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Startup quer tokenizar grãos no Brasil e revolucionar o agro com blockchain e parceria com a Visa

Agrotoken que revolucionar o agronegócio com a transformação da produção em ativos digitais lastreados pelos próprios grãos; meta é tokenizar 1 milhão de toneladas em 2023

Produção brasileira de soja e outros grãos será tokenizada com uso de blockchain pelo startup argentina Agrotoken (Ueslei Marcelino/Reuters)

Produção brasileira de soja e outros grãos será tokenizada com uso de blockchain pelo startup argentina Agrotoken (Ueslei Marcelino/Reuters)

GR

Gabriel Rubinsteinn

Publicado em 20 de julho de 2022 às 16h11.

Última atualização em 20 de julho de 2022 às 16h19.

O processo de transformação de ativos do mundo real em representações digitais em blockchain, que é chamado de tokenização, tem ganhado força no mundo todo. Mas não são apenas ativos financeiros que têm se transformado em criptoativos. E uma startup argentina acaba de desembarcar no Brasil com uma solução que pretende tokenizar - e transformar - um dos mercados mais importantes da economia nacional: o agronegócio.

O objetivo da Agrotoken é digitalizar o agronegócio com a tokenização até da produção de carne, mas inicialmente a aposta se concentra em soja, trigo e milho. Com operação na Argentina, no Brasil e a expansão já prevista para os EUA, o potencial de tokenização da soja, por exemplo, engloba boa parte da produção global, já que os três países são os maiores produtores do grão.

No Brasil, onde o agronegócio responde por quase 30% do PIB, a Agrotoken enxerga um dos seus mais importantes mercados. A primeira operação em território nacional já foi realizada, em parceria com a plataforma brasileira AgroGalaxy, e o objetivo da empresa no país é digitalizar cerca de 100 mil toneladas de grãos até o final do ano.

“Nosso foco, agora, é chegar aos pequenos e médios produtores rurais, às cooperativas, aos distribuidores, e apresentar nosso modelo de negócio inovador, que irá facilitar o acesso ao crédito digital e possibilitar a democratização no campo. A tecnologia da Agrotoken vai permitir realizar diversas operações por meio de ‘grãos digitais’, desde pagamentos cotidianos a compras de grandes insumos e equipamentos. Além disso, os clientes poderão fazer consultoria em tempo real sobre o índice de valor de grãos e solicitar empréstimos”, disse Eduardo Novillo Astrada, CEO e cofundador da Agrotoken.

(Mynt/Divulgação)

Segurança e liquidez para produtores, novo produtos para investidores

Em um primeiro momento, a Agrotoken concentra seus esforços em um modelo B2B, ou seja, apenas entra a empresa e os produtores.

Os tokens são fungíveis e integralmente lastreados por ativos físicos, legitimando sua garantia financeira. “No ato da emissão, a plataforma realiza uma compensação em volume do montante correspondente ao lastro e ao montante em tokens, na proporção de 1 para 1 – isto é, 1 token equivale a 1 tonelada de ativo físico agrícola, como soja, milho e trigo”, explicou Anderson Nacaxe, diretor da Agrotoken no Brasil.

Os criptoativos da Agrotoken têm valor idêntico em todo o território nacional, independentemente de onde e por quem foi emitido. Ou seja, os tokens mantêm valor comum, conforme preço indexado a índices aceitos pelo mercado para cada commodity, como Esalq, CEPEA/B3, Argus, Platts e safras e mercados, sendo publicado em tempo real na plataforma. “Além de pulverizar o risco dos lastros, isso permite a utilização do token em pequenas frações negociáveis em todas as regiões e em toda a rede varejista e industrial que aceita o Agrotoken", completou Nacaxe.

A tokenização, além de garantir agilidade e liquidez para as operações, também pode ser eficiente para garantir previsibilidade para o produtos e também como uma forma de captação de recursos, já que os tokens poderão ser usados como lastro para operações de crédito no sistema financeiro tradicional.

O plano da empresa, entretanto, é mais ambicioso, e mira também nos investidores de varejo, que, com a futura abertura de um mercado secundário para os tokens lastreados em grãos, poderão investir diretamente na commodity da sua escolha e até utilizar os criptoativos como meio de pagamento. Para isso, a parceria da empresa com a Visa é um ponto central.

Parceria com a Visa pode tornar token um meio de pagamento

Anunciada em maio, a parceria com a Visa estará acessível para uso no Brasil em outubro e une duas soluções. Por um lado, ativos criptográficos seguros e lastreados e, por outro, a escala tecnológica e a aceitação que a Visa proporciona.

“Em posse do cartão, nossos clientes podem pagar compras, sem a necessidade de intermediários, em mais de 80 milhões de estabelecimentos conveniados no mundo. Além disso, o agricultor poderá manter registro de todas as suas transações, facilitando a sua contabilidade e a tomada de decisões”, diz o CEO Eduardo Novillo Astrada.

Nacaxe, em conversa com a EXAME, explicou que a Visa disponibilizará um cartão de débito para os usuários da plataforma, cujo lastro serão os criptoativos gerados com a tokenização dos grãos. Isso permitirá que os produtores, ao tokenizarem suas safras, tenham acesso à toda a rede de comerciantes da Visa, ao invés da rede de conveniados da Agrotoken, como acontece atualmente. E, com a abertura do mercado secundário de Agrotokens no futuro, o mesmo poderá ser feito por investidores dos ativos digitais.

Entendimento sobre blockchain não é obstáculo

A empresa argentina utiliza como base para os criptoativos o protocolo Algorand e tem como um dos pontos centrais o processo de educação de produtores rurais sobre a tecnologia blockchain e as vantagens da tokenização. Para Anderson Nacaxe, entretanto, isso não é um problema.

"Essa conversa tem sido relativamente fácil e temos sido muito bem recebidos. Quando explicamos que o processo de tokenização leva a safra do produtor para o ambiente digital, ele já fica interessado. O produtor não precisa saber o que é um blockchain ou saber exatamente como a tecnologia funciona. Só precisa saber usá-la, e a plataforma é simples e intuitiva", explicou.

Com a operação em andamento a pleno vapor na Argentina, dando os primeiros passos no Brasil e os planos de expansão para os EUA já previstos para o futuro próximo, a Agrotoken pode causar uma mudança significativa no agronegócio brasileiro e global. Especialmente se a meta da empresa, de tokenizar 1 milhão de toneladas de grãos ao longo de 2023 - ou cerca de 0,05% da produção total global - for de fato alcançada.

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