que não tem perfil para entrar na bolsa, não consegue entrar", afirma. Outro aspecto importante é a falta de educação financeira da população, que resulta em um quadro de endividamento cada vez mais significativo. "O brasileiro não poupa, precisa aprender a poupar. A gente não tem educação financeiro, então são desafios que a gente tem, um trabalho de base que precisa fazer".

Há, ainda, desafios macroeconômicos que precisam ser superados, em especial ligados à necessidade de realizar reformas, como a Tributária - atualmente em tramitação no Congresso - e a Administrativa. Sobre o tema, a economista destaca que o Brasil tem avançado até pelo surgimento de demandas da sociedade, mas que a velocidade na realização de reformas deveria ser maior.

"Para ter uma reforma, precisa de uma liderança que entende a demanda da sociedade, vê a oportunidade e e consegue ver uma janela para realizar. Não é algo fácil. Mas desde 2016 a gente tem tido reformas. A velocidade pode estar aquém, mas as reformas têm que ser vistas como algo mais natural. Estamos tendo reformas, outras virão, o que preocupa é a velocidade", avalia.

Ao mesmo tempo, Latif afirma que a troca na presidência do Banco Central "não tira meu sono" em relação à política monetária. "Cortar 0,25 [ponto percentual] ou 0,5 não é relevante no longo prazo. Na troca pode ter um presidente menos conservador? Sim, mas algumas lições foram aprendidas. Quem quer que seja o próximo presidente pode ter outra abordagem, mas não um cenário extremo".

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