Bitcoin teve movimento de recuperação nas últimas semanas (da-kuk/Getty Images)
O bitcoin e o mercado de criptomoedas como um todo começaram 2023 com um forte movimento de recuperação. A principal cripto do setor já acumula uma valorização de quase 40%, enquanto outros ativos superaram a marca dos 100%, indicando que dobraram de valor. Entretanto, a continuidade desse quadro vai depender do que ocorrerá na chamada Super Quarta, no próximo dia 1º de fevereiro.
O dia recebeu esse nome porque é nele que vão ocorrer as decisões sobre juros por parte do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Enquanto o Brasil já encerrou seu ciclo de alta de juros, os EUA seguem com elevações para combater a inflação. Em dezembro, o aumento foi de 0,5 ponto percentual.
Tradicionalmente, as decisões de juros nos Estados Unidos afetam os fluxos globais de investimento, "puxando" capital destinado à renda variável - em especial em ativos e mercados considerados de risco - para a renda fixa norte-americana, vista como mais segura e com uma atratividade ligada à magnitude dos juros na maior economia do mundo. E o bitcoin e as criptomoedas não fogem dessa regra.
Em 2022, o setor enfrentou um novo "inverno cripto", um termo que se refere a um período de forte desvalorização de preços e baixo investimento. O grande desencadeador desse mercado de baixa foi exatamente a decisão do Fed de começar a subir os juros para enfrentar a inflação no país, que estava então no maior valor em quase 40 anos.
Desde então, o bitcoin caiu mais de 60%, puxando todo o mercado de criptomoedas para baixo. Agora, conforme o cenário econômico dos EUA dá sinais de melhora, com uma aparente desaceleração na inflação e após diversas altas de juros pelo Federal Reserve, a expectativa é que o cenário comece a mudar, e melhorar, para o setor.
João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex, destaca que, como historicamente ocorre, a decisão do Copom nesta semana "não tem nenhum impacto relevante sobre o mercado de criptomoedas". Isso ocorre porque os criptoativos são mais ligados ao fluxo de investimentos internacionais, em especial em ativos de risco, que é pouco correlacionado com os juros brasileiros.
Entretanto, ele acredita que a decisão dos Estados Unidos "pode fazer a diferença" para o comportamento do bitcoin e das criptomoedas nas próximas semanas. Cunha destaca que já existe um consenso no mercado de que o Fed vai optar por uma alta de juros, mas em uma magnitude menor que nos outros encontros, de 0,25 ponto percentual.
Com a alta, a taxa de juros do país passará para o intervalo de 4,5% a 4,75% - patamar elevado para o padrão dos Estados Unidos. De acordo com dados do CME Group, 98,1% dos investidores apostam em uma alta nessa magnitude, o que mostra que "não deve haver surpresas", segundo o gestor da Hashdex.
Se o valor da alta não é uma questão, a comunicação por parte do Fed se tornou o foco dos investidores. Para Cunha, o mercado tem adotado uma postura de “no news, good news”, ou seja, a confirmação de eventos esperados tem gerado reações positivas, ajudando a impulsionar ativos como ações de tecnologia e o bitcoin.
"Nesse caso, é possível que haja algum impacto positivo sobre os preços dos ativos de risco, em geral, e dos criptoativos, em particular", observa o gestor. Para isso, seria necessário que o Federal Reserve, ou seu presidente, Jerome Powell, dessem sinais de que já enxergam uma concretude na desaceleração da economia norte-americana e, por isso, aliviarão o ciclo atual.
Lucas Josa, analista do BTG Pactual, explica que "quanto mais próximo parecer que eles estão se aproximando da taxa terminal [de fim de ciclo], melhor vai ser para o mercado, principalmente por que traz uma visão de que o Fed está conseguindo controlar a inflação, se mantendo no caminho para o alvo de 2% ao ano".
Josa também vê um consenso no mercado em torno de uma elevação de 0,25 p.p., que ele atribui a comunicações recentes por parte dos membros do Fed e também aos dados ligados à inflação dos EUA que saíram nas últimas semanas. Entretanto, ele observa que essa decisão já foi "precificada" pelo mercado, ou seja, os valores atuais dos ativos, incluindo o bitcoin, já refletem esse cenário.
"Por essa perspectiva, é bem provável que o aumento em si, caso obedeça à expectativa do mercado, não traga nenhum movimento brusco nos preços. Nesse caso, a comunicação do aumento passa a ser o ponto focal, principalmente por trazer pistas sobre os próximos passos da política monetária nos EUA", explica.
O analista acredita que o bitcoin e outras criptomoedas podem ter espaço para valorizar ainda mais caso o comunicado do Fed tenha um tom "dovish" - mais suave - devido à perspectiva de um ambiente macroeconômico mais favorável. Já se o tom for "hawkish" - mais duro - a expectativa será de que o ciclo continue ruim para o mercado por mais tempo, o que deve levar a quedas nos ativos e reversão de ao menos parte dos ganhos recentes.
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